‘O Papa Francisco
nos convida a uma leitura não de todo o texto da Amoris Laetitia de uma vez, mas
de uma leitura saboreada parte a parte, mostrando que a Família é uma
oportunidade e não um problema. Ao fazer esta afirmação, o Cardeal Arcebispo do
Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, oferece algumas chaves de leitura para
a melhor compreensão da nova Exortação do Papa Francisco, publicada nesta
sexta-feira (08/04).
A interpretação de
Dom Orani traz fundamentações bíblicas e contempla os nove capítulos da
Exortação : abaixo, a íntegra do texto.
***
Cap. I – tem apoio
fundamentos e luzes Bíblicas (À Luz da Palavra) 08-30
Tu e a tua esposa
(Gn) 09-13
Os teus filhos
como brotos de oliveira (Sl 128/127,3) 14-18
Um rastro de
sofrimento e sangue (fratricida ...) 19-22
O fruto do teu
próprio trabalho (pai é trabalhador... ) 23-26
A ternura do
abraço (‘intimidade delicada e carinhosa
entre a mãe e o seu bebê, um recém-nascido que dorme nos braços de sua mãe
depois de ter sido amamentado’) 27-30
Cap. II – conjuntura
atual familiar (Realidade e os desafios das famílias) 31-57
A situação atual
da família (Caminhos Pastorais; descartável; sistema econômico excludente;
problema de ter uma casa e de ter um emprego; idosos [eutanásia e suicídio
assistido]; famílias na miserabilidade) 32-49
Alguns desafios
(função educativa; ansiedade com futuro, mas não vivem o presente; insegurança
profissional, econômico e medo relacional; toxicodependência [álcool, jogos de
azar]; violência familiar como agressividade social; 52 [variedades situações
familiares/uniões de fato, pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao
matrimônio]; poligamia prática; desconstrução jurídica familiar; força da
família ensinar a amar; violência verbal, física e sexual contra a mulher;
mutilação genital; aluguel de ventres; dignidade entre o homem e mulher;
ausência do pai marca gravemente a vida familiar, a educação dos filhos e a sua
inserção na sociedade; gender = nega a diferença e a reciprocidade natural de
homem e mulher [não esquecer que ‘sexo
biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender), podem-se distinguir,
mas não separar’]) 50-57
Cap. III – Recorda
elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre matrimônio e a família (O Olhar
Fixo em Jesus : A Vocação da Família) (‘olhou para as mulheres e os homens que
encontrou com amor e ternura, acompanhando os seus passos com verdade,
paciência e misericórdia, ao anunciar as exigências do Reino de Deus’). 58-88
Jesus recupera e
realiza plenamente o projeto divino 61-66
A família nos
documentos da Igreja 67-70
O Sacramento do
Matrimônio 71-75
Sementes do Verbo
e situações imperfeitas 76-79
A transmissão da
vida e a educação dos filhos 80-85
A família e a
Igreja 86-88
Cap. IV – Esposos identificaram (O Amor no Matrimônio) (amor hoje
está bem desfigurado e necessita precisar o real sentido 1Cor 13,2-3). 89-164
O nosso amor
cotidiano (1Cor 13,4-7) 90
Paciência
(macrothymei qualidade do Deus da Aliança, que convida a imitá-Lo também na
vida familiar) 91-92
Atitude de serviço
(jrestéuetai única vez que aparece em toda a Bíblia –, que deriva de jrestós
(pessoa boa, que mostra a sua bondade nas ações) prestável) 93-94
Curando a inveja
(zeloi (ciúme ou inveja). Significa que, no amor, não há lugar para sentir
desgosto pelo bem do outro (cf. At 7,9; 17,5). A inveja é uma tristeza pelo bem
alheio) 95-96
Sem ser arrogante
nem se orgulhar (perpereuetai, que indica vanglória, desejo de se mostrar
superior para impressionar os outros com atitude pedante e um pouco agressiva.
physioutai – é muito semelhante, indicando que o amor não é arrogante) 97-98
Amabilidade (Amar
é também tornar-se amável, e nisto está o sentido do termo asjemonéi. Significa
que o amor não age rudemente, não atua de forma inconveniente, não se mostra
duro no trato) 99-100
Desprendimento
(hino à caridade afirma que o amor ‘não
procura o seu próprio interesse’, ou ‘não
procura o que é seu’. ‘Não cuide
somente do que é seu, mas também do que é dos outros’ (Fl 2,4).) 101-102
Sem violência
interior (paroxýnetai – que diz respeito a uma reação interior de indignação
provocada por algo exterior. Trata-se de uma violência interna, uma irritação
recôndita que nos põe à defesa perante os outros, como se fossem inimigos
molestos a evitar. Se tivermos de lutar contra um mal, façamo-lo; mas sempre
digamos ‘não’ à violência interior.)
