Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Vitor Roberto Pugliesi Marques
‘Em pleno século XXI, seja
entre crédulos e incrédulos, poucos são os que não reconhecem em Santo Tomás de
Aquino um dos maiores filósofo e teólogo de todos os tempos.
Nascido por volta do ano de
1226, no vilarejo de Roccasecca, uma província italiana da região do Lácio,
Tomás era o sétimo filho do Conde Landolfo de Aquino, tendo vivido em uma época
de intensos conflitos políticos e religiosos. Construiu ao longo de sua vida
uma obra tão grandiosa, que o fez ser declarado Doutor da Igreja, recebendo
diversos reconhecimentos ao longo da história, tais como os presentes na
encíclica Aeterni Patris, do papa Leão XIII, que o declara ‘guia
e mestre’ de toda a teologia escolástica.
Uma dos pontos biográficos de
Santo Tomás de Aquino bem conhecidos é a alcunha de ‘Boi Mudo’, que
recebeu dos colegas universitários. Tal apelido deu-se devido à combinação de
um corpo obeso e alto associado a um silêncio contínuo, que dava ao seu
semblante um aspecto de lentidão de raciocínio e vagareza. Entretanto, as
palavras do seu mestre, Santo Alberto Magno, foram proféticas quando anunciou a
todos : ‘Vocês o chamam de Boi Mudo; eu lhes digo que esse Boi Mudo mugirá
tão alto que seus mugidos preencherão o mundo’. Ao lermos a obra deixada
por Santo Tomás de Aquino, entendemos que atrás daquele semblante escondia-se
um silêncio fértil e altamente comprometido com as necessidades da alma humana,
tal como afirmou seu mestre. Assim, cabe-nos aqui, a oportunidade de discorrer
breves palavras sobre a perspectiva cristã do silêncio.
O capítulo sexto da Santa Regra
de São Bento versa exclusivamente sobre essa virtude cristã. Embora se traduza
o termo em latim taciturnitate (o título original desse
capítulo) como silêncio, talvez seria melhor manter o termo taciturnidade,
mesmo que seja menos familiar aos nossos ouvidos. Isso porque o silêncio
pregado por São Bento aos seus monges não representa apenas o ato físico de não
vibrar as cordas vocais (embora esse artifício seja por demais estimulado
também), mas, sim, uma atitude de recolhimento da alma, que a permite aprender,
meditar e agir de modo santo no dia a dia. Certamente, esse era o silêncio
vivido por Santo Tomás. Por fora, colocava-se com alguém desatento, entretanto,
por dentro, vibrava seu espírito em união com Deus, na busca de respostas para
as mazelas humanas.
No livro de Provérbios, se lê :
‘não pode faltar o pecado num caudal de palavras; quem modera os lábios é um
homem prudente’ (Pv 10,19). Esse versículo nos ensina o porquê de o
silêncio ser tão desejado por Deus e tão vivido pelos seus santos.
Colocando-nos em atitude de ‘tagarelice’, logo chegará a ocasião de
ofensa ao próximo, a ocasião de lamúria diante da vida e sabe Deus lá onde isso
pode parar em termos de pecado. Não significa que conversas santas e próprias a
edificar não sejam bem-vindas; pelo contrário, elas são estimuladas pelo
próprio São Bento no capítulo previamente colocado, mas uma vez que se perceba
que o tom da conversa levará ao pecado, esta logo deve ser interrompida. Com o
progresso da vida espiritual, entende-se que a melhor conversa é aquela na qual
se ouve o ensinamento de um mestre e os medita no coração.
Em um contexto moderno,
assolado pelas redes sociais, em que todos querem falar, sobretudo por meio do
excesso de exposição da vida íntima e por meio da postagem e de textos que,
muitas vezes, não têm proficiência e não atestam a veracidade, a taciturnidade
de Santo Tomás convida-nos ao comportamento oposto : do recolhimento em Deus e
da escuta do Espírito Santo dentro de nós. Que saibamos crescer em silêncio,
tal como a Virgem Santíssima, que ‘conservava todas as palavras,
meditando-as no seu coração’ (Lc 2,19).
Santo Tomás de Aquino, rogai
por nós!’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/09/07/a-virtude-do-silencio-santo-tomas-e-o-ensinamento-monastico/
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