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terça-feira, 1 de janeiro de 2019

História de Santa Maria

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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Ícone da Theotokos Reinante

‘No dia 1º de janeiro, enquanto o mundo comemora o dia mundial da paz, primeiro dia do ano, a Igreja comemora o dia de Santa Maria, Mãe de Deus. É dia santo, dia de preceito e mistério. Esse título de Nossa Senhora contém toda a profundidade da nossa fé. Não é à toa que A Igreja colocou esta festa no primeiro dia do ano.

Origem

Nesta data celebrava-se, antigamente, a festa chamada Circuncisão do Menino Jesus. A circuncisão é uma cerimônia dos judeus que, como sabemos, acontece oito dias após o nascimento dos meninos. Assim aconteceu com Jesus. Hoje, porém, a Igreja comemora neste dia solenidade da Santíssima Virgem Maria Mãe de Deus. Esse título foi dado a Nossa Senhora no Concílio de Éfeso, que aconteceu  em 431. Nessa ocasião a Igreja proclamou Virgem Santíssima como ‘Theotókos’, expressão grega que significa Mãe de Deus.

Mistério

A festa de Santa Maria Mãe de Deus celebra o mistério da maternidade divina que foi dada a Nossa Senhora. De fato, quando Maria se tornou Mãe de Jesus, o Filho de Deus, por consequência e por graça do Espírito Santo, ela se tornou também Mãe de Deus. A criatura se torna Mãe daquela pelo qual todas as coisas foram feitas, Jesus. É um mistério que revela a humildade de Jesus, que aniquilou-se a si mesmo tornando-se semelhante a nós, sendo gerado no seio da Virgem Maria. Jesus deu a Maria o direito de chama-lo de Filho’. E Ele, por sua vez, a chama de sua Mãe.

Elo de união entre a terra e o céu 

Quando a Virgem Maria disse seu SIM a Deus, ela tornou-se o elo de união entre o céu e a terra. E quando ela deu à luz seu filho Jesus, este elo se concretizou. Através dela, Jesus se fez homem. Através dela a salvação de Jesus entrou no mundo. Por isso, esse dia primeiro de Jesus janeiro é também um dia de gratidão à Mãe Santíssima, pelo sim despojado e cheio de amor que ela disse a Deus.

Mãe, educadora, formadora

Hoje a ciência sabe que os primeiros 5 a 7 anos de vida de um ser humano determinam quem ele será quando adulto. Quando observamos o homem Jesus e vemos a plenitude de humanidade, de bondade, de sabedoria e de força que Ele carrega, precisamos lembrar que este homem foi formado num lar e teve como Mãe e formadora Maria Santíssima. Ela o acompanhou quando Ele estava formando sua personalidade humana na primeira infância. E se a personalidade humana de Jesus é tão fascinante, tão cheia de amor, tão cativante, Maria teve papel importantíssimo na ‘formação humana do Filho de Deus’.

Bendita entre as mulheres

Quando Santa Isabel recebeu a visita da Virgem Maria, ficou cheia do Espírito Santo e assim, plena do Espírito de Deus, exclamou : ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.’ (Lc. 1,42). O Fruto do ventre ao qual Isabel se referia é Jesus, o Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador. Por isso, todo aquele que aceita o Filho, Jesus, aceita também a Mãe, Maria. Maria é bendita entre as mulheres não por vontade própria, mas por vontade de Deus. Foi Deus quem a fez bendita entre as mulheres.

Dogma de fé

A afirmação da Virgem Maria como Mãe de Deus tornou-se um dogma de fé. O Concílio de Éfeso proclamou este Dogma no ano 431. O texto diz o seguinte : ‘Maria se tornou, com toda a verdade, Mãe de Deus. Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio :  Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne.’ DS 251. Este reconhecimento de Maria foi feito, primeiramente, pelo próprio Espírito Santo, como lemos no Evangelho de Lucas que Isabel, cheia do Espírito Santo, chamou Maria de ‘mãe de meu Senhor’ (Lc1, 43).

Oração composta por São Bernardo a Santa Maria Mãe de Deus

‘Lembrai-Vos, Oh! puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à Vossa proteção, implorado a vossa assistência e reclamado o vosso socorro, fosse por vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho e gemendo sob o peso de meus pecados me prostro a vossos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo. Amém.’


Fonte :  

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O ícone da Dormição da Nossa Santíssima Virgem Mãe de Deus


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Ãcone da Dormição de Nossa Santíssima Senhora Mãe de Deus, Aleppo, século XVIII - Publicado em: DE LA CROIX, Agnès-Mariam. Icônes árabes: art chrétien du Levant.Paris, Ed. Grégoriennes: 2003, p. A57.
Ícone da Dormição de Nossa Santíssima Senhora Mãe de Deus, Aleppo, século XVIII
Publicado em: DE LA CROIX, Agnès-Mariam.
Icônes árabes: art chrétien du Levant.Paris, Ed. Grégoriennes: 2003, p. A57.

*Artigo de Charbel Nassif

Em 15 de agosto, a Igreja Bizantina celebra a Festa da Dormição da Mãe de Deus. As histórias da Dormição fazem parte das narrativas apócrifas do Novo Testamento, que constituem uma literatura florescente nos primeiros séculos da Igreja. A importância desses textos apócrifos sobre a Dormição da Mãe de Deus se deve ao Concílio de Éfeso (431), que fixa a atenção na eminente dignidade da Virgem Maria, chamada de Theotokos (Mãe de Deus).