103-104
Perdão (logízetai
to kakón significa que se ‘tem em conta o
mal’, ‘trá-lo gravado’, ou seja,
está ressentido. Nenhuma família ignora como o egoísmo, o desacordo, as
tensões, os conflitos agridem, de forma violenta e às vezes mortal, a comunhão :
daqui as múltiplas e variadas formas de divisão da vida familiar. Se aceitamos
que o amor de Deus é incondicional, que o carinho do Pai não se deve comprar
nem pagar, então poderemos amar sem limites, perdoar aos outros, ainda que
tenham sido injustos para conosco.) 105-108
Alegrar-se com os
outros (jairei epi te adikía indica algo de negativo arraigado no segredo do
coração da pessoa. sygjairei te alétheia – rejubila com a verdade. alegra-se
com o bem do outro, quando se reconhece a sua dignidade, quando se apreciam as
suas capacidades e as suas boas obras. A família deve ser sempre o lugar em que
uma pessoa que conquista algo de bom na vida, sabe que vão com ela se alegrar.)
109-110
Tudo desculpa (‘Tudo’. ‘tudo desculpa – panta stégei’. É diferente de ‘não ter em conta o mal’, porque este termo tem a ver com o uso da
língua; pode significar ‘guardar silêncio’
a propósito do mal que possa haver em outra pessoa. Os esposos, que se amam e
se pertencem, falam bem um do outro, procuram mostrar mais o lado bom do
cônjuge do que as suas fraquezas e erros. O amor convive com a imperfeição,
desculpa-a e sabe guardar silêncio perante os limites do ser amado.) 111-113
Confia (O amor
convive com a imperfeição, desculpa-a e sabe guardar silêncio perante os
limites do ser amado. O amor confia, deixa em liberdade, renuncia a controlar
tudo, a possuir, a dominar. Família, onde reina uma confiança sólida, carinhosa
e, aconteça o que acontecer, sempre se volta a confiar, permite o florescimento
da verdadeira identidade dos seus membros, fazendo com que se rejeite
espontaneamente o engano, a falsidade e a mentira.) 114-115
Espera (Panta
elpízei : não desespera do futuro. A pessoa, com todas as suas fraquezas, é
chamada à plenitude do Céu.) 116-117
Tudo suporta
(Panta hypoménei significa que suporta, com espírito positivo, todas as
contrariedades. É amor que apesar de tudo não desiste, mesmo que todo o
contexto convide a outra coisa. Na vida familiar, é preciso cultivar esta força
do amor, que permite lutar contra o mal que a ameaça.) 118-119
Crescer na
caridade conjugal (‘O Espírito, que o
Senhor infunde, dá um coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se
amarem como Cristo nos amou. O amor conjugal atinge assim aquela plenitude para
a qual está interiormente ordenado : a caridade conjugal’ FC, 13. O
matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós.) 120-122
A vida toda, tudo
em comum (Depois do amor que nos une a Deus, o amor conjugal é a ‘amizade maior’. Partilha-se tudo,
incluindo a sexualidade, sempre no mútuo respeito.) 123-125
Alegria e beleza
(No matrimônio, convém cuidar da alegria do amor. A alegria matrimonial, que
pode ser vivenciada mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o
matrimônio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e
repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de
aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a
cuidarem um do outro : ‘prestam-se
recíproca ajuda e serviço’. O amor de amizade chama-se ‘caridade’, quando capta e aprecia o ‘valor sublime’ que tem o outro.) 126-130
Casar-se por amor
(Quero dizer aos jovens que nada disto é prejudicado, quando o amor assume a
modalidade da instituição matrimonial.) 131-132
Amor que se
manifesta e cresce (O amor de amizade unifica todos os aspectos da vida
matrimonial e ajuda os membros da família a avançarem em todas as suas fases.
