Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Jackson Erpen
‘No livro ‘Chi ci aiuta a vivere? Su Dio e
l’uomo’ (‘Quem nos ajuda a viver? Sobre Deus e o homem’), Joseph Ratzinger
escreve que aproximadamente no ano 110 d.C. Inácio, bispo de Antioquia, era
levado de navio da Síria para Roma para ser devorado pelas feras. Durante esta
viagem, com as mãos acorrentadas, escreveu sete cartas às comunidades cristãs
que estavam ao longo do seu itinerário. Em uma destas cartas está a frase :
«Nós não celebramos mais o sábado, mas vivemos observando o dia do Senhor (o
domingo), no qual surgiu também a nossa vida...» (Magn. 9, 1).
Ou seja, os cristãos são formalmente descritos como
pessoas que vivem de acordo com o domingo. A observância do domingo determina o
seu ritmo de vida, caracteriza a sua íntima forma de vida. O domingo é para
eles, por assim dizer, o lugar na trama do tempo onde se chega à própria vida,
se experimenta o que a vida realmente significa.
Esta experiência de vida autêntica continua durante
toda a semana. Permanece, por assim dizer, o tom fundamental que persiste no
ruído da semana e cujo eco nos permite reencontrar sempre a saída, em direção à
luz.
Depois de ‘Domingo, maior do que o Dia do Sábado
Judaico’, Pe. Gerson Schmidt nos propõe a reflexão ‘O sábado e
o Domingo na visão de Ratzinger’ :
‘Joseph Ratzinger, em seu livro Obras Completas
(Volume XI), que aborda sobre a Teologia da Liturgia – O Fundamento Sacramental
da Existência Cristã, descreve sobre o sábado e o domingo, tema que estamos
aprofundando. Santo Inácio de Antioquia diz que ‘aquele que da vida nos antigos
ordenamentos chegou à novidade, à esperança, não é mais um homem do sábado, mas
vive segundo o Dia do Senhor’. Ratzinger diz que ‘o ritmo sabático e a
vida segundo o Dia do Senhor se contrapõem, portanto, como dois
estilos de vida fundamentalmente diferentes : de uma parte, o ser colocados estavelmente
sobre determinados trilhos normativos; de outra, o viver com base no que há de
vir, com base na esperança. O teólogo alemão, que se tornou Papa Bento XVI, faz
uma pergunta : Como se desenvolveu concretamente da observância do
sábado para a celebração do domingo?
E responde : ‘Podemos considerar, por certo, que,
já na época apostólica, o dia da Ressurreição se impôs por si mesmo como dia da
Assembleia Cristã : era o ‘Dia do Senhor’(Apc 1,10), o dia no qual Ele(Jesus)
entrava entre os seus e os seus iam ao seu encontro. Assembleia em torno do
Ressuscitado significa que Ele partia de novo o pão para os seus (cf. Lc
24,30.35). Era um encontro com o Cristo presente, um encaminhar-se em direção a
sua vinda final e em tudo isso, ao mesmo tempo, estava a presença da Cruz como
a sua verdadeira elevação, como o evento do seu amor que se distribui em dom. O
Novo Testamento, como, também, os escritos mais antigos do século II, confirmam
muito claramente : o Domingo é o dia do culto dos cristãos’. Ratzinger embasa esses
dados em outro teólogo alemão Willy Rordorf, em sua obra ‘Sabbat e Sonntag
in der Alten Kirche, ou seja, o ‘Sabbat (judaico) e o Domingo na Igreja Antiga’[1].
O grande teólogo Joseph Ratzinger diz que a
Ressurreição conecta criação e restauração, início e fim e cita o Hino
Cristológico de São Paulo na Carta aos Colossenses. Afirma assim : ‘Mas o nexo
com a temática da criação, que para o Sábado é essencial, era implícito, mesmo
de uma forma mudada, na data do primeiro Dia da semana, isto é, o dia no qual
teve início a criação : a Ressurreição conecta início e fim, criação e
restauração. No grande hino Cristológico da Epístola aos Colossenses, Cristo
vem chamado, seja o primogênito da criação (cf. Cl 1,15), seja o primogênito
dos mortos (cf. Cl1,18), pelo qual Deus quer reconciliar todos consigo. Aqui
encontramos, precisamente, a síntese que estava veladamente presente na data do
primeiro dia e que, em seguida, deveria determinar a teologia do Domingo
Cristão para o futuro. Nesse sentido, todo o conteúdo teológico do Sábado,
embora de modo renovado, podia passar na celebração cristã do Domingo. Antes, a
passagem do Sábado para o Domingo reflete, precisamente, a continuidade e a
novidade da realidade Cristã’.
Nos três primeiros séculos de perseguição na Igreja
primitiva, os cristãos não tinham o direito público do domingo e tal celebração
externa não podia ter lugar. Quando Constantino, a partir do século IV,
transforma o Cristianismo em religião do Império, encontramos em diversas
fontes a celebração dos dois dias. Ratzinger menciona também as Constituições
Apostólicas, aqui já referendadas, citando dois textos interessantes. Um
texto diz : ‘Transcorreis o sábado e o Dia do Senhor na alegria festiva, porque
o primeiro, é o memorial da criação, e o outro aquele da Ressurreição’.
Nessas Constituições Apostólicas, um pouco mais adiante, se lê : ‘Eu,
Paulo, e eu, Pedro, ordenamos : escravos devem trabalhar cinco dias, no sábado
e no domingo devem ter tempo para instrução catequética na igreja. O sábado, de
fato, tem o seu fundamento na criação, o Dia do Senhor na Ressurreição’.
A mesma orientação encontramos em São Gregório de
Nissa quando diz que esses dois dias tornam-se irmãos. Sobre essa fraternidade
dos dois dias, já falávamos que São João Paulo II, na Carta Apóstolica Dies
Domini, disse que não faltaram, inclusive, setores da cristandade em
que o sábado e o domingo foram observados como «dois dias irmãos»‘[2].
Gregório de Nissa até faz uma pergunta : ‘Com qual olho vês o Dia do Senhor, tu
que não tiveste em honra o sábado? Ou não sabes que esses dois dias são irmãos?’[3].
Mas conclui Ratzinger, referendando Willy Rordorf,
que o dia espiritual pode ser ‘colocado em um único dia, e naquele caso, o dia
de Jesus Cristo, que é, ao mesmo tempo, o terceiro, o primeiro e o oitavo dia,
expressão da novidade cristã, como também da síntese cristã, de todas as
realidades, deve ter, necessariamente, a precedência’.’
Padre Gerson Schmidt foi
ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e
Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela
FAMECOS/PUCRS.
_______________
[1] RATZINGER, Joseph. Obras completas, Volume
XI, Teologia da Liturgia – Fundamento Existencial da Vida Cristã, Edições
CNBB, 2019, p. 229.
[2] JOÃO
PAULO II, Dies Domini, 23.
[3] RATZINGER,
Joseph. Obras completas, Volume XI, Teologia da Liturgia – Fundamento
Existencial da Vida Cristã, Edições CNBB, 2019, p. 231, nota do
rodapé.
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2024-08/o-sabado-e-o-domingo-na-visao-de-ratzinger.html
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