*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
Muito mais terá que ser feito por parte do Estado e da
sociedade em geral para evitar que os mais jovens abracem uma utopia mortífera.
‘O êxito com que o Estado Islâmico da Síria e do Iraque
(ISIS) atrai e recruta adolescentes e jovens ocidentais para as suas fileiras é
verdadeiramente desconcertante. O que é que levará milhares de jovens a
trocarem o seu relativo bem-estar por uma aventura em zonas de alto risco e
mesmo a aceitarem fazer-se explodir por uma causa heróica ou romântica?
Um dos segredos terá que ver com os
meios usados. Segundo Matthew Olsen, diretor do Centro Nacional de
Contraterrorismo Americano, ‘o ISIS tem a
máquina de propaganda mais sofisticada de todas as organizações terroristas’,
e ‘dissemina oportunamente conteúdos de
alta qualidade em várias plataformas, inclusivamente nas redes sociais’.
Usa plataformas como o Twitter, o Facebook e o WhatsApp para atingir o seu
público-alvo – a ‘geração da Net’,
habituada à comunicação digital – numa linguagem que este entende. Os vídeos
produzidos para celebrar a sua brutalidade são feitos com técnicas tão
sofisticadas que mais parecem trailers de filmes de ação rodados em Hollywood.
Dinheiro não falta ao Estado Islâmico :
é o grupo terrorista mais rico, com reservas estimadas em milhões de dólares.
Segundo a CNN, faz entre um a dois milhões de dólares por dia com o contrabando
de petróleo no Sul da Turquia. O resto é obtido através da extorsão de ‘taxas’ aos cerca de seis milhões que
vivem nas áreas que domina, o pagamento de resgates pelos sequestros que
realiza, o tráfico de antiguidades, as doações de simpatizantes e o assalto a
bancos.
O que leva os jovens a cair no engodo
do ISIS não depende apenas dos meios de que dispõe. Os especialistas dizem que
o ISIS consegue apelar ao seu idealismo religioso e ao desejo de escapar às
frustrações que enfrentam numa sociedade de tipo ocidental. De acordo com o
antropólogo Scott Atran, citado pelo The Guardian, muitas vezes são ‘imigrantes, estudantes, entre empregos ou
namoradas... à procura de novas famílias, de amigos e companheiros de viagem;
na maior parte dos casos não têm nenhuma educação religiosa tradicional e ‘nascem’
para uma vocação religiosa radical através do apelo à jihad militante’.
Entre os atrativos que encontram num grupo extremista podem contar-se o
sentimento de pertença, uma nova identidade, aventura ou dinheiro : como
recompensa pela sua lealdade, os jovens recebem presentes de Alá, incluindo uma
casa fornecida pelo califado, com eletricidade e água grátis.
O ISIS tem uma rede de recrutamento
difusa e tão eficiente que tem iludido os esforços dos serviços de segurança
ocidentais. Acredita-se que seja operada a partir da Turquia, Síria e Iraque.
Os recrutadores on line fornecem informações a quem se sente inclinado a viajar
para se juntar ao grupo. O desafio é progredir no domínio das novas tecnologias
e rebater adequadamente a sua propaganda. Certamente muito mais terá de ser feito
por parte do Estado e da sociedade em geral para evitar que os mais jovens
abracem uma utopia mortífera. A barbárie não conhece limites. Da
decapitação de reféns, os extremistas passaram à destruição do patrimonio
cultural e arqueológico da humanidade nas regiões que controlam, quiçá na
tentativa de exacerbar a ira ocidental. Tal radicalismo tende a suscitar
respostas não menos irracionais. Esperemos que as vozes sensatas e moderadas
prevaleçam e os Estados Unidos e seus aliados não se deixem arrastar para mais
uma guerra de consequências imprevisíveis.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuFpZFZkpVBvyUDcQK
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