Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo
protestante
‘É
muito comum ouvirmos em nosso dia a dia que o diálogo é algo necessário e,
possivelmente, nenhuma leitor ou leitora desse texto discordará de tal
afirmativa. No entanto, a primeira pergunta que se deve fazer antes de se
abordar qualquer tema a respeito dos diálogos é, justamente, a respeito da
categoria do diálogo. Embora se pareça algo que o próprio senso comum dá conta,
na vida diária é possível se perceber que, muitas vezes, os conceitos mais
fáceis são aqueles mais difíceis de se colocar em prática.
O
dicionário Houaiss define o diálogo como ‘trocar (interlocutores) opiniões,
comentários etc., com alternância dos papéis de falante e ouvinte; conversar’,
e como ‘procurar entender-se [com outra(s) pessoa(s) ou outro(s) grupo(s)]’.
Essa definição, por si só, já esclarece alguns pontos sobre os quais é
necessário certa atenção (HOUAISS, 2001, p.1031).
Em
primeiro lugar, trata-se de uma troca de opiniões. Por mais simples que se
possa parecer, é importante observar que, para que se haja esse troca de
opiniões é necessária a presença tanto de um outro, como também das opiniões
diferentes a serem trocadas. Do contrário, não faz sentido se fazer trocas de
opiniões quando as duas são iguais, uma vez que, se dois falam a mesma coisa,
um deles está sobrando (Cf. MOLTMANN, 2004, p. 29).
Diante
disso, a presença de um outro que pensa diferente se mostra como tarefa
imprescindível para que haja algum tipo de diálogo. O outro, aquele que se
coloca como o que vem de fora, é condição sine qua non nesse
processo.
Um
segundo ponto que chama a atenção é que o diálogo é um procurar entender-se com
outras pessoas e grupos. Nisso reside o uso daquilo que chamamos de empatia. A
busca do entendimento a respeito da posição do outro implica em atentar para o
que outro tem a dizer sobre determinado assunto, na tentativa de compreender
seus pontos de partidas, caminhos e chegada.
Disso,
é possível dizer que para que o diálogo seja efetivado, a disposição para a
escuta é tarefa salutar. Não há como dialogar quando se há somente uma fala e
não é possível fazer uma troca séria sem ouvir e atentar naquilo que se está
trocando, seja uma mercadoria, seja opiniões sobre o assunto.
Diálogo
e empatia, dessa forma, são tarefas que se entrecruzam. Não há diálogo sem
empatia para como aquele ou aquela com quem quero dialogar. Assim, o diálogo se
mostra como desafio duplo : ao mesmo tempo em que é um convite para o
acolhimento do diferente em sua diferenciabilidade, também o é ao nos desafiar
a ouvir profundamente o outro naquilo que ele tem a nos dizer de sua realidade
e visão de mundo. Não tem como tentar fazer qualquer tipo de diálogo sem ter
consciência daquilo que se espera dele.
Com
isso em mente, parece-nos claro que dialogar não tem a ver com o convencimento.
A partir do momento em que há o convencimento do outro, encerra-se o diálogo;
passa-se a ser uma partilha ou algum tipo de ensinamento a respeito do tópico
que, anteriormente, estava em questão.
Infelizmente,
muito dos chamados diálogos ecumênicos e inter-religiosos que vemos em nossos
dias seguem nessa toada, disfarçados de diálogos, nada mais são do que
tentativas de proselitismo.
Nesse
ponto, também é papel da teologia ser fomentadora do diálogo, de maneira a
cooperar para uma sociedade mais justa, igualitária, sem preconceito e
discriminação.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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