‘‘O mês de junho vai trazer uma carência de
alimentos que não se vê há gerações’, prevê padre Piergiorgio Gamba,
missionário monfortano que enviou à Agência Fides uma nota sobre a dramática
situação alimentar no Malawi.
‘Os depósitos estão vazios há tempos, mas
foram necessários meses para que o governo encontrasse uma resposta a esta
situação e somente em 12 de abril o Presidente declarou estado de calamidade em
todo o país’, refere padre Gamba. ‘Foi
como um passo inaceitável, aceitar ter sido vencido, ceder à oposição que
desafiava o governo a agir no Parlamento’. Padre Gamba sublinha que ‘o Malawi, com seus 17 milhões de habitantes,
consuma 3 milhões de toneladas de trigo por ano. A insistência para
diversificar a produção agrícola, baseada apenas no milho, não teve resposta.
Agora, a difícil lição desta crise está ensinando a semear tudo o que é
comestível e que sobrevive em terrenos áridos, como faziam os africanos antes
de o milho desaparecer: batata doce, soja e todas as verduras que foram
colocadas de lado’. ‘Mas isto será
para a próxima estação das chuvas, que chegará só no fim do ano. Por enquanto,
é fome: as crianças não vão mais às aulas, filas de pessoas pedem o que comer
todos os dias... e é apenas o início. O mês de junho trará uma falta de
alimentos que não se vê há gerações’.
Alguns sinais da
gravidade da situação são impressionantes : o Ministério do Interior, que é
encarregado também dos cárceres e de seus 15 mil prisioneiros, não é capaz de
garantir nenhuma refeição por dia de polenta e feijão, e talvez seja por isso
que o Presidente concedeu o perdão, em um ano, a mais de 1500 detentos que já
haviam cumprido metade de suas penas. Os hospitais que ofereciam refeições aos
pacientes agora dão só um; os camponeses que tiveram a sorte de uma pequena
colheita terminam vendendo-a para pagar as mensalidades escolares dos filhos ou
medicamentos que os hospitais não fornecem, ou uma roupa comprada de segunda
mão no mercado. Os jovens perdem peso visivelmente, não usam mais sapatos e
vestem o uniforme da escola aos domingos, para ir rezar. Isto não acontecia
nunca porque o uniforme era lavado domingo para ficar pronto para a semana. ‘Enquanto se espera que a comunidade
internacional possa intervir com uma maciça importação de alimentos, o que a
missão pode fazer? Estamos tentando manter ativos os pequenos e grandes
projetos de construção, empregos salariados e de ensinamento que garantam uma
renda, mesmo que mínima, manter ativos os projetos de Adoção à Distância,
Escolas Maternas, Centros Juvenis, hospitais... tudo o que possa gerar um
pequeno ganho, que consiga acompanhar o povo até o próximo ano’, conclui o
missionário.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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