terça-feira, 5 de abril de 2016

Mosteiro de Mar Elian semi-destruído na reconquista de Qaryatayn

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘No deserto da Síria, os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) escreveram em um muro ainda em pé do Mosteiro de Mar Elian, ‘os leões do califado vieram para devorá-los’. Mas este fim de semana, eles foram obrigados a fugir diante da ofensiva do Exército sírio, apoiado por russos e membros do Hezbollah libanês.


Símbolo da convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos

O mosteiro de Mar Elian está localizado na cidade de Al-Qaryatayn, e era um símbolo da convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos na Síria. Erigido no século V, uma das duas igrejas do mosteiro, construída com pedras secas e tijolos de barro, nada mais é hoje do que um amontoado de escombros, constatou uma equipe da AFP, que visitou o local esta segunda-feira, 4. A igreja foi destruída pelo Estado Islâmico em agosto de 2005, com o uso de explosivos e de escavadeiras, ‘sob o pretexto de que as pessoas adoravam ali um outro deus que não o Deus verdadeiro’.


Sarcófago danificado

O crânio e os ossos do Mar Elian, um santo cristão de Homs (centro da Síria, martirizado pelos romanos por ter se recusado a abjurar da sua fé, continuam em um sarcófago de pedra. Mas sua tampa decorada com duas cruzes, foi quebrada.

Trata-se precisamente de seu sarcófago e de seus ossos’, confirmou o Padre Jacques Mourad, responsável pelo mosteiro sírio-católico, entrevistado por telefone na Itália depois de ver as fotos que foram enviadas a ele por AFP via WhatsApp.

O sacerdote havia conseguido escapar das garras de EI em outubro de 2015, depois de passar 84 dias nas mãos desta organização que prometeu matá-lo caso se recusasse a se converter ao Islã.


Silêncio, melhor resposta diante dos fatos

Estou cheio de dor e minha posição é de estar em silêncio, porque diante de tudo isto que acontece, o silêncio é a palavra mais adequada’, afirmou.

A entrada e interior do novo igreja do mosteiro, inaugurada em 9 de setembro de 2006, na presença de líderes religiosos cristãos e muçulmanos, estão totalmente carbonizados. As vigas que sustentam o teto e a pedra que servia de altar estão quebrados.

O mosteiro, com seus 16 quartos, está parcialmente destruído por bombardeios e no refeitório estão amontoadas panelas e pratos utilizados pelos jihadistas para a sua cozinha.

Em uma pequena sala, estão guardados ossos em sacos, encontrados anteriormente por arqueólogos em dois cemitérios mamelucos e otomanos, ligados ao mosteiro, declarou à AFP May Mamarbachi, que participou há dez anos da restauração do local.

De acordo com Padre Mourad, outras duas igrejas no centro da cidade de Al-Qaryatayn, uma sírio-ortodoxa e outra católica, foram queimadas na primeira semana da chegada dos jihadistas.


Localização estratégica

Al-Qaryatayn foi reconquistada pelo exército no último domingo, 3, e era um dos últimos redutos do EI em Homs, a maior província da Síria

Um general no local disse à AFP que a cidade de 30.000 habitantes antes da guerra (incluindo 900 cristãos) era importante por encontrar-se no cruzamento das Províncias de Damasco, Homs e as Montanhas de Qalamoun, que abrangem a Síria e Líbano. ‘Com a captura desta cidade, o exército cortou todas as estradas que o Daesh (acrônimo em árabe para EI) usava para se locomover’, explicou. ‘A batalha foi facilitada após a tomada, há uma semana, de Palmyra’, a 90 km ao leste.

Dos 900 cristãos, 277 permaneceram na cidade apesar da chegada do EI. Entre eles, um foi executado, 10 foram mortos no bombardeio e cinco ainda estão presos. O resto conseguiu escapar ao final de 2015, segundo Padre  Mourad.

Al-Qaryatayn (‘as duas aldeias em árabe’) era o símbolo da coexistência entre cristãos e muçulmanos.


Fonte :
* Artigo na íntegra


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