Por
Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
jornalista
‘‘Uma batalha cultural em
que a sociedade, as escolas e mesmo a Igreja devem estar envolvidas, cuidando
das emoções das crianças para que elas possam tornar-se adultos conscientes’.
A irmã Rita Giaretta tem o dom da clareza, fruto dos anos passados nas ruas,
recolhendo os pedaços de mulheres ‘massacradas’, como ela diz, pela
violência e abusos. O seu trabalho deu vida à ‘Casa Rut’ em Caserta, que
em 25 anos de vida acolheu 600 mulheres e os seus filhos libertados do tráfico,
e à ‘Casa del Magnificat’, em Roma. Ela também repete o ‘Basta’
pronunciado pelo Papa Francisco na homilia da Missa de 1º de janeiro, na
Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus.
A coragem de dizer ‘basta’
‘Nas palavras do Papa
Francisco’, diz a irmã Rita, ‘ouço um grito de dor, de indignação
perante toda esta violência, mas também a coragem e a força para denunciar e
dizer 'basta', que deve ser levado a sério na Igreja, nas instituições, na
política e nas famílias. ‘Olhemos para o Natal, quando celebramos um Deus que
se torna humano, que encontra a carne, que precisa do ventre de uma mulher e
pede gentilmente o seu consentimento’. ‘Como mulher, durante anos
empenhada em acolher este grito, este cansaço, este sofrimento, esta violência,
este cancelamento da vida de tantas mulheres’, diz ela, ‘chegamos a um
ponto em que precisamos unir as forças’.
A voz das mulheres
A irmã Rita fala da batalha
cultural a ser enfrentada diante da violência que por vezes é percebida como um
dado de fato. Devemos partir do modelo masculino que é proposto, ‘ajudar os
homens a verem-se de forma diferente, caso contrário não sairemos disso’. A
voz das mulheres, diz ela, deve ser ouvida, especialmente no seu desejo de
mudança, ‘mas não para oferecer oportunidades, simplesmente fazendo falar o
Evangelho, vivendo-o porque no Evangelho havia discípulos e discípulas, Jesus
precisava de mulheres e homens, e unia, em Cristo estamos todos com as nossas
diferenças, mas somos um’. ‘A Igreja é mulher, leva a humanidade dos
filhos’, o Papa reiterou na sua homilia de 1º de Janeiro; um conceito que a
irmã Rita sente particularmente seu e recorda modelos de grandes santas ‘que
com coragem e grande liberdade’ deixaram uma marca importante, entre elas ‘Santa
Clara, Santa Catarina de Sena e Santa Angela Merici, fundadora das Ursulinas’.
‘A força para nós, religiosas, é o dom do carisma, mas é importante ter o
cuidado de o fazer viver na especificidade de cada mulher, num contexto de
comunhão e fraternidade, sem nunca sufocar a dignidade’.
O medo de educar
Os últimos casos na imprensa na
Itália - um pai que matou o seu filho e tentou matar a sua ex-esposa - tocam as
consciências. Uma mulher que sofre violência na família marca a vida dos seus
filhos, que olham para esse modelo para comunicar a sua raiva ou impaciência. ‘Deve
chegar um momento em que esse círculo vicioso deve ser quebrado’, diz a
irmã Rita, ‘e um processo cultural, educacional e de formação deve assumir o
controle para aprender o respeito e o reconhecimento pelos outros’. ‘Quando
chega a violência, é porque a mulher se torna propriedade, uma mercadoria. É
uma mentalidade que causa a morte. Devemos ensinar as crianças a não terem medo
de chorar, explica, dizendo-lhes que é bonito comover-se diante de um animal,
de uma flor, de um pôr-do-sol. Por que evitar o espanto, a maravilha? É preciso
trabalhar a dimensão dos sentimentos, das emoções. O desafio é educar, mas o
meu receio é que hoje todos tenhamos medo de educar’.
Dor, ouro precioso
Qual é a forma de fazer
florescer uma mulher maltratada? Para a irmã Rita os passos são lentos ‘porque
as feridas continuam a sangrar, mas é necessário dizer-lhes que a ferida
permanece e dói, mas que o muro pode ser ultrapassado, que a dor também pode
ser transformada em ouro precioso’. Chamar as pessoas pelo nome, não as
trancar em definições pré-concebidas : é muito. ‘O que significa nascer de
novo eu compreendi destas mulheres que, nas nossas experiências como mulheres
da Igreja, com a nossa presença, com a nossa maternidade, descobriram um mundo
diferente’. ‘Devemos partir do olhar, com ternura, com confiança e com
esperança. Sem esta base de humanidade que Jesus nos trouxe, não iremos longe’.
A Irmã Rita conclui : ‘Basta um olhar e você sente que está tocando o céu, e
através de nós elas sentem que existe Emmanuel, Deus-conosco, e nós também o
sentimos. Precisamos de muita concretude, de muita humanidade’.’
Fonte : *Artigo
na íntegra
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