*Artigo de Dom Reginaldo Andrietta,
Bispo da Diocese de Jales, SP
‘O mundo enfrenta, atualmente, uma de suas piores
crises humanitárias. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), se todas as
pessoas que necessitam de ajudas humanitárias emergenciais se juntassem em uma
nação, essa seria a quinta nação mais populosa do planeta, com perto de 235
milhões de habitantes. A Organização das Nações Unidas também destaca, entre as
principais causas da extrema pobreza que atinge 736 milhões de pessoas,
diversos tipos de conflitos.
Nesses conflitos, em
geral, de cunho político, econômico, étnico e religioso, comumente as elites
locais, associadas a interesses de grandes nações e corporações internacionais,
buscam apropriar-se dos poderes do Estado, impor-se midiática e militarmente,
tirar proveito de recursos públicos e naturais e beneficiar seus negócios.
Embora os setores sociais e econômicos mais frágeis sofram as piores
consequências desses conflitos, todos perdem.
Conflitos assim, além
de gerarem mortes e miséria, destroem culturas e o potencial de fraternidade
entre povos e nações. Conflitos nunca são benéficos; como solucioná-los senão
sanando suas causas, por meio do diálogo civilizado, fundado nos valores de
fraternidade, justiça, liberdade, corresponsabilidade? Como, pois, exercer o
diálogo no Brasil atual, com esses critérios, neste tempo de grandes tensões
que afetam nossa vida cotidiana?
Consideremos, por
exemplo, que o grande número de mortos pela covid-19 podia ter sido evitado se,
desde o início dessa pandemia, cidadãos, instituições e gestores públicos
tivessem agido unificadamente, de modo mais corresponsável. Mortes podem ainda
ser contidas. No entanto, prevalecem autoritarismos políticos e estímulos a
polarizações e divisões na sociedade, que sufocam clamores populares em defesa
da saúde pública.
Quais outras situações
conflituosas, de grande magnitude, afetam-nos? Desigualdades econômicas
extremas, racismo e intolerância a modos de vida, a religiões e a visões
políticas diferentes. Divididos somos facilmente dominados e explorados.
Desunida, nossa nação continua sendo saqueada. Vale, pois, enfatizar a
afirmação de Cristo : ‘Todo reino dividido ficará em ruínas; toda cidade ou
casa dividida não se sustentará’ (Mt 12,25).
Como acabar com o que
nos divide e construir uma convivência social pacífica e justa? O que a Igreja
nos propõe, por meio da Campanha da Fraternidade deste ano, é simples e
fundamental : derrubar os muros da inimizade por meio de nossa comunhão em
Cristo, fonte de paz. Na perspectiva bíblica, a paz é fruto da justiça (cf. Is
32,17), construída pelo diálogo amoroso que une corações e unifica ações em
prol de um projeto comum de sociedade.
Rejeitemos, portanto,
tudo o que divide o próprio corpo de Cristo, a Igreja. Testemunhemos o amor
fraterno de forma inquestionável, pois assim seremos reconhecidos como
discípulos de Jesus (cf. Jo 13,35). Sejamos solidários, especialmente com os
que necessitam de ajuda emergencial para sobreviver. Unamo-nos contra todo tipo
de dominação e violência. Almejemos, enfim, ser ‘perfeitos na unidade’ (Jo
17,23) para salvar a humanidade.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/unidade-para-salvar-a-humanidade.html
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