sábado, 31 de agosto de 2024

Afeganistão: erguer a voz por quem não a têm mais

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Alessandro Gisotti


Imaginem sair de casa amanhã de manhã e, a caminho do trabalho, ouvir pela rua apenas o som de vozes masculinas. A experiência é ainda mais peculiar porque ao encontrar as mulheres, como aconteceu no dia anterior, nenhuma delas fala. No máximo, sussurram. Imaginem então passar por um parque onde uma mãe embala seu bebê para dormir. Mas o faz em silêncio, sem cantar uma canção de ninar, como havia acontecido na manhã anterior. E como esperaríamos que acontecesse em qualquer lugar do mundo. Esse cenário digno de um filme distópico ou de um conto orwelliano é o que está acontecendo agora no Afeganistão, onde, através de uma regra, o Talibã decidiu, da noite para o dia, que não apenas o rosto e o corpo das mulheres não têm mais ‘direito de cidadania’ na vida social, mas até mesmo a sua voz.

A notícia foi divulgada pela mídia internacional, mas, infelizmente, não obteve o eco que merecia e, até o momento, não despertou protestos e movimentos de massa, como acontece, com razão, com tantas outras questões e batalhas civis. No entanto, todos nós deveríamos ficar chocados e indignados com uma decisão como essa, porque mutilar a voz de uma mulher é um ato de violência sem precedentes que não pode deixar de ferir toda a comunidade humana como um todo, além de qualquer pertença religiosa, étnica ou cultural. Se somos realmente ‘membros uns dos outros’, como o Papa Francisco nos testemunha e lembra todos os dias, então não podemos ficar indiferentes, porque aquelas meninas, aquelas jovens afegãs também são nossas. E devemos erguer a voz por elas, que agora aquela voz elas não têm mais.

Justamente em 31 de agosto de três anos atrás, as tropas americanas concluíram apressadamente a retirada do Afeganistão e o Talibã retomou o poder. Desde então, para as mulheres do país asiático, começou um pesadelo que parece não ter fim, mas que, ao mesmo tempo, era absolutamente previsível : primeiro, a exclusão das meninas com mais de 12 anos das escolas (o que poderia ser mais desprezível do que roubar o futuro de uma geração?), depois a espoliação gradual de todos os seus direitos fundamentais. E agora até mesmo o cancelamento da voz em público. Em um sistema midiático que às vezes é distraído por notícias que não deixam tempo a perder, todos nós devemos lembrar que há milhões de mulheres que foram proibidas de falar, proibidas de cantar. Mulheres que, em 2024, tiveram a voz retirada e, com ela, a esperança de poder viver em um mundo melhor.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2024-08/alessandro-gisotti-afeganistao-mulheres-governo-kabul-2024.html

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Os mares e os desertos não se tornem cemitérios de migrantes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do L'Osservatore Romano


Há cemitérios feitos de cruzes e lápides. Mas há também cemitérios feitos de água e areia : são os mares e desertos que engolem as numerosas vítimas das rotas migratórias. É este o núcleo da sentida denúncia que o Papa Francisco quis dedicar a sua reflexão «às pessoas que — até neste momento — atravessam mares e desertos para chegar a uma terra onde viver em paz e segurança».

Interrompendo a habitual catequese centrada no tema «A Esposa e o Espírito», o Pontífice dirigiu-se aos fiéis presentes na praça de São Pedro e aos que estavam ligados através dos meios de comunicação social para reiterar que «naqueles mares e desertos mortais, os migrantes de hoje não deveriam estar — mas infelizmente estão». No entanto, advertiu o Papa, «não é através de leis mais restritivas, não é mediante a militarização das fronteiras, não é através de rejeições que conseguiremos alcançar um resultado». Pelo contrário, devem ser promovidas vias de acesso «seguras» e «regulares» para os migrantes, «facilitando o refúgio a quem foge das guerras, da violência, da perseguição e das várias calamidades». É também fundamental, disse o Santo Padre, promover «de todas as formas uma governação global das migrações fundamentada na justiça, na fraternidade e na solidariedade», combatendo o tráfico de seres humanos e os crimes de quem explora «sem piedade» a miséria dos outros.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.osservatoreromano.va/pt/news/2024-08/por-035/os-mares-e-os-desertos-nao-se-tornem-cemiterios-de-migrantes0.html

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Como encontrar o sentido

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre José Alem, CMF


Compete a cada um de nós tomar consciência da contribuição única e insubstituível, dentro deste desacertado conjunto de incertezas com que deparamos, a fazer a descoberta pessoal do sentido da vida e, quem sabe, contribuir na descoberta de um sentido comum que possa ser o fundamento da paz na sociedade.

Uma das coisas mais importantes que podemos fazer na descoberta do sentido de nossas vidas é nos lembrarmos desta orientação : ‘Tudo que podemos fazer é estudar a vida das pessoas que parecem haver encontrado suas respostas às questões em torno das quais gira em última análise a vida humana e compará-la com a vida daquelas que não as encontraram’ (Charlotte Bühler).

Há meios importantes pelos quais se pode chegar ao sentido da vida. Um deles consiste em dedicar-se a um trabalho ou a fazer uma ação que serve como meio para expressar nossas capacidades de nos dedicarmos a algo e servirmos; outro é encontrar alguém a quem se dedicar. Em outras palavras, o sentido pode ser encontrado no trabalho, mas também no amor. O mais importante é que mesmo uma vítima sem recursos, numa situação sem esperança, enfrentando o destino que não pode mudar, pode erguer-se acima de si mesma, crescer para além dela e, assim, mudar-se. Pode transformar a tragédia pessoal em triunfo (cf. Viktor E. Frankl, Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração, pp. 156-157, Editora Sulina).