Na família, ‘é necessário usar três
palavras : com licença, obrigado, desculpa. Três palavras-chave’. É mais
saudável aceitar com realismo os limites, os desafios e as imperfeições, e dar
ouvidos ao apelo para crescer juntos, fazer amadurecer o amor e cultivar a
solidez da união, aconteça o que acontecer.) 133-135
O diálogo
(modalidade privilegiada e indispensável para viver, exprimir e maturar o amor
na vida matrimonial e familiar. Reservar tempo, tempo de qualidade, que permita
escutar, com paciência e atenção, até que o outro tenha manifestado tudo o que
precisava comunicar. Isto requer a ascese de não começar a falar antes do
momento apropriado. Desenvolver o hábito de dar real importância ao outro. Ter
gestos de solicitude pelo outro e demonstrações de carinho. O amor supera as
piores barreiras. É preciso ter algo para se dizer. Quando cada um dos cônjuges
não cultiva o próprio espírito e não há uma variedade de relações com outras
pessoas, a vida familiar torna-se endogâmica e o diálogo fica empobrecido.)
136-141
Amor apaixonado
(Deve haver qualquer motivo para um amor sem prazer nem paixão se revelar
insuficiente a simbolizar a união do coração humano com Deus.) 142
O mundo das
emoções (Desejos, sentimentos, emoções (os clássicos os chamavam de ‘paixões’) ocupam um lugar importante no
matrimônio. Estas manifestações da sua sensibilidade mostram até que ponto
estava aberto aos outros o seu coração humano. Experimentar uma emoção não é,
em si mesmo, algo moralmente bom nem mau. Se uma paixão acompanha o ato livre,
pode manifestar a profundidade dessa opção. O amor matrimonial leva a procurar
que toda a vida emotiva se torne um bem para a família e esteja a serviço da
vida em comum.) 143-146
Deus ama a alegria
dos seus filhos (caminho pedagógico, um processo que inclui renúncias : é uma
convicção da Igreja, que muitas vezes foi rejeitada pelo mundo como se fosse
inimiga da felicidade humana. É necessária a educação da emotividade e do
instinto e, para isso, às vezes torna-se indispensável impormo-nos algum
limite. Deus ama a alegria do ser humano, pois Ele criou tudo ‘para nosso bom uso’ (1Tm 6,17). Deixemos
brotar a alegria à vista da sua ternura, quando nos propõe.) 147-149
A dimensão erótica
do amor (Tudo isto nos leva a falar da vida sexual dos esposos. O próprio Deus
criou a sexualidade, que é um presente maravilhoso para as suas criaturas.
Veja-se aqui a Teologia do Corpo de São João Paulo II : ‘o coração humano torna-se participante, por assim dizer, de outra
espontaneidade’.) 150-152
Violência e
manipulação (Não podemos ignorar que muitas vezes a sexualidade se
despersonaliza e enche de patologias, de modo que ‘se torna cada vez mais
ocasião e instrumento de afirmação do próprio eu e de satisfação egoísta dos
próprios desejos e instintos’. Nunca é demais lembrar que, mesmo no matrimônio,
a sexualidade pode tornar-se fonte de sofrimento e manipulação. Por isso,
devemos reafirmar, claramente, que ‘um ato conjugal imposto ao próprio cônjuge,
sem consideração pelas suas condições e pelos seus desejos legítimos, não é um
verdadeiro ato de amor e nega, por isso mesmo, uma exigência de reta ordem
moral, nas relações entre os esposos’. importante deixar claro a rejeição de
toda a forma de submissão sexual. a rejeição das distorções da sexualidade e do
erotismo nunca deveria levar-nos ao seu desprezo nem ao seu descuido. O ideal
do matrimônio não pode configurar-se apenas como uma doação generosa e
sacrificada, onde cada um renuncia a qualquer necessidade pessoal e se preocupa
apenas por fazer o bem ao outro, sem satisfação alguma.) 153-157
Matrimônio e
virgindade (A virgindade é uma forma de amor. A virgindade tem o valor
simbólico do amor que não necessita possuir o outro, refletindo assim a
liberdade do Reino dos Céus. É um convite para os esposos viverem o seu amor
conjugal na perspectiva do amor definitivo a Cristo, como um caminho comum rumo
à plenitude do Reino. O celibato corre o risco de ser uma cômoda solidão, que
dá liberdade para se mover autonomamente, mudar de local, tarefa e opção,
dispor do seu próprio dinheiro, conviver com as mais variadas pessoas segundo a
atração do momento.) 158-162
A transformação do
amor (amor, que nos prometemos, supera toda a emoção, sentimento ou estado de
ânimo, embora possa incluí-los. O vínculo encontra novas modalidades e exige a
decisão de reatá-lo repetidamente; e não só para conservá-la, mas para fazê-lo
crescer. É o caminho de se construir dia após dia, mas nada disto é possível,
