Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Manuel Augusto Lopes Ferreira,
Missionário Comboniano
‘Começamos a rubrica destinada
a favorecer um aprofundamento das palavras-chave do vocabulário do Papa
Francisco, relevantes para a missão, com Encontro. Ele recorda-nos que na
origem da fé não está uma ideia ou um ideal ético, mas sim um «encontro»
com uma pessoa concreta, Cristo; e que a identidade do caminho cristão se vive
no encontro com Deus e os outros.
Já na narrativa bíblica da
criação, a terra é idealizada como lugar do encontro da pessoa com as outras
criaturas e com a Natureza, num dinamismo de fruição e de liberdade, sob o
olhar de Deus que «passeava no jardim ao cair da tarde». Com a
experiência traumática da liberdade e da falta de confiança em Deus e no outro,
introduz-se nas relações humanas o medo e a distância, que tornam o encontro
problemático. Deus continua a descer e a passear no jardim, à procura de um
encontro, mas «o homem e a mulher escondem-se do Senhor no meio das árvores
do jardim» e culpam-se um ao outro pelo desconforto do encontro (Génesis 3,
8-13).
Na raiz do caminho de fé está a
ideia do encontro entre Deus e aqueles que Deus escolhe para viver em aliança.
A tradição litúrgica em Israel constrói-se, igualmente; sob o paradigma do
encontro. O primeiro templo que o povo da aliança conhece é a tenda. A palavra
«tenda», em hebraico, tem a mesma raiz que a palavra «encontro». A tenda
guarda a arca da aliança, com as tábuas da Lei, e é chamada lugar do encontro.
Jesus insere o seu movimento
neste dinamismo do encontro : com o seu ensinamento itinerante procura um
encontro com as pessoas, nos seus lugares habituais de encontro (na sinagoga,
nas praças, nos caminhos, nas margens do lago). Ele faz o anúncio da soberania
de Deus, num modo e com palavras que favorecem o encontro e expõe-se à surpresa
que cada encontro comporta, com a possibilidade de abertura, mas também de
recusa. Os evangelhos dão-nos conta destes encontros de Cristo com as pessoas.
Primeiro, na intimidade da casa, na relação pessoal, em que o mistério da
pessoa se revela e a identidade se constrói. Depois, no tumulto da vida e do
trabalho. Por fim, no meio da alegria de viver, à volta da mesa, nas festas e
nos momentos decisivos da vida das pessoas e da comunidade. No centro deste
movimento estão os excluídos (pobres e doentes), de uma sociedade que, apesar
de ser construída sobre a aliança com Deus e com os outros, consentia o
descarte de pessoas. Jesus procura o encontro e oferece uma resposta, na sua
palavra e na sua acção.
Francisco convida-nos a
reconduzirmos a vida cristã a este paradigma do encontro, e a não nos deixarmos
roubar a alegria do encontro com Cristo e os irmãos (Evangelii Gaudium 1
e 92). E a iluminarmos a missão dos cristãos no mundo de hoje com o sonho da
fraternidade humana : na Fratelli Tutti (216-221) ele sugere
um modelo de missão centrado na fraternidade; e propõe também, às demais
religiões e às pessoas de boa vontade, a cultura do encontro que torne possível
uma política melhor.
Nós, nesta questão como
noutras, deixamos o papa a falar sozinho. Ele fala ao coração das pessoas, com
palavras que elas entendem e com gestos que falam da sua procura de encontros
com todos, a começar pelos descartados da nossa sociedade tão opulenta e
fechada em si.’
Fonte : *Artigo
na íntegra
https://pt.aleteia.org/2022/01/21/entrevista-com-um-monge-o-deserto-pode-ser-um-lugar-implacavel/
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