Será possível dar às pessoas existencialmente frustradas um sentido para suas vidas? Não, não será possível. Nem o médico, nem o psicólogo, nem o religioso podem dar o sentido à vida de alguém porque não são oniscientes, não conhecem totalmente a vida humana e não são onipotentes, não podem fazer tudo, principalmente porque não é possível dar sentido à vida, somente encontrá-lo.

O sentido da vida não pode ser dado, mas, encontrado, descoberto. Tem que ser encontrado pela própria pessoa – não dentro de si, mas além dela, pois é dotada da capacidade de autotranscendência. Encontrar o sentido está em estreita relação com a percepção da realidade. Cada situação com que deparamos constitui um desafio e a possibilidade de escolher concreta e objetivamente o que fazer numa situação possibilita descobrir seu sentido. É por isso que só se pode encontrar o sentido, porque ele é objetivo, não podemos atribuí-lo a nosso bel-prazer.

Não se trata de pôr, de colocar um sentido nas coisas, mas de extraí-lo delas, de perceber o sentido de cada uma das situações com que nos defrontamos. O sentido está na possibilidade e na necessidade que cada situação concreta da vida nos possibilita, é aquilo que é preciso nesses momentos e essa possibilidade de sentido é sempre, como a própria situação, única e irrepetível. Uma vez feita a escolha, deixamos de lado outras possibilidades que nunca mais se repetirão.

O sentido de uma situação, se o encontrarmos e colocarmos em prática, torna-se real de uma vez para sempre. Aquela possibilidade de sentido que se nos apresentava naquele momento e naquele lugar, aqui e agora, torna-se eterna e salva no passado. O ser passado, isto é, algo realizado, é também uma forma de ser, talvez a mais segura. Tudo aquilo que realizamos e criamos fica guardado, conservado no interior do passado, e nem o tempo pode apagar.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/como-encontrar-sentido.html


domingo, 25 de agosto de 2024

Pecados que ferem o amar a Deus sobre todas as coisas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Luiz Antônio de Araújo Guimarães 


‘Talvez alguns jovens não se deem conta de que há pecados que ferem gravemente o amor a Deus sobre todas as coisas e partem do princípio de fechar o coração ao amor divino, o que fará com que não se conheça a plenitude do amor que é o próprio Deus. 

Catecismo Jovem da Igreja Católica, conhecido como Youcat, apresenta no número 355 tais proibições quanto ao primeiro mandamento. A primeira diz que é proibido ‘venerar outros deuses ou divindades falsas, adorar um ídolo ou vender a alma a um bem terreno (dinheiro, influência, sucesso, beleza, juventude etc.)’. Diante de uma sociedade que preza muito o ter e o prazer em detrimento do ser, muitos acabam por reverenciar falsos deuses, oriundos do seu imaginário e que satisfazem a sua vontade e alimentam seu ego. Por exemplo, a influência ou fama é um falso deus. Ser alguém conhecido, famoso, não é pecado, porém, quando a fama passa a ocupar o primeiro lugar na vida e é desejada a qualquer preço aí sim se torna um pecado. Igualmente são os demais bens terrenos, como o Youcat apresenta.

A segunda proibição é ‘ser supersticioso, isto é, em vez de crer no poder, na orientação e na bênção de Deus, aderir a práticas esotéricas, mágicas ou ocultas, incluindo a adivinhação e o espiritismo’. Nossa! Como essa realidade da superstição assalta por demais a juventude! É preciso levar os jovens a pensar sobre Deus e saber que somente a Ele deve ser dada toda honra, glória, poder, soberania e majestade, além de se deixar guiar por Ele, porque quem assim procede não se torna supersticioso, quer dizer, não se deixará conduzir pelo esoterismo, magia ou ocultismo. 

Uma terceira proibição é ‘provocar Deus com palavras e atos’. Ninguém, no bom uso de sua consciência, deve provocar o Senhor, porque dessa forma é como se quisesse estar no mesmo nível de Deus. Com Ele se dialoga por meio da oração, mas, sem provocá-lo. Jesus, que é Deus feito homem, por meio da oração do Pai-Nosso ensinou a humanidade a chamar Deus de Pai e a reconhecer que a vontade dele é o melhor para a vida de todo aquele que o invoca. Certamente, quem não reza não se lança no querer do Senhor e corre o risco de insultá-lo, cometendo assim um pecado. 

Quarta proibição é cometer um sacrilégio. Convém deixar bem claro o que é sacrilégio. Diz o Youcat: ‘Latim sacrilegium = roubo num templo. É o roubo, a violação ou a profanação de algo sagrado’. O que é sagrado deve ser sempre velado, preservado e ser mantida sua dignidade. A hóstia, por exemplo, após ser consagrada na santa Missa passa a ser corpo e sangue de Nosso Senhor, Jesus Cristo. O sacrário, que é o local sagrado onde são guardadas para a comunhão aos enfermos e a adoração eucarística, deve ser altamente preservado, pois ali dentro não se conserva algo qualquer, mas sim o próprio Jesus em forma de Eucaristia. Daí a importância de velar e zelar pelo ambiente da capela do Santíssimo Sacramento onde fica o sacrário, pois violar a Eucaristia é um pecado grave. 