se não se invoca o Espírito Santo, se não se clama todos os dias pedindo a sua
graça.) 163-164
Cap. V – Esposos identificaram
(O Amor que se torna fecundo) (O amor sempre dá vida.) 165-198
Acolher uma nova
vida (A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida
que chega como um presente de Deus. As famílias numerosas são uma alegria para
a Igreja.) 166-167
O amor na
expectativa própria da gravidez (A gravidez é um período difícil, mas também um
tempo maravilhoso. A mulher grávida pode participar deste projeto de Deus,
sonhando o seu filho. A cada mulher grávida quero pedir afetuosamente : cuida
da tua alegria, que nada te tire a alegria interior da maternidade. Tua criança
merece a tua alegria...) 168-171
Amor de mãe e de
pai (Toda a criança tem direito a receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos
necessários para o seu amadurecimento íntegro e harmonioso.) 172-177
Fecundidade
alargada (mesmo que faltem os filhos, tantas vezes ardentemente desejados, o
matrimônio conserva o seu valor e indissolubilidade, como comunidade e comunhão
de toda a vida. A adoção é um caminho para realizar a maternidade e a
paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar os que não podem
ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está privado
de um ambiente familiar adequado.) 178-184
Distinguir o Corpo
(A Eucaristia exige a integração no único corpo eclesial.) 185-186
A vida na família
em sentido amplo (O núcleo familiar restrito não deveria isolar-se da família
alargada, onde estão os pais, os tios, os primos e até os vizinhos.) 187
Ser filho (Não faz
bem a ninguém perder a consciência de ser filho. Em cada pessoa, ‘mesmo quando se torna adulta ou idosa,
quando passa também a ser progenitora ou desempenha funções de
responsabilidade, por baixo de tudo isso permanece a identidade de filho. Todos
somos filhos’.) 188-190
Os idosos (‘Não me rejeites no tempo da velhice, não me
abandones quando diminuem minhas forças’ (Sl 71/70,9). É o brado do idoso,
que teme o esquecimento e o desprezo. Os idosos ajudam a perceber ‘a continuidade das gerações’, com ‘o carisma de lançar uma ponte’ entre
elas.)
191-193
Ser irmão (A
relação entre os irmãos aprofunda-se com o passar do tempo, e ‘o laço de fraternidade que se forma na
família entre os filhos, quando se verifica em um clima de educação para a
abertura aos outros, é uma grande escola de liberdade e de paz’. Em
família, entre irmãos, aprendemos a convivência humana (…). Talvez nem sempre
estejamos conscientes disto, mas é precisamente a família que introduz a
fraternidade no mundo.) 194-195
Um coração grande
(‘o amor entre o homem e a mulher no
matrimônio e, de forma derivada e ampla, o amor entre os membros da mesma
família – entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre parentes e
familiares – é animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que
leva a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma
da comunidade conjugal e familiar’) 196-198
Cap.VI – Agentes
Pastorais (Algumas Perspectivas Pastorais) (As diferentes comunidades é que
deverão elaborar propostas mais práticas e eficazes, que tenham em conta tanto
a doutrina da Igreja como as necessidades e desafios locais.) 199-285
Anunciar hoje o
Evangelho da família (fazer-lhes experimentar que o Evangelho da família é
alegria que ‘enche o coração e a vida
inteira’, porque, em Cristo, somos ‘libertados
do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento’ (EG, n. 1). ‘Por isso exige-se a toda a Igreja uma
conversão missionária : é preciso não se contentar com um anúncio puramente
teórico e desligado dos problemas reais das pessoas’. ‘A principal contribuição pastoral familiar é oferecida pela paróquia,
que é família de famílias, onde se harmonizam as contribuições de pequenas
comunidades, movimentos e associações eclesiais’ Os seminaristas deveriam
ter acesso a uma formação interdisciplinar mais ampla sobre namoro e
matrimônio, não se limitando à Doutrina. Além disso, a formação nem sempre lhes
permite desenvolver o seu mundo psicoafetivo. ‘A presença dos leigos e das famílias, em particular a presença
feminina, na formação sacerdotal, favorece o apreço pela variedade e
complementaridade das diversas vocações na Igreja’) 200-204
Guiar os noivos no
caminho de preparação para o matrimônio (é preciso ajudar os jovens a descobrir
o valor e a riqueza do matrimônio. ‘A
complexa realidade social e os desafios, que a família é chamada a enfrentar
