*Artigo
de Jessica Cugini
‘Chamam-na «a senhora da água» por ela, duas semanas
por mês, percorrer centenas de quilometros para distribuir o ouro branco a 250
famílias que vivem no Novo México, no Leste dos EUA. Uma zona conhecida por ser
habitada por uma população de nativos americanos, a mais numerosa : os Navajos.
As mulheres e os
homens desta etnia estão concentrados naquela que é a maior reserva índia dos
Estados Unidos. É aqui que vivem os Navajos, em habitações rústicas onde 40 por
cento das 73 mil pessoas estão desprovidas de energia eléctrica e de água
potável. Uma zona muitas vezes árida, em que todos os anos se tem de enfrentar
um desconforto considerável : a falta de água para beber, cozinhar e tomar
banho. É neste contexto que trabalha «a
senhora da água», Darlene Arviso, uma mulher de 51 anos, de longos cabelos
grisalhos, viúva e já avó. Também ela descendente desta gente da qual não deixa
de cuidar.
Darlene, desde há
sete anos, durante cinco dias por semana, duas vezes por mês, percorre centenas
de quilometros a bordo de um caminhão amarelo
posto à disposição pela missão índia de São Boaventura, fundada pelos
Franciscanos espanhóis no longínquo 1782, uma realidade que hoje procura
alcançar e dar assistência a todas aquelas famílias que habitam nas zonas
isoladas. Provavelmente, se não fosse ela a prover à distribuição do ouro
branco entre os Navajos, haveria outra pessoa a levar a cabo esta tarefa, mas
de fato esta mulher de voz serena escolheu uma espécie de duplo trabalho para
ajudar a sua gente.
Está habituada a
conduzir, pois é motorista profissional de uma carrinha escolar. Mas duas vezes
por mês, durante dez dias, depois de deixar os «seus» meninos e meninas na escola, muda de meio de transporte,
senta-se ao volante de uma furgoneta amarela da missão e começa a distribuir às
250 famílias navajo que vivem nas zonas mais dispersas da reserva dois bidões
de plástico por família, contentores de mais de 200 litros cada um. Realmente,
não são muito 400 litros para um mês inteiro e fazer face às necessidades
diárias, mas se não fosse a determinação de Darlene, já considerada uma heroína
entre esta gente, os Navajos nem isso teriam.
Além disso,
Darlene não se limita a levar a água, muitas vezes acontece-lhe ter de ouvir as
histórias das mulheres que a abordam, partilhar com estas famílias o
desconforto que deriva das dificuldades de viver numa reserva onde se sentem
afastadas de tudo e de todos. Muitas vezes, Darlene, antes de seguir para outro
núcleo familiar, deixa o seu número de telemóvel de modo que estas mulheres a
possam contatar em caso de outras necessidades. De fato, não é raro acontecer
pedirem-lhe alimentos, cobertores ou medicamentos, e ela procura consegui-los,
dirigindo o pedido à missão ou às pessoas que conhece na cidade.
A entrega da água
é apenas uma das suas atividades, que decorrem da escuta e do saber-se útil aos
outros. Nos dias em que sabe que tem de ir ter com as famílias dos nativos da
América, a jornada da «senhora da água»
começa muito cedo, às cinco da manhã, carregando de 3500 litros de água o
camião amarelo. Depois de ter acompanhado à escola as crianças na sua carrinha
escolar, senta-se ao volante do camião e percorre as centenas de quilometros
para chegar às várias habitações dos Navajos, para regressar depois, na parte
da tarde, à escola, recolher as crianças, levá-las a casa das respectivas
famílias, e seguir finalmente para junto dos seus filhos e netos, para preparar
o jantar. Até ao dia seguinte, quando recomeçará tudo de novo.
Os Navajos
Os Navajos fazem
parte das populações nativas americanas. Hoje vivem numa grande reserva que se
estende entre o Arizona Setentrional, o Utah e o Novo México, uma área muito
vasta. O nome deste povo altivo deriva da língua tewa e significa «campo cultivado num pequeno curso de água».
Os Navajos atualmente
são o povo mais numeroso de entre os nativos da América, pertencem à grande
nação dos Apaches e distinguem-se por viver em clãs fundados sobre bases
matrilineares : eram os homens que iam viver com a família da esposa e não o
contrário.
Cada grupo
considerava-se uma nação em si, viviam portanto dispersos sobre o território em
aglomerados familiares extensos que, contrariamente ao que se possa pensar
depois de ter visto os muitos filmes sobre a época western, recusava a guerra.
População
inicialmente seminômade, vivem hoje de animais, entre ovelhas e cavalos,
vendendo produtos artesanais e mostrando as belezas do seu território aos
turistas cada vez mais numerosos.
A dos navajos foi
uma das últimas nações de nativos americanos a render-se ao Governo. Em 1868 os
Navajos são transferidos para a reserva onde atualmente vivem, a Navajo Nation,
que goza de autonomia administrativa, conservando uma forte identidade
ameríndia. Em 2014 os Navajos obtiveram da administração Obama a maior indenização
no que diz respeito às causas legais movidas pelos nativos contra o Governo
americano. Mas para muitos deles as condições de vida não mudaram.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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