O relato mais comum do destino final de Maria é frequentemente semelhante nos textos apócrifos, apesar de certas variações. Maria recebe o anúncio de sua morte, pelo arcanjo Gabriel enquanto lhe dá uma palma. Ela então prepara tudo o que é necessário e reza sua última oração. Os apóstolos e os discípulos são milagrosamente transportados nas nuvens. Os doentes se reúnem perto da casa de Maria em Jerusalém, onde muitas maravilhas se manifestam. Jesus parece receber sua mãe acompanhada de tropas angélicas. Ele então recebe a alma de Maria. Os apóstolos deitam o corpo em um sepulcro e o levam embora. Mas um judeu, chamado Jephonias em algumas histórias, tenta profanar o corpo da Virgem: mas um anjo corta as mãos no ar perto da cama onde está o corpo. Após uma invocação à Santíssima Virgem, ele os recupera. Os apóstolos colocam o corpo em um novo sepulcro no Getsêmani.

Alguns textos apócrifos relatam a chegada tardia de Tomé, muito ocupado com seu ministério apostólico na Índia. Carregado também em uma nuvem em direção a Jerusalém, ele encontrou no ar a Mãe de Deus subindo corporalmente em direção aos céus. Tomé pede-lhe para abençoá-lo, e ela ofereceu-lhe o cinto. Chegando em Jerusalém três dias depois, ele pediu para ver o túmulo da Virgem Maria, então os apóstolos finalmente abriram-no e o encontram vazio. Tomé então mostrou o cinturão que a Mãe de Deus lhe dera e contou como a viu ir para o céu.

O ícone que apresentamos acima pertence à escola de Aleppo. É pintado por Girgis Al-Musawwer na segunda metade do século XVIII. Preservada no Palácio do Arcebispo Melquita, em Beirute, tem 70 cm de comprimento e 35,5 cm de largura. Uma longa inscrição em árabe na parte inferior do ícone menciona os nomes dos doadores e afirma que este ícone foi doado para a Catedral Melquita do Profeta Elias em Beirute, em 1883.

Frente a um fundo arquitetônico que ilustra os edifícios da cidade de Jerusalém, Maria aparece deitada em uma cama esplendorosa no meio dos apóstolos. As mãos dela estão cruzadas sobre o peito e a cabeça está rodeada por uma auréola e colocada em uma pequena almofada. Uma vela aparece nos dois lados da cama. A alma da Virgem é representada na forma de uma figura infantil que completa o nascimento no reino. Envolta em nuvens brancas e coroada também com uma auréola, ela descansa nos braços de Cristo cercados por dois anjos. Assim como Maria carregava Jesus envolto em panos, agora Jesus carrega a alma de sua mãe. Sua morte é o seu nascimento no céu. Cristo é cercado por uma amêndoa luminosa e coroado por um serafim, rodeado por dois anjos.

O apóstolo Pedro está inclinado sobre a cama se lamentando; sendo o corifeu dos apóstolos, ele preside a cerimônia mortuária agitando o incensário. Aos pés de Maria, o apóstolo Paulo parece estar chorando também e faz a contraparte para Pedro. Quatro bispos (Timóteo, primeiro bispo de Éfeso; Tiago, irmão do Senhor e primeiro bispo de Jerusalém e Jeroteo Dionísio, bispo de Atenas) também participam do funeral da mãe de Deus. Um número de mulheres se lamentando aparece na parte de trás da assembleia. Em frente à cama, finalmente vemos o incidente do judeu incrédulo, em pequenas dimensões. A parte superior do ícone ilustra duas cenas: a da chegada dos apóstolos nas nuvens em dois grupos e a do encontro de Maria com Tomé.

Neste ícone, um relevo especial é dado aos rostos: percebe-se a tristeza misturada com uma dose de esperança com todos os personagens representados. Essa mistura de tristeza e segurança é uma característica dos crentes que vivem na expectativa da ressurreição.

A obra da Dormição é cheia de esperança alegre. Jesus, que tanto amava sua mãe, veio do céu para acompanhá-la e intercedeu por nós. A liturgia da celebração não se limita a comemorar a morte de Maria, mas vai além desta dimensão celebrando a passagem de Maria para o céu, em corpo e alma. Isto está claramente representado no ícone da Dormição. Maria pode ser considerada como o exemplo de uma morte santa, ela é o nosso modelo na prova que representa a morte. A passagem de Maria, em corpo e alma, para o céu é uma antecipação da ressurreição de todos. É a festa da natureza humana: todo crente deve tomar Maria como modelo para alcançar a graça de Deus.

**Venham, de todos os confins da terra, cantem a morte abençoada da Mãe de Deus : nas mãos de seu Filho ela entregou sua alma sem pecado; por sua santa Dormição o mundo é vivificado novamente e é com salmos, hinos e cânticos espirituais, junto aos anjos e os apóstolos celebramos com alegria.

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**Oração que se diz durante a procissão com o ícone da Dormição na noite de 14 de agosto, nas Igrejas Orientais.’


Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1284533/2018/08/o-icone-da-dormicao-da-nossa-santissima-virgem-mae-de-deus/

domingo, 7 de maio de 2017

A devoção a Maria

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


‘A devoção à Virgem Maria, Mãe de Deus, é sem dúvida um diferencial em nossa vida cristã, porque, longe de desviar nossa atenção do Cristo, ela nos integra no plano de salvação proposto por Deus e realizado por seu Filho único, Jesus Cristo, que Se encarnou e veio ao mundo por meio dela. Nós celebramos as festas de Maria porque é Mãe de Deus, porque nos deu o Salvador. Foi Deus que, em sua infinita sabedoria e bondade, estabeleceu que a redenção da humanidade acontecesse através de seu Filho único nascido de uma Virgem; e a Virgem escolhida foi Maria. Ora, se Deus, o Senhor de todas as coisas, o Infinito e o Absoluto, não se envergonhou de escolher Maria, e a fez Cheia de Graça, para ser a Mãe de seu Filho, por que haveríamos nós, simples mortais, de recusar-nos a ter para com ela uma devoção toda especial?

É bom lembrar ainda que a nossa devoção a Maria deve fundamentar-se na inspiração de suas virtudes e no seguimento de Cristo. Quando Cristo disse : ‘Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga’ (Mt 16,24), Ele se colocou como o primeiro e principal modelo a ser seguido. Se nos inspirarmos na fidelidade de Maria, no seu amor a Deus e aos irmãos, com toda a certeza ela nos apresentará e conduzirá pelos caminhos de seu Filho Jesus.

Ao lermos a Bíblia, os Evangelhos nos mostrarão que Maria, como a primeira cristã, viveu as virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade. Antes de trazer o Filho de Deus em seu seio, já O trazia no desejo de seu coração, pois como mulher judia esperava e acreditava que Deus um dia enviaria o Messias. Como modelo de caridade, deixa sua casa e vai servir Isabel, sua prima de idade avançada que está grávida, permanecendo com ela os três meses finais (Lc 1,36;56), e ainda estando presente com a Igreja que está nascendo e sendo perseguida. (At 1,14)

 Foi modelo de um olhar de fé e de esperança, sobretudo quando, na tormenta da paixão do Filho, conservou no coração uma fé total n’Ele e no Pai. Enquanto os discípulos, envolvidos pelos acontecimentos, ficaram profundamente abalados na sua fé, Maria, embora provada pelo sofrimento, permaneceu íntegra na certeza de que se realizaria a predição de Jesus : ‘O Filho do Homem... ao terceiro dia, ressuscitará’ (Mt 17, 22-23). Com este olhar de fé e de esperança, Maria encoraja a Igreja e os cristãos a cumprirem sempre a vontade do Pai, que nos foi manifestado por Cristo e que, através de sua intercessão, sejamos homens e mulheres da Fé, da Esperança e da Caridade.

A Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo. Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na História da salvação : não somente no princípio (Lc 1 – 2) e no fim (Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de Seu ministério (Jo 2) e no nascimento da Igreja (At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens. (Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3)

Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam. Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Se alargarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva : Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova árvore da vida, a mãe dos vivos.

O lugar de Maria na liturgia se insere na celebração da obra salvífica do Pai : o Mistério de Cristo. Neste mistério inseriu-se a memória de Maria como Mãe de Cristo, celebrando-se de forma explícita a íntima ligação que a Mãe tem de mistérios da salvação; Maria aparece associada ao Filho em primeiro lugar na Celebração Eucarística, quando se invoca a memória da ‘sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor Jesus Cristo’ (Oração Eucarística I), as memórias incorporadas pela liturgia da Igreja e aquelas que nascem da experiência de fé das comunidades cristãs. Da tradição perene e viva da fé da Igreja colhem-se as mais significativas expressões da piedade e devoção marianas. (Cfr. Marialis Cultus 9-15)

Temos ao longo do ano várias celebrações que evocam a Bem-aventurada Virgem Maria. Este ano temos a graça de celebrar os 300 anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida no Rio Paraíba do Sul, jubileu nacional da Virgem Maria, e os cem anos das aparições de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos. Em Maria, a Igreja evoca e celebra a própria vocação.

Pedindo pela paz, convidamos todos os nossos diocesanos a rezarem o Rosário em público nesses abençoados dias de maio deste Ano Mariano.’

           
Fonte :
  

domingo, 1 de janeiro de 2017

Maria, Mãe de Deus e Rainha da Paz!

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


 ‘No dia primeiro de janeiro, celebramos a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e, também, o Dia Mundial da Paz. Diante disso, não podemos nos esquecer, de modo algum, que a mesma Virgem Maria, por quem nos veio o Salvador, cujo nascimento é celebrado em 25 de dezembro, é também a Rainha da Paz.

Oito dias antes desta solenidade, celebramos o Natal: uma criança que nasce, mas não uma criança a mais, e sim o Filho de Deus feito homem por amor de nós. Pois bem, o Eterno entrou na História, de modo que, como diz São Paulo, ‘o tempo se fez breve’ (1 Cor 7,29). Não há mais momento a perder. É preciso trabalhar, incansavelmente, pela nossa santificação e a dos que nos cercam : Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro. O contrário também deve ser real : Uma alma que se perde arrasta muitos consigo. Peçamos a Deus a graça de estar entre os que desejam a própria salvação e a dos que nos cercam.