atualmente, exigem um empenhamento maior de toda a comunidade cristã na
preparação dos noivos para o matrimônio. Convido as comunidades cristãs a
reconhecerem que é um bem para elas mesmas acompanhar o caminho de amor dos
noivos. A preparação dos que já formalizaram o noivado, quando a comunidade
paroquial consegue acompanhá-los com bom período de antecipação, deve dar-lhes
também a possibilidade de individuar incompatibilidades e riscos. Tanto a
preparação próxima como o acompanhamento mais prolongado devem procurar que os
noivos não considerem o matrimônio como o fim do caminho, mas o assumam como
uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de
atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis’.) 205-211
A preparação da
celebração (A preparação próxima do matrimônio tende a concentrar-se nos
convites, na roupa, na festa com os seus inumeráveis detalhes que consomem
tanto os recursos econômicos como as energias e a alegria. Na preparação mais
imediata, é importante esclarecer os noivos para viverem com grande
profundidade a celebração litúrgica, ajudando-os a compreender e viver o
significado de cada gesto.) 212-216
Acompanhamento nos
primeiros anos da vida matrimonial (Temos de reconhecer como um grande valor
que se compreenda que o matrimônio é uma questão de amor : só se podem casar
aqueles que se escolhem livremente e se amam. Lembro-me de um refrão que dizia
que a água estagnada corrompe-se, estraga-se. O mesmo acontece com a vida do
amor nos primeiros anos do matrimônio quando fica estagnada, cessa de mover-se,
perde aquela inquietude sadia que a faz avançar. Uma das causas que leva a
rupturas matrimoniais é ter expectativas demasiado altas sobre a vida conjugal.
Quando se descobre a realidade mais limitada e problemática do que se sonhara,
a solução não é pensar imediata e irresponsavelmente na separação, mas assumir
o matrimônio como um caminho de amadurecimento, onde cada um dos cônjuges é um
instrumento de Deus para fazer crescer o outro.) 217-222
Alguns recursos
(Os primeiros anos de matrimônio são um período vital e delicado, durante o
qual os cônjuges crescem na consciência dos desafios e do significado do
matrimônio. Daí a necessidade de um acompanhamento pastoral que continue depois
da celebração do sacramento (cf. FC, parte III). Este caminho é uma questão de
tempo. O amor precisa de tempo disponível e gratuito, colocando outras coisas
em segundo lugar.) 223-230
Iluminar crises,
angústias e dificuldades (Quando o vinho envelhece com esta experiência do
caminho, então aparece, floresce em toda a sua plenitude a fidelidade dos
momentos insignificantes da vida. É a fidelidade da espera e da paciência. Esta
fidelidade, cheia de sacrifícios e alegrias, de certo modo vai florescendo na
idade em que tudo fica ‘sazonado’ e
os olhos brilham com a contemplação dos filhos de seus filhos.) 231
O desafio das
crises (A história de uma família está marcada por crises de todo o gênero, que
são parte também da sua dramática beleza. É preciso ajudar a descobrir que uma
crise superada não leva a uma relação menos intensa, mas a melhorar, sedimentar
e maturar o vinho da união. Não se vive juntos para ser cada vez menos feliz,
mas para aprender a ser feliz de maneira nova, a partir das possibilidades que
abre uma nova etapa. Perante o desafio de uma crise, a reação imediata é
resistir, pôr-se à defesa por sentir que escapa ao próprio controle, por
mostrar a insuficiência da própria maneira de viver, e isto incomoda. Há crises
comuns que costumam verificar-se em todos os matrimônios, como a crise ao
início quando é preciso aprender a conciliar as diferenças e a desligar-se dos
pais; ou a crise da chegada do filho, com os seus novos desafios emotivos. A
estas crises, vêm juntar-se as crises pessoais com incidência no casal,
relacionadas com dificuldades econômicas, laborais, afetivas, sociais, espirituais)
232-238
Velhas feridas (É
compreensível que, nas famílias, haja muitas dificuldades, quando um dos seus
membros não amadureceu à sua maneira de relacionar-se, porque não curou feridas
de alguma etapa da sua vida. Muitos terminam a sua infância sem nunca terem se
sentido amados incondicionalmente, e isto compromete a sua capacidade de
confiar e entregar-se. Por mais evidente que possa parecer que toda a culpa
seja do outro, nunca é possível superar uma crise esperando que apenas o outro
mude. É preciso também questionar a si mesmo sobre as coisas que poderia
pessoalmente amadurecer ou curar para favorecer a superação do conflito.)
