quinta-feira, 28 de abril de 2016

A senhora da água - Missão entre os Navajos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Jessica Cugini

‘Chamam-na «a senhora da água» por ela, duas semanas por mês, percorrer centenas de quilometros para distribuir o ouro branco a 250 famílias que vivem no Novo México, no Leste dos EUA. Uma zona conhecida por ser habitada por uma população de nativos americanos, a mais numerosa : os Navajos.

As mulheres e os homens desta etnia estão concentrados naquela que é a maior reserva índia dos Estados Unidos. É aqui que vivem os Navajos, em habitações rústicas onde 40 por cento das 73 mil pessoas estão desprovidas de energia eléctrica e de água potável. Uma zona muitas vezes árida, em que todos os anos se tem de enfrentar um desconforto considerável : a falta de água para beber, cozinhar e tomar banho. É neste contexto que trabalha «a senhora da água», Darlene Arviso, uma mulher de 51 anos, de longos cabelos grisalhos, viúva e já avó. Também ela descendente desta gente da qual não deixa de cuidar.

Darlene, desde há sete anos, durante cinco dias por semana, duas vezes por mês, percorre centenas de quilometros a bordo de um caminhão amarelo posto à disposição pela missão índia de São Boaventura, fundada pelos Franciscanos espanhóis no longínquo 1782, uma realidade que hoje procura alcançar e dar assistência a todas aquelas famílias que habitam nas zonas isoladas. Provavelmente, se não fosse ela a prover à distribuição do ouro branco entre os Navajos, haveria outra pessoa a levar a cabo esta tarefa, mas de fato esta mulher de voz serena escolheu uma espécie de duplo trabalho para ajudar a sua gente.

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Está habituada a conduzir, pois é motorista profissional de uma carrinha escolar. Mas duas vezes por mês, durante dez dias, depois de deixar os «seus» meninos e meninas na escola, muda de meio de transporte, senta-se ao volante de uma furgoneta amarela da missão e começa a distribuir às 250 famílias navajo que vivem nas zonas mais dispersas da reserva dois bidões de plástico por família, contentores de mais de 200 litros cada um. Realmente, não são muito 400 litros para um mês inteiro e fazer face às necessidades diárias, mas se não fosse a determinação de Darlene, já considerada uma heroína entre esta gente, os Navajos nem isso teriam.

Além disso, Darlene não se limita a levar a água, muitas vezes acontece-lhe ter de ouvir as histórias das mulheres que a abordam, partilhar com estas famílias o desconforto que deriva das dificuldades de viver numa reserva onde se sentem afastadas de tudo e de todos. Muitas vezes, Darlene, antes de seguir para outro núcleo familiar, deixa o seu número de telemóvel de modo que estas mulheres a possam contatar em caso de outras necessidades. De fato, não é raro acontecer pedirem-lhe alimentos, cobertores ou medicamentos, e ela procura consegui-los, dirigindo o pedido à missão ou às pessoas que conhece na cidade.

A entrega da água é apenas uma das suas atividades, que decorrem da escuta e do saber-se útil aos outros. Nos dias em que sabe que tem de ir ter com as famílias dos nativos da América, a jornada da «senhora da água» começa muito cedo, às cinco da manhã, carregando de 3500 litros de água o camião amarelo. Depois de ter acompanhado à escola as crianças na sua carrinha escolar, senta-se ao volante do camião e percorre as centenas de quilometros para chegar às várias habitações dos Navajos, para regressar depois, na parte da tarde, à escola, recolher as crianças, levá-las a casa das respectivas famílias, e seguir finalmente para junto dos seus filhos e netos, para preparar o jantar. Até ao dia seguinte, quando recomeçará tudo de novo.

  
Os Navajos

Os Navajos fazem parte das populações nativas americanas. Hoje vivem numa grande reserva que se estende entre o Arizona Setentrional, o Utah e o Novo México, uma área muito vasta. O nome deste povo altivo deriva da língua tewa e significa «campo cultivado num pequeno curso de água».

Os Navajos atualmente são o povo mais numeroso de entre os nativos da América, pertencem à grande nação dos Apaches e distinguem-se por viver em clãs fundados sobre bases matrilineares : eram os homens que iam viver com a família da esposa e não o contrário.

Cada grupo considerava-se uma nação em si, viviam portanto dispersos sobre o território em aglomerados familiares extensos que, contrariamente ao que se possa pensar depois de ter visto os muitos filmes sobre a época western, recusava a guerra.

População inicialmente seminômade, vivem hoje de animais, entre ovelhas e cavalos, vendendo produtos artesanais e mostrando as belezas do seu território aos turistas cada vez mais numerosos.

A dos navajos foi uma das últimas nações de nativos americanos a render-se ao Governo. Em 1868 os Navajos são transferidos para a reserva onde atualmente vivem, a Navajo Nation, que goza de autonomia administrativa, conservando uma forte identidade ameríndia. Em 2014 os Navajos obtiveram da administração Obama a maior indenização no que diz respeito às causas legais movidas pelos nativos contra o Governo americano. Mas para muitos deles as condições de vida não mudaram.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


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