Agora nasce um Novo Ano cronológico, marcado pela sucessão do tempo : desde os segundos até os meses que o formam. E esta é a desafiante ligação : no Natal, o Eterno entra na História e Se faz um de nós; no Ano Novo vem um tempo diferenciado, que nos convida a fazer de cada minuto o tempo oportuno da graça de Deus, o Kairós. O tempo é o dom básico para a nossa santificação; é nele que nós nos perdemos ou nos salvamos. Seja 2017 um ano de muita fé e paz, apesar das tantas dificuldades que nos cercam, mas com Deus as venceremos! O Novo Ano será bom se procurarmos corresponder ao Plano de Deus a cada dia. Em meio ao caos do mundo de hoje, os cristãos são chamados a serem sinais de esperança, pois estamos alicerçados na fé em Cristo que morreu e ressuscitou e está vivo entre nós.

No dia 1º de janeiro, celebramos, de modo solene, Santa Maria, a Mãe de Deus. Aqui uma profunda questão teológica ou mesmo de fé se põe a algumas pessoas : como pode Maria ser a Mãe de Deus se Ele é eterno, portanto não tem começo nem fim? – A resposta não é difícil a quem se empenha no estudo e melhor compreensão da nossa fé – afinal, nunca é demasiado lembrar quanta falta faz uma catequese séria e continuada de cada homem e mulher batizados, mas não devidamente evangelizados. Eis a resposta à questão: Deus, na sua eternidade não pode ter mãe. Ele é o criador incriado.

No entanto, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4), Deus se fez homem e quis – dentre as tantas formas de vir a este mundo – nascer de uma mulher especial, Maria Santíssima. Ora, o Senhor Jesus é Deus e Homem verdadeiro, assumiu a natureza humana sem deixar de ser Deus. Nesse ponto, Maria é Mãe de Deus. Não de Deus em sua eternidade, mas quando assumiu a nossa humanidade. Atente-se bem : Mãe de Deus feito Homem, pois a mulher que dá à luz traz a este mundo um ser inteiro. Portanto, Maria nos trouxe o Homem-Deus ou o Deus-Homem, conforme o ângulo que se queira vê-Lo.

Em Lucas 1,43, ao ser saudada por Isabel, parenta de Maria, está lhe diz, de modo claro : ‘De onde me vem a graça de que a Mãe do meu Senhor (Kyrios) me venha visitar’? Ora, a palavra Kyrios foi a forma que a chamada ‘Bíblia dos Setenta (LXX)’ traduziu o nome santo e impronunciável de Deus, IHWH (o tetragrama sagrado), de modo que bem se pode dizer que a Mãe de Deus visitou Isabel. Aliás, esse título de Maria, como Mãe de Deus (Theotokos), foi definido como dogma pelo Concílio de Éfeso, em 431, atestando assim essa fé da Igreja. Se Cristo é Deus e Homem verdadeiro, Maria é também Mãe de Deus. Tal doutrina, antiquíssima na Igreja, sempre foi mantida, de modo que até o fim dos tempos celebraremos Nossa Senhora como Mãe de Deus e nossa Mãe.

Junto a isso, importa dizer que a Virgem Maria é invocada como a Rainha da Paz, ou seja, a Mãe do Príncipe da Paz, Jesus Cristo, e que deseja o bem dos Seus filhos. Por ‘Paz’ entendemos a tranquilidade da ordem, ou seja, cada coisa em seu devido lugar, quer no plano espiritual, quer no âmbito material. Com falta de confissão sacramental, de Eucaristia, de oração, de caridade, de misericórdia etc. é muito difícil ou mesmo impossível ter a paz de alma duradoura. Também no aspecto material, só a correria diária, a corrupção, a mentira, o empoderamento, as vantagens só para si etc. nunca trarão paz de consciência.

Afora isso, temos a guerra ora declarada, ora velada, mas existente entre não poucos países, em nossos Estados ou nossas cidades, sem que nem sempre se valorize a saúde, a moradia digna, a educação de qualidade, a segurança adequada pela devida honra a ser prestada àqueles que, por profissão, mas também poderia se dizer, por vocação, arriscam suas vidas a fim de salvar as de outros. Aí não pode haver paz que se prolongue. É nesse contexto, um tanto sombrio, mas permeado pela esperança cristã, que pedimos à Mãe de Deus e Senhora da Paz para, junto ao seu Filho Jesus Cristo, interceder por nós, como fez em Caná da Galileia (cf. Jo 2,1-12).

Destaco importantes eventos marianos deste ano : o Ano Mariano, no Brasil, o centenário das visões de Fátima, em Portugal, e o tricentenário de Nossa Senhora Aparecida, em nosso País.

Possa Maria Santíssima, a Estrela da Evangelização, ajudar-nos a mais e melhor anunciar Jesus Cristo em todos os recantos desta Nação-Continente. Sejamos, de fato, ‘uma Igreja em saída’, como nos exorta o Papa, e caminhemos ao encontro de todos aqueles e aquelas que vivem nas periferias existenciais e geográficas, a fim de lhes dizermos – enquanto Igreja – como Maria Santíssima, sob o título de Guadalupe, disse no México : ‘Não estou eu aqui que sou tua Mãe’?

