Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da Agência Fides
‘‘Se quiserem ver o
inferno, devem ir ao Líbano, à Síria e, hoje, também à Terra Santa. O espírito
diabólico desta época conduz o mundo ao inferno, quer transformá-lo em um
inferno. E nós realmente estamos vivendo no inferno’, afirmou o arcebispo
Jacques Mourad em artigo publicado pela Agência Fides.
Em apenas alguns
dias, deparamo-nos com as mortes atrozes de milhares de inocentes; bombardeios
de centros de saúde e sofrimento, que deveriam ser os últimos presídios da
humanidade; reféns expulsos com violência de suas casas; organizações
humanitárias, que trabalham para levar alívio aos corpos e almas dos
dilacerados pela guerra, são atacadas; as instituições internacionais apenas
demonstram a sua impotência, sem poder tomar nenhuma decisão.
Também na Síria,
enquanto visito a minha diocese, vejo todos os dias, idosos e crianças, homens
e mulheres que vasculham latões de lixo em busca de comida. Quando começar o
frio, ninguém terá meios e recursos para aquecer suas casas. Este é o mundo que
se tornou um Inferno.
Se a nossa terra
estiver se tornando um Inferno, é porque poderes insaciáveis perseguem interesses
insaciáveis. É o que disse o Papa
Francisco, de modo calmo e, ao mesmo tempo, determinado, ao afirmar que ambos
os povos têm direito a um Estado próprio.
É desumano ver os
palestinos que matam israelenses nos kibutz; é desumano ver os israelenses que
bombardeiem igrejas e hospitais; ficamos escandalizados e aflitos ao ver bombas
lançadas sobre hospitais, em Homs e Aleppo. Agora, tudo isso se repete em Gaza.
Justificar os
bombardeios e os tiros de canhão sobre Gaza, como meio para extirpar o mal,
também faz parte do Inferno, que invade as nossas terras. O mal não pode ser
extirpado com o mal. Para eliminar o mal, que destrói corpos e almas, é
preciso, primeiro, eliminá-lo dos nossos corações. Somente um coração puro
poderá purificar outros corações. A purificação dos corações acontece sempre
depois da justiça, não antes e nem contra a justiça com a força.
Os palestinos têm
direito de viver em liberdade nas suas terras. Esta terra também é deles. Desde
1948, eles vivem como refugiados em campos espalhados por todo o Oriente Médio.
Agora, a mesma coisa está acontecendo com milhões de sírios.
Os palestinos sofrem
há decênios; seu sofrimento é transmitido de geração em geração, sem nenhuma
resposta e sem ninguém para ouvi-los. Eles são vítimas de violências, não só
por militares israelenses, mas também de outros países, inclusive os países árabes.
Recordando a
necessidade da existência de dois Estados para dois povos, o Papa Francisco
propõe a chave para tentar resolver todas as questões e conflitos em andamento
no Oriente Médio, e não apenas o problema entre israelenses e palestinos.
Quem continua a
perseguir o projeto de reconstituição dos antigos Reinos, na área histórica
entre Eufrates e Nilo... quem diz que é preciso extirpar outros povos da
região, que vai do rio ao mar, pretende excluir para sempre do horizonte, do
futuro e da história a possibilidade de um Estado da Palestina e a ideia da
convivência de dois povos em dois Estados. Se o mundo tolerar e justificar
isso, confirma a injustiça e rouba a esperança.
Devemos levantar,
hoje, a questão : as potências mundiais pretendem continuar nesta direção? A
resposta diz respeito ao futuro desta terra e de toda a Terra. A resposta não
se refere apenas às guerras dos nossos dias, mas à possível catástrofe de
lançar sementes de guerras, que poderão explodir daqui a dez, vinte ou
cinquenta anos. Não somos responsáveis apenas pelo que acontece hoje nas regiões
de conflitos. Deveremos prestar contas do futuro de toda a Terra e das consequências
das guerras, em termos de fluxos migratórios, criação de novos campos de
refugiados e esgotamento de recursos vitais como a água.
Por isso, estou
impressionado com a viagem que o Papa Francisco fará a Dubai, para participar
na COP 28 : isso demonstra também a preocupação da Igreja com a emergência
climática e ambiental, e tudo o que envolve a vida e o bem dos povos e do
mundo.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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