A quinta e última proibição é ‘adquirir poder sagrado de um modo corrupto e profanar o sagrado comercialmente (simonia)’. Apresenta esse aspecto de modo bem claro o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2121 ‘A simonia define-se como a compra ou venda das realidades espirituais. A Simão, o mago, que queria comprar o poder espiritual que via operante nos apóstolos, Pedro responde : ‘Vá contigo o teu dinheiro para a perdição, porque julgaste poder adquirir por dinheiro o dom de Deus’ (At 8,20). O apóstolo conformava-se, assim, à Palavra de Jesus : ‘Recebestes de graça, pois dai gratuitamente’ (Mt 10,8). É impossível alguém apropriar-se dos bens espirituais e comportar-se a respeito deles como proprietário ou dono, pois eles têm a sua fonte em Deus e só dele se podem receber gratuitamente’. 

Após esse percurso, convém lembrar que para não cair na tentação de cometer tais pecados é preciso ter o coração aberto a Deus, buscá-lo por meio da oração e deixar-se conduzir por sua santa vontade que, sem sombra de dúvida, é o melhor para sua vida. Assim amará a Deus sobre todas as coisas. Esse caminho, por sua vez, só você pode trilhar e experimentar. Avante!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/pecados-que-ferem-o-amar-a-deus-sobre-todas-as-coisas.html



sábado, 24 de agosto de 2024

Em busca do essencial

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Montanhas Kinabalu, Borneu 


*Artigo do Padre Ricardo Fontana,

Reitor do Santuário Nossa Senhora de Caravaggio


‘O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin enviou a mensagem que o Papa Francisco escreveu expressando seus votos e reflexões por ocasião do 45º Encontro para a Amizade entre os Povos que acontece em Rimini, na Itália, entre os dias 20 e 25 de agosto, com o tema ‘Se não estamos em busca do essencial, então o que estamos procurando?’. O Papa Francisco inicia sua mensagem dizendo que : mesmo quando atravessamos tempos complexos, a busca daquilo que constitui o centro do mistério da vida e da realidade é de importância crucial. Diante do cenário que vivemos atualmente com problemas e desafios, encontramos um sentimento de impotência, levando a tomar atitudes derrotistas e passiva que pode levar a ‘arrastar a vida’ e a deixar-nos dominar pela insensibilidade da felicidade efêmera, a ponto de perder o sentido da existência. Neste cenário, portanto, a escolha de rastrear o que é essencial é mais pertinente do que nunca.

O Papa adverte sobre o perigo de perder a paixão pela vida, uma característica que, segundo Francisco, é muito comum nos dias de hoje, até mesmo entre os jovens; motivando a procurar, com paixão e entusiasmo, aquilo que revela a beleza da vida, respondendo à pergunta colocada por Dom Luigi Giussani quando afirmou com coragem : «O coração é corroído pela esclerose, isto é, pela perda da paixão e do gosto de viver. […] A velhice aos vinte e ainda mais cedo, a velhice aos quinze, esta é a característica do mundo de hoje’ (Il senso religioso, Milão 2013, 116˗117).

À medida que sopram os ventos frios da guerra, somando-se a fenômenos recorrentes de injustiça, violência e desigualdade, bem como à grave emergência climática e a uma mutação antropológica sem precedentes, é essencial parar e perguntar-nos : há algo que vale a pena viver e esperar?  O Papa nos convida a sermos mendigos do essencial, do que dá sentido à nossa vida, despojando do que pesa na vida quotidiana, seguindo o exemplo de um alpinista que, tendo chegado ao início da face rochosa, deve se livrar do supérfluo para poder subir mais rapidamente, recordando que ‘o que é essencial, mais belo, mais atraente e ao mesmo tempo mais necessário para nós é a fé em Cristo Jesus’ (Discurso ao Plenário do Dicastério para a Doutrina da Fé, 26 janeiro de 2024).

O Senhor salva a vulnerabilidade humana no tempo da adversidade, sendo o porto seguro que oferece resiliência, alegria e força ao barco da vida, que ficaria à mercê das ondas e correria o risco de afundar. A fé em Cristo Jesus é a condição para mergulhar verdadeiramente na história, para enfrentá-la sem fugir aos seus desafios, para encontrar a coragem de arriscar e amar mesmo quando parece não vale a pena a dor, viver no mundo sem nenhum medo. Como escreveu o então Arcebispo Montini : «Tu és necessário para nós, ó Cristo, ó Senhor, ó Deus conosco, para aprendermos o verdadeiro amor e caminharmos na alegria e na força da tua caridade, ao longo do caminho da nossa vida cansativa». (Omnia nobis est Christus. Carta pastoral à Arquidiocese de Milão para a Quaresma de 1955).

O Papa motiva a todos assumirem o controle de suas vidas sendo protagonistas do essencial e indispensável processo de mudança, contribuindo para a missão da Igreja de construir espaços onde a presença de Cristo possa ser sentida e experimentada, gerando um mundo novo, onde o amor, manifestado em Cristo, permaneça e transforme o planeta em um Templo de fraternidade, tendo o desejo comum de buscar  e aprofundar a fé em Jesus Cristo através da escuta do anúncio do Evangelho, que é fonte de libertação que faz florescer nos corações a força que cura e transforma a humanidade.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2024-08/em-busca-do-essencial.html

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Reconciliação com Deus : guia para uma boa confissão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Rivelino Nogueira


‘‘A Confissão é o Sacramento da misericórdia de Deus, é a festa do pecador arrependido.’ (Monsenhor Jonas Abib)

Por que confessar-se? Explica o Papa Francisco que ‘o perdão dos nossos pecados não é algo que podemos dar a nós mesmos. Eu não posso dizer ‘perdoo os meus pecados’. O perdão é pedido a outra pessoa e na Confissão pedimos o perdão a Jesus. O perdão não é fruto dos nossos esforços, mas uma dádiva, é um dom do Espírito Santo’. 