239-240
Acompanhar depois
das rupturas e dos divórcios (Em alguns casos, a consideração da própria
dignidade e do bem dos filhos exige pôr um limite firme às pretensões
excessivas do outro, a uma grande injustiça, à violência ou a uma falta de
respeito que se tornou crônica. É preciso reconhecer que ‘há casos em que a
separação é inevitável’. ‘É indispensável
um discernimento particular para acompanhar pastoralmente os separados, os
divorciados, os abandonados. Tem-se de acolher e valorizar sobretudo a angústia
daqueles que sofreram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou
então foram obrigados, pelos maus-tratos do cônjuge, a romper a convivência.
Quanto às pessoas divorciadas que vivem em uma nova união, é importante
fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que ‘não estão excomungadas’ nem
são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial. sublinhou a
necessidade de tornar mais acessíveis, ágeis e possivelmente gratuitos os
procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade’. A lentidão dos
processos irrita e cansa as pessoas. A nossa tarefa pastoral mais importante
relativamente às famílias é reforçar o amor e ajudar a curar as feridas, para
podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo.) 241-246
Algumas situações
complexas (‘procure-se (…) uma
colaboração cordial entre o ministro católico e o não católico, desde o momento
da preparação para o matrimônio e para as núpcias’ (FC, n. 78). A respeito
da partilha eucarística, recorda-se que ‘a decisão de admitir ou não a parte
não católica do matrimônio à comunhão eucarística deve ser tomada em
conformidade com as normas gerais existentes na matéria, tanto para os cristãos
orientais como para os outros cristãos, e tendo presente esta situação
particular, ou seja, que recebem o sacramento do matrimônio cristão dois
cristãos batizados. Embora os esposos de um matrimônio misto tenham em comum os
sacramentos do Batismo e do Matrimônio, a partilha da Eucaristia, não pode
deixar de ser extraordinária e, contudo, devem ser observadas as disposições
indicadas’ (Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos,
Diretório para a Aplicação dos Princípios e das Normas sobre o Ecumenismo, 25
de março de 1993, 159-160).) 247-252
Quando a morte
crava o seu aguilhão (a vida familiar vê-se desafiada pela morte de um ente
querido. Não podemos deixar de oferecer a luz da fé para acompanhar as famílias
que sofrem em tais momentos. Não gastemos energias, detendo-nos anos e anos no
passado. Quanto melhor vivermos nesta terra, tanto maior felicidade poderemos
partilhar com os nossos entes queridos no céu. Quanto mais conseguirmos amadurecer
e crescer, tanto mais poderemos levar-lhes coisas belas para o banquete
celeste.) 253-258
Cap. VII – (Reforçar a
Educação dos Filhos) (função educativa das famílias é tão importante e se
tornou muito complexa) 259-290
Onde estão os
filhos? (A família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento,
guia, embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos. A
obsessão, porém, não é educativa; e também não é possível ter o controle de
todas as situações em que um filho poderá chegar a encontrar-se. Vale aqui o
princípio de que ‘o tempo é superior ao
espaço. Se a maturidade fosse apenas o desenvolvimento de algo já contido no
código genético, quase nada poderíamos fazer. Mas não é! A prudência, o reto
juízo e a sensatez não dependem de fatores puramente quantitativos de
crescimento, mas de toda uma cadeia de elementos que se sintetizam no íntimo da
pessoa; mais exatamente, no centro da sua liberdade’.) 260-262
A formação ética
dos filhos (Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de
base aos seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar
totalmente. A tarefa dos pais inclui uma educação da vontade e um
desenvolvimento de hábitos bons e tendências afetivas para o bem. Isto implica
que se apresentem como desejáveis os comportamentos a aprender e as tendências
a fazer maturar. É necessário maturar hábitos. A liberdade é algo de grandioso,
mas podemos perdê-la.) 263-267
O valor da sanção
como estímulo (De igual modo, é indispensável sensibilizar a criança e o
adolescente para se darem conta de que as más ações têm consequências. É
preciso despertar a capacidade de colocar-se no lugar do outro e sentir pesar
pelo seu sofrimento originado pelo mal que lhe fez. A correção é um estímulo
quando, ao mesmo tempo, se apreciam e reconhecem os esforços e quando o filho
descobre que os seus pais conservam viva uma paciente confiança.) 268-270
Realismo paciente
(A educação moral implica pedir a uma criança ou a um jovem apenas as coisas
que não representem, para eles, um sacrifício desproporcionado, exigir-lhes
apenas a dose de esforço que não provoque ressentimento ou ações puramente
forçadas.) 271-273
A vida familiar
como contexto educativo (A família é a primeira escola dos valores humanos, na
qual se aprende o bom uso da liberdade. Há inclinações maturadas na infância,
que impregnam o íntimo de uma pessoa e permanecem toda a vida como uma
inclinação favorável a um valor ou como uma rejeição espontânea de certos
comportamentos) 274-279
Sim à educação
sexual (necessidade de ‘uma educação
sexual positiva e prudente’ oferecida às crianças e adolescentes ‘à medida que vão crescendo’ e ‘tendo em conta os progressos da psicologia,