Também no dia 13 de maio haverá a comemoração dos 100 anos das chamadas aparições de Nossa Senhora, em Fátima, a três pastorinhos : Lúcia, Francisco e Jacinta. Em síntese, nessa revelação particular (cf. o Catecismo da Igreja Católica n. 67), Maria pediu oração e penitência em favor da humanidade envolta em perigos.

Com relação aos ‘segredos de Fátima’, vem a interpretação do então Cardeal Ratzinger, depois Papa Bento XVI, um dos maiores teólogos da atualidade, a dizer o seguinte : ‘Os diversos acontecimentos [previstos em Fátima – nota nossa], na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo, ou sobre o futuro desenrolar da História, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece – dissemo-lo logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do ‘segredo’ – é a exortação à oração como caminho para a ‘salvação das almas’, e, no mesmo sentido, o apelo à penitência e à conversão’. Por fim, o Seu Imaculado Coração triunfará (cf. Congregação para a Doutrina da Fé. A Mensagem de Fátima. www.vatican.va, acessado em 01/12/15).

Dia 12 de outubro, encerrando o Ano Mariano e a celebração dos 300 anos do encontro da Virgem Maria nas águas do Rio Paraíba do Sul, celebraremos, como fazemos todos os anos e neste de modo especialíssimo, a Solenidade de Nossa Senhora com o título de Conceição Aparecida.

Sua história é bela e pode-se dizer que se prende de algum modo ao Evangelho da pesca milagrosa (cf. Lc 5,4-7), pois em ambos os casos os peixes só aparecem em tamanha quantidade depois de uma intervenção divina. No Evangelho, é o próprio Cristo quem fala e, em Aparecida, é a Sua Mãe quem se manifesta. Ela, que não faz nem mais nem menos do que é a vontade do Filho. Nada fala com palavras, mas se mostra como a Mulher solícita de sempre junto aos necessitados. Era o tempo terrível da escravidão e sua cor relembra isso : em seu Filho somos todos irmãos e irmãs, sem quaisquer barreiras ou distinções. O Brasil é país da acolhida e da cordialidade, não da guerra fratricida a dividir pessoas em suas opções políticas ou classes sociais. Uma separação entre ‘nós e eles’ não pode existir aqui. Não faz parte da nossa cultura nem de nosso espírito cristão.

Assim o Papa Francisco rezou em Aparecida por ocasião de sua visita em 2013, quando esteve no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude : ‘Mãe Aparecida, como Vós um dia, assim me sinto hoje diante do vosso e meu Deus, que nos propõe para a vida uma missão cujos contornos e limites desconhecemos, cujas exigências apenas vislumbramos. Mas, em vossa fé de que ‘para Deus nada é impossível’, Vós, ó Mãe, não hesitastes, e eu não posso hesitar’.

Assim, ó Mãe, como Vós, eu abraço minha missão. Em vossas mãos coloco minha vida e vamos, Vós-Mãe e Eu-Filho, caminhar juntos, crer juntos, lutar juntos, vencer juntos como sempre juntos caminhastes vosso Filho e Vós. Mãe Aparecida, um dia levastes vosso Filho ao templo para consagrá-Lo ao Pai, para que fosse inteira disponibilidade para a missão. Levai-me hoje ao mesmo Pai, consagrai-me a Ele com tudo o que sou e com tudo o que tenho. Mãe Aparecida, ponho em vossas mãos, e levai até o Pai a nossa e vossa juventude, a Jornada Mundial da Juventude : quanta força, quanta vida, quanto dinamismo brotando e explodindo e que podem estar a serviço da vida, da humanidade’.

Finalmente, ó Mãe, vos pedimos : permanecei aqui, sempre acolhendo vossos filhos e filhas peregrinos, mas também ide conosco, estai sempre ao nosso lado e acompanhai na missão a grande família dos devotos, principalmente quando a cruz mais nos pesar, sustentai nossa esperança de nossa fé.

Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa Mãe, sob os diversos títulos que sois lembrada, protegei e amparai o nosso Brasil neste ano de 2017 e sempre. Amém!’


Fonte :


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Santa Maria Mãe de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de
Santa Maria Mãe de Deus :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Das Cartas de Santo Atanásio, bispo
(Epist. Ad Epictetum, 5-9; PG 26, 1058. 1062-1066)   (Sec. IV)

O Verbo assumiu nossa natureza no seio de Maria
O Verbo de Deus veio em auxílio da descendência de Abraão, como diz o Apóstolo. Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos (Hb 2,16-17) e assumir um corpo semelhante ao nosso. Eis por que Maria está verdadeiramente presente neste mistério; foi dela que o Verbo assumiu, como próprio, aquele corpo que havia de oferecer por nós. A Sagrada Escritura, recordando este nascimento, diz : Envolveu-o em panos (Lc 2,7); proclama felizes os seios que o amamentaram e fala também do sacrifício oferecido pelo nascimento deste Primogênito. O anjo Gabriel, com prudência e sabedoria, já o anunciaram a Maria; não lhe disse simplesmente : aquele que nascer em ti, para não se julgar que se tratava de um corpo extrínseco nela introduzido; mas : de ti (cf. Lc 1, 35 Vulg.), para se acreditar que o fruto desta concepção procedia realmente de Maria.