A reconciliação com Deus é um dos aspectos mais fundamentais e transformadores da fé cristã, a Confissão é um Sacramento de cura. Por meio dele os fiéis têm a oportunidade de se aproximar do Senhor, renovar sua fé e encontrar a paz interior. A confissão é uma prática que exige sinceridade, humildade e fé; os fiéis podem renovar sua relação com Deus, encontrar paz interior e receber a graça necessária para viver uma vida cristã mais plena. Muitas pessoas buscam a confissão sem antes ter examinado profundamente sua consciência; assim, perdem a oportunidade de um perdão total e a graça que renova até as raízes da existência.

Este guia pretende oferecer um caminho claro e prático para aqueles que desejam fazer uma boa confissão. 

Reflexão e exame de consciência

Antes de se confessar é essencial fazer uma profunda reflexão sobre a própria vida e ações. O exame de consciência é um momento de introspecção em que se deve analisar os pecados cometidos, tanto em pensamentos como em palavras, atos e omissões. Utilizar os Dez Mandamentos como referência pode ser um bom ponto de partida.

Arrependimento sincero

O arrependimento é a chave para uma confissão válida e eficaz. Não basta apenas reconhecer os pecados, é necessário sentir um verdadeiro pesar por tê-los cometido e um desejo genuíno de mudar. Esse arrependimento deve nascer do amor a Deus e do reconhecimento de sua infinita misericórdia.

Propósito de emenda

Após o arrependimento é fundamental ter um firme propósito de emenda, ou seja, a decisão de evitar cometer os mesmos pecados no futuro. Isso inclui identificar as causas e ocasiões de pecado e buscar formas práticas de evitá-las, fortalecendo a vida espiritual por meio de oração, leitura da Bíblia e participação nos sacramentos.

Confissão dos pecados

Durante a confissão é importante ser claro e honesto ao relatar os pecados ao sacerdote. Não se deve omitir nenhum pecado grave intencionalmente, pois isso comprometeria a validade do Sacramento. Lembrar que o sacerdote age em nome de Cristo e está ali para ajudar, orientar e oferecer o perdão divino.

Aceitação da penitência

O sacerdote, após ouvir a confissão, dará uma penitência. Ela pode ser uma oração, um ato de caridade ou outro gesto concreto de arrependimento. Aceitar e cumprir a penitência com humildade e devoção é parte essencial do processo de reconciliação.

Ato de contrição

O ato de contrição é uma oração expressando arrependimento e o desejo de não mais pecar. Pode ser recitado de várias formas, mas o importante é que seja sincero e venha do coração. Um exemplo tradicional é ‘Meu Deus, estou arrependido de todo o coração de vos ter ofendido, porque sois tão bom e amável. Prometo, com a vossa graça, nunca mais pecar e evitar todas as ocasiões de pecado’.

Absolvição

Após o ato de contrição, o sacerdote concederá a absolvição, que é a declaração do perdão dos pecados. Esse é um momento de graça e renovação, em que a misericórdia de Deus se manifesta plenamente.

Costuma dizer-se que uma boa confissão tem quatro ‘Cs’ :

  • Clara : indicar qual foi a falta específica, sem acrescentar desculpas;
  • Concreta : referir o ato ou pensamento preciso, não usar frases genéricas;
  • Concisa : evitar dar explicações ou descrições desnecessárias;
  • Completa : sem calar nenhum pecado grave, vencendo a vergonha.

Ao seguir esses passos, cada pessoa pode se aproximar mais do amor infinito de Deus e caminhar em direção a uma vida de santidade e comunhão.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/reconciliacao-com-deus-guia-para-uma-boa-confissao.html



terça-feira, 20 de agosto de 2024

O caminho do jubileu dentro de Roma : as basílicas papais - São João de Latrão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação da revista Ave Maria


As quatro basílicas papais em Roma são São Pedro, no Vaticano, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Fora dos Muros. Elas são as principais igrejas, conhecidas como ‘maiores’, e possuem as portas santas, que são abertas pelo Papa durante o ano jubilar.

A Arquibasílica do Santíssimo Salvador e dos Santos João Batista e Evangelista, comumente conhecida como San Giovanni in Laterano, está situada perto do monte Célio. Originalmente, antes da construção da basílica, essa área era propriedade da antiga família Laterano, que tinha sua residência nas proximidades. Nos Anais de Tácito, de 65, menciona-se um confisco realizado por Nero devido ao envolvimento de alguns membros da família em uma conspiração contra o imperador. Mais tarde, as terras passaram a ser propriedade de Fausta, esposa de Flávio Valério Constantino, que foi proclamado imperador em 306, após a morte de seu pai.

O imperador Constantino, com o Édito de Milão de 313, concedeu liberdade de culto aos cristãos. Com a intenção de oferecer à nascente Igreja um local adequado para celebrações, ele entregou ao Papa Melquíades as terras de Laterano, recebidas como dote de sua esposa, para a construção de uma igreja.

