*Artigo do Cardeal Dom Orani João Tempesta, O.
Cist.,
Arcebispo Metropolitano de
São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
‘A devoção à
Virgem Maria, Mãe de Deus, é sem dúvida um diferencial em nossa vida cristã,
porque, longe de desviar nossa atenção do Cristo, ela nos integra no plano de
salvação proposto por Deus e realizado por seu Filho único, Jesus Cristo, que
Se encarnou e veio ao mundo por meio dela. Nós celebramos as festas de Maria
porque é Mãe de Deus, porque nos deu o Salvador. Foi Deus que, em sua infinita
sabedoria e bondade, estabeleceu que a redenção da humanidade acontecesse
através de seu Filho único nascido de uma Virgem; e a Virgem escolhida foi
Maria. Ora, se Deus, o Senhor de todas as coisas, o Infinito e o Absoluto, não
se envergonhou de escolher Maria, e a fez Cheia de Graça, para ser a Mãe de seu
Filho, por que haveríamos nós, simples mortais, de recusar-nos a ter para com
ela uma devoção toda especial?
É bom lembrar
ainda que a nossa devoção a Maria deve fundamentar-se na inspiração de suas
virtudes e no seguimento de Cristo. Quando Cristo disse : ‘Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me
siga’ (Mt 16,24), Ele se colocou como o primeiro e principal modelo a ser
seguido. Se nos inspirarmos na fidelidade de Maria, no seu amor a Deus e aos
irmãos, com toda a certeza ela nos apresentará e conduzirá pelos caminhos de
seu Filho Jesus.
Ao lermos a
Bíblia, os Evangelhos nos mostrarão que Maria, como a primeira cristã, viveu as
virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade. Antes de trazer o Filho de Deus em
seu seio, já O trazia no desejo de seu coração, pois como mulher judia esperava
e acreditava que Deus um dia enviaria o Messias. Como modelo de caridade, deixa
sua casa e vai servir Isabel, sua prima de idade avançada que está grávida,
permanecendo com ela os três meses finais (Lc 1,36;56), e ainda estando
presente com a Igreja que está nascendo e sendo perseguida. (At 1,14)
Foi modelo de um olhar de fé e de esperança,
sobretudo quando, na tormenta da paixão do Filho, conservou no coração uma fé
total n’Ele e no Pai. Enquanto os discípulos, envolvidos pelos acontecimentos,
ficaram profundamente abalados na sua fé, Maria, embora provada pelo
sofrimento, permaneceu íntegra na certeza de que se realizaria a predição de
Jesus : ‘O Filho do Homem... ao terceiro
dia, ressuscitará’ (Mt 17, 22-23). Com este olhar de fé e de esperança,
Maria encoraja a Igreja e os cristãos a cumprirem sempre a vontade do Pai, que
nos foi manifestado por Cristo e que, através de sua intercessão, sejamos
homens e mulheres da Fé, da Esperança e da Caridade.
A Virgem tem na
Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não
por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com
Cristo. Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na
História da salvação : não somente no princípio (Lc 1 – 2) e no fim (Jo 19,27)
da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na
inauguração de Seu ministério (Jo 2) e no nascimento da Igreja (At 1,14).
Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de
uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e
dos homens. (Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3)
Esta presença
revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes
quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam. Ela se apossa,
pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Se alargarmos a perspectiva
da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de
Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no
início da salvação, como restauração de Eva : Ela acolhe a promessa de vida
onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da
nova árvore da vida, a mãe dos vivos.
O lugar de Maria
na liturgia se insere na celebração da obra salvífica do Pai : o Mistério de
Cristo. Neste mistério inseriu-se a memória de Maria como Mãe de Cristo,
celebrando-se de forma explícita a íntima ligação que a Mãe tem de mistérios da
salvação; Maria aparece associada ao Filho em primeiro lugar na Celebração
Eucarística, quando se invoca a memória da ‘sempre
Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor Jesus Cristo’ (Oração Eucarística I), as
memórias incorporadas pela liturgia da Igreja e aquelas que nascem da
experiência de fé das comunidades cristãs. Da tradição perene e viva da fé da
Igreja colhem-se as mais significativas expressões da piedade e devoção
marianas. (Cfr. Marialis Cultus 9-15)
Temos ao longo do
ano várias celebrações que evocam a Bem-aventurada Virgem Maria. Este ano temos
a graça de celebrar os 300 anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora
Aparecida no Rio Paraíba do Sul, jubileu nacional da Virgem Maria, e os cem
anos das aparições de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos. Em Maria, a
Igreja evoca e celebra a própria vocação.
Pedindo pela paz,
convidamos todos os nossos diocesanos a rezarem o Rosário em público nesses
abençoados dias de maio deste Ano Mariano.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://br.radiovaticana.va/news/2017/05/07/a_devo%C3%A7%C3%A3o_a_maria/1310680
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