Assim foi que o Verbo, recebendo nossa natureza humana e oferecendo-a em sacrifício, assumiu-a em sua totalidade, para nos revestir depois de sua natureza divina, segundo as palavras do Apóstolo : É preciso que este ser corruptível se vista de incorruptibilidade; é preciso que este ser mortal se vista de imortalidade (1Cor 15,53).

Estas coisas não se realizaram de maneira fictícia, como julgam alguns, o que é inadmissível! Nosso Salvador fez-se verdadeiro homem, alcançando assim a salvação do homem na sua totalidade. Nossa salvação não é absolutamente algo de fictício, nem limitado só ao corpo; mas realmente a salvação do homem todo, corpo e alma, foi realizada pelo Verbo de Deus.

A natureza que ele recebeu de Maria era uma natureza humana, segundo as divinas Escrituras, e o corpo do Senhor era um corpo verdadeiro. Digo verdadeiro, porque era um corpo idêntico ao nosso. Maria é portanto nossa irmã, pois todos somos descendentes de Adão.

As palavras de João : O Verbo se fez carne (Jo 1,14) têm o mesmo sentido que se pode atribuir a uma expressão semelhante de Paulo : O Cristo fez-se maldição por nós (cf. Gl 3,13). Pois da íntima e estreita união com o Verbo, resultou para o corpo humano em engrandecimento sem par : de mortal tornou-se imortal; sendo animal, tornou-se espiritual; terreno, transpôs as portas do céu.

Contudo, mesmo tendo o Verbo tomado um corpo no seio da Maria, a Trindade continua sendo a mesma Trindade, sem aumento nem diminuição. É sempre perfeita, e na Trindade reconhecemos uma só Divindade; assim, a Igreja proclama um único Deus no Pai e no Verbo.


Fonte :
  

domingo, 14 de setembro de 2014

Nossa Senhora das Dores

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de Nossa Senhora das Dores :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Dos Sermões de São Bernardo, abade
(Sermo in dom. infra oct. Asumptionis,14-15: Opera omnia,
Edit. Cisterc. 5[1968],273-274)     (Séc.XII)

Estava sua mãe junto à cruz
O martírio da Virgem é mencionado tanto na profecia de Simeão quanto no relato da paixão do Senhor. Este foi posto, diz o santo ancião sobre o menino, como um sinal de contradição, e a Maria : e uma espada traspassará tua alma (cf. Lc 2,34-35).

Verdadeiramente, ó santa Mãe, uma espada traspassou tua alma. Aliás, somente traspassando-a, penetraria na carne do Filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma dele, mas ela traspassou a tua alma. A alma dele já ali não estava, a tua, porém, não podia ser arrancada dali. Por isto a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mais do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal.

E pior que a espada, traspassando a alma, não foi aquela palavra que atingiu até a divisão entre a alma e o espírito : Mulher, eis aí teu filho? (Jo 19,26). Oh! que troca incrível! João, Mãe, te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo Mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem, em vez do Deus verdadeiro. Como ouvir isto deixaria de traspassar tua alma tão afetuosa, se até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?

 Não vos admireis, irmãos, que se diga ter Maria sido mártir na alma. Poderia espantar-se quem não se recordasse do que Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus servos.

Talvez haja quem pergunte : ‘Mas não sabia ela de antemão que iria ele morrer?’ Sem dúvida alguma. ‘E não esperava que logo ressuscitaria?’ Com toda a confiança. ‘E mesmo assim sofreu com o Crucificado?’ Com toda a veemência. Aliás, tu quem és ou donde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a padecer? Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração? É obra da caridade : ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto : depois dela nunca houve igual.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas IV’, 1281, 1282


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Assunção de Nossa Senhora

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia da Assunção de Nossa Senhora :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Da Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus, do papa Pio XII
(AAS42 [1950], 760-762. 767-769)     (Séc.XX)

Teu corpo é santo e cheio de glória
Nas homilias e orações para o povo na festa da Assunção da Mãe de Deus, santos padres e grandes doutores dela falaram como de uma festa já conhecida e aceita. Com a maior clareza a expuseram; apresentaram seu sentido e conteúdo com profundas razões, colocando especialmente em plena luz o que esta festa temem vista : não apenas que o corpo morto da Santa Virgem Maria não sofrera corrupção, mas ainda o triunfo que ela alcançou sobre a morte e a sua celeste glorificação, a exemplo de seu Unigênito, Jesus Cristo.

São João Damasceno, entre todos o mais notável pregoeiro desta verdade da tradição, comparando a Assunção em corpo e alma da Mãe de Deus com seus outros dons e privilégios, declarou com vigorosa eloquência : ‘Convinha que aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divinos. Convinha que a esposa, desposada pelo Pai, habitasse na câmara nupcial dos céus. Convinha que, tendo demorado o olhar em seu Filho na cruz e recebido no peito a espada da dor, ausente no parto, o contemplasse assentado junto do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse tudo o que pertence ao Filho e fosse venerada por toda criatura como mãe e serva de Deus’.

São Germano de Constantinopla julgava que o fato de o corpo da Virgem Mãe de Deus estar incorrupto e ser levado ao céu não apenas concordava com sua maternidade divina, mas ainda conforme a peculiar santidade deste corpo virginal : ‘Tu, está escrito, surges com beleza (cf. Sl 44,14); e teu corpo virginal é todo santo, todo casto, todo morada de Deus; de tal forma que ele está para sempre bem longe de desfazer-se em pó; imutado, sim, por ser humano, para a excelsa vida da incorruptibilidade. Está vivo e cheio de glória, incólume e participante da vida perfeita’.