A basílica foi consagrada em 324 pelo Papa Silvestre I e dedicada ao Santíssimo Salvador. No século IX, o Papa Sérgio III também a dedicou a São João Batista e, no século XII, o Papa Lúcio II acrescentou São João Evangelista.

Do quarto ao 14º século, quando o Papa se mudou para Avignon, Laterano foi a principal sede do papado, tornando-se o símbolo e o coração da vida da Igreja.

Em 1378, com a eleição de Gregório XI, a sede do pontífice voltou para Roma. No entanto, como Laterano estava em péssimas condições, decidiu-se transferir o poder para o Vaticano.

Somente em 1650, por ordem do Papa Inocêncio X, foi realizada a reorganização total da basílica, graças ao trabalho de Francesco Borromini.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-caminho-do-jubileu-dentro-de-roma-as-basilicas-papais-sao-joao-de-latrao.html


domingo, 18 de agosto de 2024

Maria, modelo de vocação

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Brás Lorenzetti


‘Vocação’ significa chamado, mas não é qualquer chamado. Quando fazemos uma escolha profissional, não chamamos a isso de vocação, mas, simplesmente uma escolha entre tantas. Sem dúvida, escolha profissional é um fator de realização pessoal, tanto é que uma profissão acertada, em sintonia com as habilidades e dons pessoais, é uma garantia de excelência no desempenho dela.

 Sempre que falamos em vocação, entendemos um chamado no plano da fé. Dizemos que é Deus quem chama. Nós respondemos ou não ao chamado. Uma coisa é certa : vocação acertada, futuro feliz! Muitas vezes, a resposta vocacional comporta um verdadeiro salto no escuro, pela ausência de evidências sensíveis na hora de dar a resposta, pelos desafios que ela comporta, pelo perigo de não ser compreendido e pela necessidade de se doar integralmente, com todas as forças e energias da vida.

De todas as pessoas que ouviram e atenderam ao chamado divino, como os inúmeros personagens bíblicos, do Antigo ao Novo Testamento, além de todos os vocacionados importantes ao longo da história, de todos eles a vocacionada que mais nos encanta e estimula é Maria de Nazaré.

Uma jovem, ou melhor, uma adolescente recebe de um anjo a proposta de ser mãe, proposta que ela teria um milhão de motivos para recusar : como confiar em um anjo, sua tenra idade, a falta de recursos, por não estar ainda casada, apenas noiva, o perigo diante da rigidez das leis da época : ela poderia ser apedrejada por uma gravidez fora do casamento, sem contar o tanto que os vizinhos iriam comentar o fato numa sociedade onde todos se conheciam. Humanamente, Maria via diante de si a possibilidade de uma desmoralização sem limites, porém, ela não se deixou abalar.

A jovem Maria surpreende por sua resposta, pela sua maturidade e pela forma como ela se coloca numa dimensão que ultrapassa toda e qualquer razão humana. Maria situa-se numa dimensão de fé impressionante. Parece que ela já vive, diariamente, essa dimensão de fé, como se convivesse com anjos. O texto diz que ela fica perturbada, mas, em momento algum apavorada ou assustada a ponto de perder o bom uso da razão. Ao contrário, ela, consciente, dialoga com o anjo. Se é verdadeira a proposta do além e verdadeiro o chamado sobrenatural, Maria delega a responsabilidade a Deus ao dizer ‘Eis aqui a serva [escrava] do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra’ (Lc 1,38); portanto, a responsabilidade é de Deus em cumprir o prometido e em superar todas os inúmeros desafios que iriam aparecer em consequência da decisão.

Por tudo isso, Maria é modelo de quem responde positivamente à proposta de Deus, modelo de resposta à vocação, que envolve fé, coragem, confiança e superação. Quando nos encontramos diante de dificuldades que parecem insuperáveis, olhemos para a jovem Maria para que também nós tenhamos a coragem de dizer ‘Senhor, estou à tua disposição, faça-se em mim o que for melhor para cumprir a missão que tu me confiaste. Mesmo que humanamente não veja possibilidades, sei que para ti o impossível não existe, por isso, em ti confio plenamente. Amém!’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/maria-modelo-de-vocacao.html


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

O sábado e o Domingo na visão de Ratzinger

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
"Já na época apostólica, o dia da Ressurreição se impôs por si mesmo como dia da Assembleia Cristã: era o ‘Dia do Senhor’(Apc 1,10), o dia no qual Ele (Jesus) entrava entre os seus e os seus iam ao seu encontro." 

*Artigo de Jackson Erpen 


‘No livro ‘Chi ci aiuta a vivere? Su Dio e l’uomo’ (‘Quem nos ajuda a viver? Sobre Deus e o homem’), Joseph Ratzinger escreve que aproximadamente no ano 110 d.C. Inácio, bispo de Antioquia, era levado de navio da Síria para Roma para ser devorado pelas feras. Durante esta viagem, com as mãos acorrentadas, escreveu sete cartas às comunidades cristãs que estavam ao longo do seu itinerário. Em uma destas cartas está a frase : «Nós não celebramos mais o sábado, mas vivemos observando o dia do Senhor (o domingo), no qual surgiu também a nossa vida...» (Magn. 9, 1).

Ou seja, os cristãos são formalmente descritos como pessoas que vivem de acordo com o domingo. A observância do domingo determina o seu ritmo de vida, caracteriza a sua íntima forma de vida. O domingo é para eles, por assim dizer, o lugar na trama do tempo onde se chega à própria vida, se experimenta o que a vida realmente significa.

