Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da Agência Fides
‘Confundidos com espiões
inimigos e, por isso, assassinados. Este foi o destino compartilhado durante a
Segunda Guerra Mundial por vários missionários católicos empenhados na
evangelização da Papua Nova Guiné, um território muitas vezes palco de batalhas
atrozes durante o conflito.
As verdadeiras chuvas de bombas começaram a cair em 21 de janeiro de
1942, quando as forças japonesas atacaram a cidade de Rabaul. Na época, o
vigário apóstólico de Nova Guiné Central e bispo titular de Medeli era o bispo
alemão Joseph Lörks. Apósa sua nomeação por Pio XI, havia sido ordenado pelo
cardeal Karl Joseph Schulte, arcebispo metropolita de Colônia, em 17 de
dezembro de 1934, na igreja da missão ‘Santo Agostinho’, perto de Bonn. Ao
chegar à Oceania, ele dedicou-se ativamente na difusão do Evangelho, suscitando
forte apreço por parte da população local.
Quando as forças japonesas desembarcaram em Papua Nova Guiné em 1942,
não viram com bons olhos a presença dos sacerdotes. Desconfiados de todos os
ocidentais, muitos deles, incluindo o bispo alemão, foram brutalmente
interrogados. Durante um desses interrogatórios, Lörks também foi ferido com
uma baioneta.
A obra de evangelização foi ainda mais provada quando os japoneses
tomaram posse de uma casa de missão estrategicamente posicionada no topo de uma
colina. A oposição de alguns missionários ocidentais aumentou ainda mais as
suspeitas entre os militares japoneses de que eram espiões do exército dos EUA.
O equilíbrio desapareceu definitivamente após a Batalha do Mar de
Bismarc, ocorrida em março de 1943, e que representou uma derrota desastrosa
para as forças japonesas. Naquele período, um missionário havia fornecido
secretamente roupas e alimentos aos prisioneiros americanos. O religioso foi
denunciado por moradores locais, e em resposta, dois sacerdotes foram
fuzilados.
Todos os outros missionários, incluindo dom Lörks, foram levados a
bordo de um contratorpedeiro japonês, o Akikaze. Para os fazer subir a bordo,
foi dito aos sacerdotes de que seriam deportados para os seus países de origem.
Nesse ínterim, foram levados a bordo outros missionários protestantes.
No dia 17 de março, via rádio, chega a sentença de morte: o capitão do
contratorpedeiro recebeu ordens para executar todos os missionários com um
pelotão de fuzilamento. Dom Josef Lörks foi o primeiro a ser executado. Os
corpos daqueles cristãos foram então jogados no oceano.
Essas execuções, no entanto, não foram tornadas públicas. Soube-se da
barbárie ocorrida no Akikaze somente em 1946, durante algumas investigações
sobre crimes de guerra. A justiça humana, porém, não agiu em favor dos
executados: nunca houve um processo pelos fatos ocorridos no navio.
Outro bispo alemão, Franziskus Wolff, também morreu tragicamente
durante o cativeiro japonês. Dom Wolff liderava o Vicariato da Nova Guiné
Oriental quando, juntamente com 7 sacerdotes e 16 religiosos e 30 religiosas,
foram forçados a embarcar num navio para serem deportados para um campo de
prisioneiros japonês. Para eles, a morte veio do céu: não foram executados
pelos militares japoneses, mas pelas bombas dos americanos que interceptaram o
navio de guerra.
Décadas depois desses horrores, pode-se afirmar que os missionários em
Papua Nova Guiné pagaram um preço muito alto. Não somente pela perda de vidas
humanas. Ao final da guerra, quase 90% das obras realizadas pelos religiosos
foram completamente destruídas pelos japoneses que tentaram apagar a fé cristã
dos povos autóctones.
Contudo, não faltaram testemunhas de fé como Peter ToRot, que naqueles
anos sombrios de violência e horror manteve viva a fé no coração das pessoas.
Esse foi o alicerce sobre o qual a Igreja lançou as bases para reconstruir e
continuar o trabalho dos missionários brutalmente assassinados.
Contudo, a Europa estava devastada e os sacerdotes do Velho Continente
não chegaram imediatamente. Assim, os missionários que estiveram inicialmente
envolvidos na reconstrução chegaram da América e da Austrália. Hoje a Igreja
não esqueceu o sacrifício daqueles missionários e incluiu o bispo Joseph Lörks
entre as testemunhas de fé no martirológio alemão do século XX.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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