Outro antiquíssimo escritor assevera : ‘Portanto, como gloriosa mãe de Cristo, nosso Deus salvador, doador da vida e da imortalidade, foi por ele vivificada para sempre em seu corpo na incorruptibilidade; ele a ergueu do sepulcro e tomou para si, como só ele sabe’.

Todos estes argumentos e reflexões dos santos padres apóiam-se como em seu maior fundamento nas Sagradas Escrituras. Estas como que põem diante dos olhos a santa Mãe de Deus profundamente unida a seu divino Filho, participando constantemente de seu destino.

De modo especial é de lembrar que, desde o segundo século, os santos padres apresentam a Virgem Maria qual nova Eva para o novo Adão : intimamente unida a ele – embora com submissão – na mesma luta contra o inimigo infernal (como tinha sido previamente anunciado no proto-evangelho [cf. Gn 3,15]), luta que iria terminar com a completa vitória sobre o pecado e a morte, coisas que sempre estão juntas nos escritos do Apóstolo das gentes (cf. Rm 5 e 6; 1Cor 15,21-26.54-57). Por este motivo, assim como a gloriosa ressurreição de Cristo era parte essencial e o último sinal desta vitória, assim também devia ser incluída a luta da santa Virgem, a mesma que a de seu Filho, pela glorificação do corpo virginal. O mesmo Apóstolo dissera : Quando o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá o que foi escrito : A morte foi tragada pela vitória (1Cor 15,54; cf. Os 13,14).

Por conseguinte, desde toda a eternidade unida misteriosamente a Jesus Cristo, pelo mesmo desígnio de predestinação, a augusta Mãe de Deus, imaculada na concepção, virgem inteiramente intacta na divina maternidade, generosa companheira do divino Redentor, que obteve pleno triunfo sobre o pecado e suas consequências, ela alcançou ser guardada imune da corrupção do sepulcro, como suprema coroa dos seus privilégios. Semelhantemente a seu Filho, uma vez vencida a morte, foi levada em corpo e alma à glória celeste, onde, rainha, refulge à direita do seu Filho, o imortal rei dos séculos.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas IV’, 1197, 1199


domingo, 13 de outubro de 2013

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)

  
Oração a Nossa Senhora Aparecida 

‘Ó incomparável Senhora da Conceição Aparecida,
Mãe de Deus, Rainha dos Anjos,
Advogada dos pecadores,
refúgio e consolação dos aflitos e atribulados,
Virgem Santíssima,
cheia de poder e de bondade,
lançai sobre nós um olhar favorável,
para que sejamos socorridos por vós,
em todas as necessidades em que nos acharmos.
 
Lembrai-vos, ó clementíssima Mãe Aparecida,
que nunca se ouviu dizer
que algum daqueles que têm a vós recorrido,
invocado vosso santíssimo nome
e implorado a vossa singular proteção,
fosse por vós abandonado.

Animados com esta confiança,
a vós recorremos.
Tomamo-vos para sempre por nossa Mãe,
nossa protetora, consolação e guia,
esperança e luz na hora da morte.

Livrai-nos de tudo o que possa ofender-vos
e ao vosso Santíssimo Filho, Jesus.

Preservai-nos de todos os perigos
da alma e do corpo;
dirigi-nos em todos os assuntos espirituais e temporais.

Livrai-nos da tentação do demónio,
para que, trilhando o caminho da virtude,
possamos um dia ver-vos e amar-vos
na eterna glória, por todos os séculos dos séculos.’
 
Amém.
 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Maria, Theotokos

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)

           
Os primeiros Concílios da Igreja discutiram muitas questões cristológicas, como por exemplo o fato de Jesus ser humano e divino ao mesmo tempo. Com isso, ficava a questão: Jesus seria uma ou duas pessoas? E Maria, seria mãe de Jesus ou de Deus? Para se buscar uma resposta a essas dúvidas, em 431 foi convocado um Concílio que se reuniu em Éfeso, atual Turquia. O principal protagonista desse debate era Nestório, que sustentava que Maria era mãe do ser humano Jesus, mas não era mãe de Deus. Seu principal opositor foi Cirilo de Alexandria, que presidiu o Concílio de Éfeso e supervisionou a condenação de Nestório. Ao final do Concílio, Maria foi reconhecida como a Theotokos (mãe de Deus) e afirmada as duas naturezas de Jesus (humana e divina) numa única pessoa. Dentre os documentos do Concílio, trazemos um discurso de Cirilo sobre Maria, exaltando-a como a Mãe de Deus e apontando os seus vários atributos descritos por toda a Sagrada Escritura.
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São Cirilo de Alexandria

Discurso pronunciado no Concílio de Éfeso
sobre Maria

‘Salve, cidade de Éfeso, mais formosa que os mares, porque em vez dos portos da terra, marcaram encontro em ti os que são portos do céu! Salve, honra desta região asiática semeada por todos os lados de templos, como preciosas jóias, e consagrada, no presente, pelos benditos pés de muitos santos Padres e Patriarcas! Com sua vinda, cumularam-te de toda bênção, porque onde eles se congregam, aumenta e multiplica-se a santidade: religiosos fiéis, anjos da terra, afugentam eles, com sua presença, todo satânico poder e toda afeição pagã. Eles, repetimos, confundem toda heresia e são glórias de nossa fé ortodoxa.