Esta experiência de vida autêntica continua durante toda a semana. Permanece, por assim dizer, o tom fundamental que persiste no ruído da semana e cujo eco nos permite reencontrar sempre a saída, em direção à luz.

Depois de ‘Domingo, maior do que o Dia do Sábado Judaico’, Pe. Gerson Schmidt nos propõe a reflexão ‘O sábado e o Domingo na visão de Ratzinger’ :

‘Joseph Ratzinger, em seu livro Obras Completas (Volume XI), que aborda sobre a Teologia da Liturgia – O Fundamento Sacramental da Existência Cristã, descreve sobre o sábado e o domingo, tema que estamos aprofundando. Santo Inácio de Antioquia diz que ‘aquele que da vida nos antigos ordenamentos chegou à novidade, à esperança, não é mais um homem do sábado, mas vive segundo o Dia do Senhor’. Ratzinger diz que ‘o ritmo sabático e a vida segundo o Dia do Senhor se contrapõem, portanto, como dois estilos de vida fundamentalmente diferentes : de uma parte, o ser colocados estavelmente sobre determinados trilhos normativos; de outra, o viver com base no que há de vir, com base na esperança. O teólogo alemão, que se tornou Papa Bento XVI, faz uma pergunta : Como se desenvolveu concretamente da observância do sábado para a celebração do domingo?

E responde : ‘Podemos considerar, por certo, que, já na época apostólica, o dia da Ressurreição se impôs por si mesmo como dia da Assembleia Cristã : era o ‘Dia do Senhor’(Apc 1,10), o dia no qual Ele(Jesus) entrava entre os seus e os seus iam ao seu encontro. Assembleia em torno do Ressuscitado significa que Ele partia de novo o pão para os seus (cf. Lc 24,30.35). Era um encontro com o Cristo presente, um encaminhar-se em direção a sua vinda final e em tudo isso, ao mesmo tempo, estava a presença da Cruz como a sua verdadeira elevação, como o evento do seu amor que se distribui em dom. O Novo Testamento, como, também, os escritos mais antigos do século II, confirmam muito claramente : o Domingo é o dia do culto dos cristãos’. Ratzinger embasa esses dados em outro teólogo alemão Willy Rordorf, em sua obra ‘Sabbat e Sonntag in der Alten Kirche, ou seja, o ‘Sabbat (judaico) e o Domingo na Igreja Antiga’[1].

O grande teólogo Joseph Ratzinger diz que a Ressurreição conecta criação e restauração, início e fim e cita o Hino Cristológico de São Paulo na Carta aos Colossenses. Afirma assim : ‘Mas o nexo com a temática da criação, que para o Sábado é essencial, era implícito, mesmo de uma forma mudada, na data do primeiro Dia da semana, isto é, o dia no qual teve início a criação : a Ressurreição conecta início e fim, criação e restauração. No grande hino Cristológico da Epístola aos Colossenses, Cristo vem chamado, seja o primogênito da criação (cf. Cl 1,15), seja o primogênito dos mortos (cf. Cl1,18), pelo qual Deus quer reconciliar todos consigo. Aqui encontramos, precisamente, a síntese que estava veladamente presente na data do primeiro dia e que, em seguida, deveria determinar a teologia do Domingo Cristão para o futuro. Nesse sentido, todo o conteúdo teológico do Sábado, embora de modo renovado, podia passar na celebração cristã do Domingo. Antes, a passagem do Sábado para o Domingo reflete, precisamente, a continuidade e a novidade da realidade Cristã’.

Nos três primeiros séculos de perseguição na Igreja primitiva, os cristãos não tinham o direito público do domingo e tal celebração externa não podia ter lugar. Quando Constantino, a partir do século IV, transforma o Cristianismo em religião do Império, encontramos em diversas fontes a celebração dos dois dias.  Ratzinger menciona também as Constituições Apostólicas, aqui já referendadas, citando dois textos interessantes. Um texto diz : ‘Transcorreis o sábado e o Dia do Senhor na alegria festiva, porque o primeiro, é o memorial da criação, e o outro aquele da Ressurreição’. Nessas Constituições Apostólicas, um pouco mais adiante, se lê : ‘Eu, Paulo, e eu, Pedro, ordenamos : escravos devem trabalhar cinco dias, no sábado e no domingo devem ter tempo para instrução catequética na igreja. O sábado, de fato, tem o seu fundamento na criação, o Dia do Senhor na Ressurreição’.

A mesma orientação encontramos em São Gregório de Nissa quando diz que esses dois dias tornam-se irmãos. Sobre essa fraternidade dos dois dias, já falávamos que São João Paulo II, na Carta Apóstolica Dies Domini, disse que não faltaram, inclusive, setores da cristandade em que o sábado e o domingo foram observados como «dois dias irmãos»‘[2]. Gregório de Nissa até faz uma pergunta : ‘Com qual olho vês o Dia do Senhor, tu que não tiveste em honra o sábado? Ou não sabes que esses dois dias são irmãos?’[3].

Mas conclui Ratzinger, referendando Willy Rordorf, que o dia espiritual pode ser ‘colocado em um único dia, e naquele caso, o dia de Jesus Cristo, que é, ao mesmo tempo, o terceiro, o primeiro e o oitavo dia, expressão da novidade cristã, como também da síntese cristã, de todas as realidades, deve ter, necessariamente, a precedência’.’

Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] RATZINGER, Joseph. Obras completas, Volume XI, Teologia da Liturgia – Fundamento Existencial da Vida Cristã, Edições CNBB, 2019, p. 229.
[2] JOÃO PAULO II, Dies Domini, 23.
[3] RATZINGER, Joseph. Obras completas, Volume XI, Teologia da Liturgia – Fundamento Existencial da Vida Cristã, Edições CNBB, 2019, p. 231, nota do rodapé.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2024-08/o-sabado-e-o-domingo-na-visao-de-ratzinger.html


quinta-feira, 15 de agosto de 2024

É Deus quem nos chama e envia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo da redação da revista Além-mar 


Após seis anos de presença missionária no Nordeste brasileiro, na missão de Piquiá, periferia do município de Açailândia, no Estado do Maranhão, fomos chamados a uma nova etapa como família leiga missionária comboniana (LMC). No mês de Julho de 2023, partimos com a nossa pequena Maria Aparecida, com pouco mais de 2 anos de idade, até à Casa de Missão Santa Teresinha, casa de referência dos LMC do Brasil, localizada na Vila Ipê Amarelo, periferia do município de Contagem, no Estado de Minas Gerais, região Sudeste, percorrendo mais de 2000 km pelas estradas do Brasil.

Ao chegar às terras mineiras, após mais de três dias de viagem, fomos acolhidos pela LMC Cristina Paulek, que aí estava há alguns meses, preparando-se para partir para a República Centro-Africana. Celebrámos juntos a sua missa de envio na comunidade Nossa Senhora Aparecida, próxima à nossa casa, sendo uma das dez comunidades da paróquia comboniana de São Domingos de Gusmão, na região de Nova Contagem. Seguiu-se um almoço partilhado com as pessoas da comunidade na casa de missão, com momento de memórias da caminhada, da história e presença LMC neste território, e de um «até breve» à Cristina, que tanto se dedicou a este povo, em diferentes momentos da história.

Após a partida da Cristina, a nossa tarefa foi preparar a casa para acolher a família italiana que estava a caminho para integrar a comunidade missionária conosco. Glória, Matteo e o pequeno Natan, de 3 anos, da diocese de Módena, Itália, já tinham ultrapassado os trâmites burocráticos de documentação e visto, e chegariam em breve. Começamos, então, a pensar os espaços da casa, a reorganizar as divisões, de modo que pudesse acomodar as duas famílias com as crianças da forma mais acolhedora possível, proporcionando espaços de privacidade e ambientes em comum. Ao mesmo tempo, iniciamos o processo de aproximação da comunidade e da realidade local, para podermos, aos poucos, escutar e perceber aquilo que Deus nos convida a fazer por aqui. 

 Colaboração missionária

Com a chegada da família italiana, apoiamo-los na tarefa de inserção e inculturação, nos espaços da casa e da comunidade paroquial, seguindo juntos nesse percurso do reconhecimento e escuta da realidade local.

Semanalmente, realizávamos um momento para partilhar as nossas impressões e sentimentos do que fomos vivenciando. Diante dos diferentes desafios existentes, fomos vendo as possibilidades de caminhar junto com as pessoas, a partir daquilo com o que poderíamos colaborar, integrando com isso a nossa realidade de família. 

Um dos passos foi, junto com o padre comboniano Ricardo, animar o Grupo de Espiritualidade Comboniana (GEC) de Nova Contagem, que tinha estado por muito tempo sem se encontrar, e que desde a chegada recente desse padre estava retornando as atividades. O grupo é formado por lideranças das diferentes comunidades da paróquia, e reúne-se mensalmente para aprofundar o carisma comboniano e organizar ações de animação missionária a nível paroquial, como a semana missionária no mês de Outubro, o tríduo do nascimento de Comboni no mês de Março, a memória do martírio do padre Ezequiel Ramín, comboniano italiano assassinado na região amazónica em 1985, no mês de Julho, entre outras. O Flávio tem-se somado no acompanhamento desses encontros e tem sido uma caminhada interessante, também de aproximação com as lideranças, o que proporciona um maior conhecimento e colaboração.

Outro desafio é a presença nas iniciativas da Casa Comboniana de Justiça e Paz, localizada nas proximidades da casa paroquial, que proporciona diferentes serviços : atendimentos psicológicos; terapias de saúde integrativas; grupo de artesanato para mulheres; apoio a pessoas com necessidades de acompanhamento em tratamentos de saúde; atendimento de pessoas em situação de insegurança alimentar, com o fornecimento de cestas básicas de alimentos; pastoral da escuta. Nas instalações também se realizam atividades pastorais e de formação da paróquia, nomeadamente na área da pastoral afro, com a reorganização do movimento dos APN (Agentes de Pastoral Negro) que refletem e aprofundam a questão do combate ao racismo através do resgate das raízes culturais e sua riqueza (iniciativa apoiada pelo Projeto Solidário JIM, ver página 51). 

A Liliana, LMC portuguesa, tem realizado semanalmente o atendimento com a terapia de biomagnetismo neste espaço, terapia que conhecemos no Maranhão e que é um milagre de Deus na nossa vida, pois nos possibilitou a graça de ampliar a nossa família com a vida da nossa filha.

Desafios

Na comunidade do Ipê Amarelo, um desafio percebido foi a desarticulação da associação comunitária do bairro desde o período da pandemia. Era um grupo ativo, sobretudo com o atendimento dos idosos da comunidade, a promoção de momentos de convívio e de conversação, as oficinas de artesanato. Não obstante, desde o período da pandemia, por diferentes razões, incluindo a questão da partilha do espaço físico da sede da associação com outro grupo, as atividades estavam paradas. 

