Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Manuel Augusto Lopes Ferreira,
Missionário
Comboniano
‘Proponho como título
para a reflexão deste mês a expressão «a solidão da fé», que li
recentemente e me impressionou. A frase pertence a um grande pensador cristão
do século XX (Romano Guardini) e foi dita em 1950, como profecia da
secularização que se anunciava na Europa e do dissolver-se de qualquer
influência cristã na cultura e sociedade europeia. «A solidão da fé será
tremenda» diante deste retirar-se da fé cristã para a vida e consciência
individual.
A solidão está a ser,
efetivamente, tremenda, mas temos de a assumir como discípulos-missionários,
nesta hora de repensarmos a missão. E causa sofrimento, como vemos na admissão
de tantos cristãos, mais ou menos idosos, a ressentirem-se por terem feito tudo
para transmitir a fé e educar no caminho cristão os seus filhos e a comprovarem
o abandono a que os mesmos deitaram a fé. Como vemos na incapacidade, que
sentimos todos, para encontrar as palavras adequadas para falarmos da fé e
testemunharmos o Evangelho; é mais fácil adequarmos as nossas atitudes
(respeito, diálogo, afeto) do que encontrar palavras convincentes e
esclarecedoras. Ou na solidão que experimentamos, agora no pós-covid, ao
olharmos ao redor e nos reencontrarmos sozinhos nas celebrações, em igrejas
vazias, em comunidades reduzidas de número e de vitalidade.
Este sofrimento e
esta solidão são transversais e não se verificam só entre os leigos. Os
sacerdotes também se sentem sozinhos, descontentes talvez com os fiéis, mas
também com os seus bispos, a sofrerem as consequências desta nuvem de suspeição
que paira sobre eles por causa dos casos de abuso no exercício do ministério.
Os bispos também sofrem solidão, nas dificuldades do relacionamento com os
sacerdotes ou na incapacidade de se colocarem em sintonia com os percursos do atual
pontificado. Se a situação dos abusos veio dificultar o relacionamento dos
bispos com os sacerdotes (já não são só pais e pastores, irmãos maiores, mas
gestores que têm de aplicar políticas de tolerância zero), as dinâmicas do
pontificado e do magistério do Papa Francisco vieram colocar sob pressão o
ministério episcopal (se o papa fala diariamente sobre tudo e para todos, que
mais podem dizer os bispos senão ecoar as opiniões do papa?!).
Sentimo-nos todos, de
uma forma ou de outra, invadidos por este sentimento de solidão, de orfandade
espiritual, porque a Igreja que temos (a nossa comunidade, paróquia ou
diocese...) não corresponde às nossas expectativas : os nossos sonhos
desvanecem-se e o que vemos à nossa volta (parece que) não nos corresponde ou
pertence. Sentimos o peso da ausência, mais do que a alegria da presença... do
que temos e vivemos.
Trata-se de uma sensação
que já o Senhor Jesus detectou nos primeiros discípulos, ao falar do sentir-se
órfãos, diante da perspectiva da sua ausência (não vos deixarei órfãos!).
Cristo promete a consolação de um guia interior, o Espírito Santo, cuja vinda
acabamos de celebrar no Pentecostes : uma promessa que é também para nós hoje,
no dom de um Espírito capaz de abater a barreira da solidão e abrir-nos a uma
renovada compreensão da vida e da missão cristã.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/998/a-solidao-da-fe/
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