Salve, bem-aventurado João, apóstolo e evangelista, glória da virgindade, mestre da honestidade. Salve, vaso puríssimo da temperança, a ti virgem, confiou, na cruz, nosso Senhor Jesus Cristo a Mãe de Deus, sempre virgem!

Salve, ó Maria, Mãe de Deus, virgem e mãe, estrela e vaso de eleição! Salve, Maria, virgem, mãe e serva: virgem, na verdade, por virtude daquele que nasceu de ti; mãe por virtude daquele que cobriste com panos e nutriste em teu seio; serva, por aquele que amou de servo a forma! Como Rei, quis entrar em tua cidade, em teu seio, e saiu quando lhe aprouve, cerrando para sempre sua porta, porque concebeste sem concurso de varão, e foi divino teu parto. Salve, Maria, templo onde mora Deus, templo santo, como o chama o profeta Davi, quando diz: "O teu templo é santo e admirável em sua justiça" (Sl 64). Salve, Maria, criatura mais preciosa da criação; salve, Maria, puríssima pomba; salve, Maria, lâmpada inextinguível; salve, porque de ti nasceu o sol da Justiça! Salve, Maria, morada da infinitude, que encerraste em teu seio o Deus infinito, o Verbo unigênito, produzindo sem arado e sem semente a espiga incorruptível! Salve, Maria, mãe de Deus, aclamada pelos profetas, bendita pelos pastores, quando com os anjos cantaram o sublime hino de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade" (Lc 2,14). Salve, Maria, Mãe de Deus, alegria dos anjos, júbilo dos arcanjos que te glorificam no céu! Salve, Maria, Mãe de Deus: por ti adoraram a Cristo os Magos guiados pela estrela do Oriente; salve, Maria, Mãe de Deus, honra dos apóstolos! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem João Batista, ainda no seio de sua mãe exultou de alegria, adorando como luzeiro a perene luz! Salve, Maria, Mãe de Deus, que trouxeste ao mundo graça inefável, da qual diz são Paulo: "apareceu a todos os homens a graça de Deus salvador" (Tt 2,1). Salve, Maria, Mãe de Deus, que fizeste brilhar no mundo aquele que é luz verdadeira, o nosso Senhor Jesus Cristo, que diz em seu Evangelho: "eu sou a luz do mundo!" (Jo 8,12). Deus te salve, Mãe de Deus, que iluminaste aos que estavam em trevas e sombras de morte; porque o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz (Is 9, 2), uma luz não outra senão Jesus Cristo nosso Senhor, luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo (Jo 1,9).

Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem se apregoa nos Evangelhos: "bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 21,9), por quem se encheram de igrejas nossas cidades, campos e vilas ortodoxas! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o vencedor da morte e o destruidor do inferno! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o autor da criação e o restaurador das criaturas, o Rei dos céus! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem floresceu e refulgiu o brilho da ressurreição! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem luziu o sublime batismo de santidade no Jordão!

Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem o Jordão e o Batista foram santificados e o demônio foi destronado! Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem é salvo todo espírito fiel! Salve, Maria, Mãe de Deus, - pois acalmaste e serenaste os mares para que pudessem nossos irmãos cooperadores e pais e defensores da fé, serem conduzidos, com alegria e júbilo espiritual, a esta assembleia de entusiásticos defensores de tua honra!

Também aquele que, levando cartas de perseguição, sendo derrubado pela luz do céu no caminho de Damasco, falou sobre ti e confirmou para o mundo a fé na Trindade consubstancial, de um só Senhor, de um só batismo; de um só Pai, um só Filho, um só Espírito Santo; da substância inseparável e simplicíssima; da divindade incompreensível do Senhor Deus de Deus, Luz de Luz, Esplendor da Glória, que nasceu de Maria Virgem, conforme o anúncio do Arcanjo: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo, o Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, e por isso o santo que de ti nascer será chamado Filho de Deus vivo" (Lc 1,35). Não somente o sabemos pelo arcanjo Gabriel; também Davi, no vaticínio que canta diariamente a Igreja, nos diz: "O Senhor me disse: és meu filho; no dia de hoje te gerei" ( Sl 2,7). Já o sábio Isaías, filho do profeta Amós, profeta nascido de profeta, o predissera: "Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho e seu nome será Emanuel, que significa Deus conosco" (Mt 1,23).

Por isso todos os que formos fieis às Escrituras, seguindo os caminhos de Paulo, ouvindo as vozes dos profetas clamar-te-ão Bem aventurada. Todos os que formos seguidores dos Evangelhos permaneceremos como disse o profeta: seremos como “oliveira fértil na casa de Deus” (Sl 51), glorificando a Deus Pai Todo Poderoso, a seu Filho unigênito que nasceu de Maria e ao vivificante Espírito Santo, que se comunica a todos na vida; submissos aos fidelíssimos imperadores, honrando as rainhas, discretas e santas virgens, no seu amor à fé ortodoxa de Cristo Jesus, nosso Senhor a quem se deve a glória pelos séculos dos séculos . Amém.’


Fonte :
. Gomes, Folch F. - Antologia dos Santos Padres. Editado pelas Paulinas, SP 1979