Dialogando com as pessoas e escutando as suas lembranças e expectativas, temos articulado uma retoma desses momentos comunitários, enquanto contribuímos na construção de um diálogo mais colaborativo com o grupo que partilha o mesmo espaço. Há algumas semanas temos conseguido realizar nas segunda e quartas-feiras à tarde um momento de encontro, alternando com rodas de conversa e oficinas de formação. Já conversámos sobre os problemas de abastecimento de água no bairro, prevenção de infarto, terapia de biomagnetismo, pessoas da comunidade que estão em dificuldades. Além disso, o Flávio tem realizado encontros que visam o desenvolvimento da meliponicultura (criação de abelhas melíponas, isto é, produtoras de mel) como forma de colaboração com o meio ambiente, proporcionando espaços para a multiplicação desses agentes polinizadores nos espaços urbanos. E a Liliana iniciou o atendimento com o biomagnetismo também no espaço da associação, sendo um local mais próximo para as pessoas da comunidade.

Em casa, a vida comunitária foi-se organizando e reorganizando, conforme a realidade de cada etapa. No terreno da casa de missão há duas construções. Nos primeiros meses, a nossa família ocupou a sala da casa maior como quarto, enquanto se ampliava a estrutura da casa existente ao lado para poder ter um quarto também para a pequena Maria. A obra, que se pensava levar três meses, levou nove. Quase como gerar uma criança, geramos e gerimos essa relação comunitária ao longo desse tempo e então partimos para o novo espaço, ainda em organização. Têm sido tempos de crescimento e constante amadurecimento, pessoal e das relações. A Maria, desde o início do ano, está na escolinha, também para nós uma nova etapa e desafio, como para todos os pais.

Passado quase um ano desde a nossa chegada, temos vivido diferentes momentos, alguns mais desafiadores, outros mais alegres e motivadores. Integrar missão como família é um caminho exigente, e ao mesmo tempo, profundamente recompensador. Caminhar com a comunidade, ver as crianças integradas, e aprender a cada dia a confiar no Deus que nos envia! Tudo é missão! A vida é missão!

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/1225/e-deus-quem-nos-chama-e-envia/

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Música, espírito e beleza

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Ricardo Abrahão 


A beleza é o ponto central na vida do artista. Ela é condutora e meta ao mesmo tempo. Ao cristianismo o conceito de beleza é vital, pois nada pode ser mais belo do que o próprio Cristo! 

Meu querido amigo Cláudio Pastro muito ensinou a todos sobre as artes e a liturgia. Em seu livro O Deus da beleza nos oferece palavras esclarecedoras, conceitos estéticos e a relação com Deus : ‘Hoje, o que chamamos de beleza está completamente distante de seu centro, de suas raízes, do elemento gerador da própria beleza’. Cláudio se refere ao consumismo e ao comércio que se postam como os ‘produtores’ e não simplesmente portadores da beleza, assunto muito sério nos dias de hoje, inclusive nas igrejas. Há correntes entre religiosos e leigos que associam as expressões do belo como produto de uma sociedade consumista e distante da pobreza cristã. Acabam por não entender nem a beleza nem a verdadeira simplicidade dos pobres de coração.

O músico cristão deve ser pobre, humilde, manso de coração. É pobre quem descobre dentro de seu ser a beleza do Espírito Santo e se deixa conduzir por essa presença suave que a tudo dá vida e equilíbrio. A música sacra é a mais silenciosa resposta do amor de Deus tocando o fundo do coração, abrindo as portas da humanidade para a vida infinita. Jesus ensina no Evangelho que se pode reconhecer uma árvore pelos frutos que dela saem; da mesma forma se pode reconhecer um músico católico pelo amor que tem à liturgia e por total entrega à mais esplêndida beleza, a Eucaristia Ela é tudo! A música deve ser, assim, a reverberação do Espírito Santo na humanidade de quem compõe, toca, canta, ouve. É questão de harmonia e inteligência espiritual, capacidade de percepção que só o pobre de si mesmo pode sentir. Sentir não é saber que existe. Sentir é sentir. Deus vem na brisa suave. É preciso meditar, silenciar a vaidade e o orgulho. É preciso orar. A oração desenvolve a inteligência do coração. Em seu livro O poder do silêncio, Eckhart Tolle escreve : ‘A verdadeira inteligência atua silenciosamente. A calma é o lugar onde a criatividade e a solução dos problemas são encontradas’. Na liturgia só pode haver espaço para amor, calma e beleza.

A música sacra deve ser trabalhada como a arqueologia, que descobre o objeto de origem com paciência, conhecimento e cuidado. O Espírito Santo está pronto dentro de cada ser humano desde a origem da criação até a eternidade. O trabalho do coração é descobrir esse espírito por meio da beleza e do amor. Maurício Meschler, no livro O dom do Pentecostes, diz que ‘a Eucaristia é a obra magnífica do amor de Deus’ e ‘mais íntima ainda é a relação que com o Espírito Santo têm os efeitos da Eucaristia’. Música é beleza e espírito do amor de Deus. Meschler ainda diz que ‘o Espírito Santo que habita em nós quer voltar à sua origem’.

‘A beleza não é um produto do ser humano; está tão acima dele! Ela o atrai, o seduz e, assim, o ser humano não vive sem ela.’ (Cláudio Pastro).

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/musica-espirito-e-beleza.html