pedagogia e didática’.) 280-286
Transmitir a fé (A
educação dos filhos deve estar marcada por um percurso de transmissão da fé,
que se vê dificultado pelo estilo de vida atual, pelos horários de trabalho,
pela complexidade do mundo atual, onde muitos têm um ritmo frenético para poder
sobreviver.) 287-290
Cap. VIII – Convite a
todos (Acompanhar, Discernir e Integrar a Fragilidade) (toda a ruptura do
vínculo matrimonial ‘é contra a vontade de Deus, está consciente também da
fragilidade de muitos dos seus filhos’. Não esqueçamos que, muitas vezes, o
trabalho da Igreja é semelhante ao de um hospital de campanha.) 291-312
A gradualidade na
pastoral (quando a união atinge uma notável estabilidade através de um vínculo
público e se caracteriza por um afeto profundo, responsabilidade para com a
prole, capacidade de superar as provas, pode ser vista como uma ocasião a
acompanhar na sua evolução para o sacramento do matrimônio. ‘A escolha do matrimônio civil ou, em
diversos casos, da simples convivência, muitas vezes é motivada não por
preconceitos nem por resistências no que se refere à união sacramental, mas por
situações culturais ou ocasionais’.) 293-295
O discernimento
das situações chamadas ‘irregulares’
(‘Duas lógicas percorrem toda a história
da Igreja : marginalizar e reintegrar. (...) O caminho da Igreja, desde o
Concílio de Jerusalém em diante, é sempre o de Jesus : o caminho da
misericórdia e da integração. (...) O caminho da Igreja é o de não condenar
eternamente ninguém; derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que
a pedem com coração sincero (...). Porque a caridade verdadeira é sempre
imerecida, incondicional e gratuita’.326 Por isso, ‘é preciso evitar juízos que não levam em consideração a complexidade
das diversas situações e é necessário prestar atenção ao modo como as pessoas
vivem e sofrem por causa da sua condição’. Trata-se de integrar a todos,
deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na
comunidade eclesial, para que se sinta objeto de uma misericórdia ‘imerecida, incondicional e gratuita’. Os
divorciados que vivem em uma nova união, por exemplo, podem encontrar-se em
situações muito diferentes, que não devem ser catalogadas ou fechadas em
afirmações demasiado rígidas, sem deixar espaço para um adequado discernimento
pessoal e pastoral.) 296-300
As circunstâncias
atenuantes no discernimento pastoral (Para se entender adequadamente por que é
possível e necessário um discernimento especial em algumas situações chamadas ‘irregulares’, há uma questão que sempre
se deve levar em consideração, para nunca se pensar que se pretende diminuir as
exigências do Evangelho. A Igreja possui uma sólida reflexão sobre os
condicionamentos e as circunstâncias atenuantes. Por isso, já não é possível
dizer que todos os que estão em uma situação chamada ‘irregular’ vivem em estado de pecado mortal, privados da graça
santificante.) 301-303
As normas e o
discernimento (É mesquinho deter-se a considerar apenas se o agir de uma pessoa
corresponde ou não a uma lei ou norma geral, porque isto não basta para
discernir e assegurar uma plena fidelidade a Deus na existência concreta de um
ser humano. Peço encarecidamente que nos lembremos sempre de algo que ensina
São Tomás de Aquino e aprendamos a assimilá-lo no discernimento pastoral : ‘Embora nos princípios gerais tenhamos o
caráter necessário, todavia à medida que se abordam os casos particulares,
aumenta a indeterminação (…).A pastoral concreta dos ministros e das
comunidades não pode deixar de incorporar esta realidade’.) 304-306
A lógica da
misericórdia pastora (Para evitar qualquer interpretação tendenciosa, lembro
que, de modo algum, deve a Igreja renunciar a propor o ideal pleno do
matrimônio, o projeto de Deus em toda a sua grandeza : ‘É preciso encorajar os jovens batizados para não hesitarem perante a
riqueza que o sacramento do matrimônio oferece aos seus projetos de amor, com a
força do apoio que recebem da graça de Cristo e da possibilidade de participar
plenamente na vida da Igreja’. Jesus ‘espera
que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que
permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos
verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos
a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre
maravilhosamente’. É verdade que, às vezes, ‘agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a
Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a
sua vida fadigosa’. ) 307-312
Cap. IX –
(Espiritualidade Conjugal e Familiar) (amor com matizes diferentes. Descreve
brevissimamente características fundamentais da espiritualidade específica e o
desenvolver nas relações da vida familiar) 313-325
Espiritualidade da
comunhão sobrenatural (viver na graça é ter e viver na presença de Deus e isso
acontece em todos os momentos da vida, daí a comunhão familiar bem vivida é um
caminho de santificação) 314-316
Unidos em oração à
luz da Páscoa (unificar-se em Cristo a família e rezar, orar em família)
317-318
Espiritualidade do
amor exclusivo e libertador (no matrimônio o pertencer a uma única pessoa. A
espiritualidade ajuda a ‘desiludir-se’
do outro, despojamento interior) 319-320
Espiritualidade da
solicitude, da consolação e do estímulo (Deus chama os casais a gerar e cuidar!
A vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus e cada um é para o
outro uma permanente provocação do Espírito. Toda a vida da família é um
pastoreio misericordioso) 321-325
Oração à Sagrada
Família
Jesus, Maria e
José, em Vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor, confiantes, a Vós nos
consagramos. Sagrada Família de Nazaré, ornai também as nossas famílias lugares
de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas
igrejas domésticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais haja nas famílias
episódios de violência, de fechamento e divisão; e quem tiver sido ferido ou
escandalizado seja rapidamente consolado e curado. Sagrada Família de Nazaré,
fazei que todos nos tornemos conscientes do caráter sagrado e inviolável da
família, da sua beleza no projeto de Deus. Jesus, Maria e José, ouvi-nos e
acolhei a nossa súplica. Amém!
Observações gerais :
Todos os capítulos
tem uma breve introdução. São 9 capítulos divididos em 325 parágrafos.
Capítulos 1 e 2 -
são introdutórios, 1º visão bíblica, 2º visão antropológica, sociológica
(situacional e desafiante)
Capítulo 3 - visão
doutrinal
Capítulos 4 e 5 -
questão do amor no matrimônio com características práticas paulinas; o fruto do
amor conjugal são os filhos gerados no amor e que dão sentido a vida e acolhem
a nova vida que geraram
Capitulo 6 -
pistas pastorais vindas de experiências já realizadas
Capítulo 7 -
Educação dos filhos
Capítulo 8 - ADIF
- prática não só de pastoralidade, mas de vivencialidade, na ótica do
discernimento e da misericórdia
Capítulo 9 - trata
da espiritualidade conjugal e espiritualidade familiar.
A novidade do
texto está na forma como é apresentado, mesmo sendo longo, é atraente e como
sugestão papal deve ser lido por blocos e por interesses que facilita a
absorção e compreensibilidade do mesmo.
Pode-se pensar em
grupos de estudos e/ou reflexão familiar, sobre determinado trecho.
O Capitulo 8 que
abreviamos como ADIF é a realidade de todos.
Há uma riqueza
profunda sim no documento, mas não esperem que tenham soluções aos problemas,
mas sim pistas que levaram os pastores e seus colaboradores a pensarem juntos e
acolherem quem está ou se sente apartado do seio da comunhão, não só
eucarística, mas vivencial da Igreja. A Igreja acolhe a todos e como na Santa
Missa tem um valor infinito e acolhe todas as intenções possíveis e de cada um.
Nenhuma família é
perfeita e pronta, mas somos chamados a construir juntos num amadurecimento
como um verdadeiro processo que nos leva a capacidade de amar. Tenhamos a
família de Nazaré que teve seus percalços e dificuldades, mas que não desistiu
de viver os laços da ternura e do amor, do abraço fraterno e reconfortante que
nos faz reerguer os olhos e continuar a caminhada. Sublinhemos a frase do Papa ‘Não percamos a esperança por causa dos
nossos limites’.
Agradecemos ao
Papa Francisco por mais este documento que reflete o momento atual da história
e as preocupações da Igreja em propor sempre a beleza do matrimônio e, ao mesmo
tempo, indo ao encontro, neste ano Santo da Misericórdia, a tantas outras
situações que são consequências do momento atual. Tenho certeza de que a
leitura tranquila deste documento será reconfortador para todos. Que produza
muitos frutos para todos.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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