terça-feira, 18 de agosto de 2020

Monges formam resistência contra patriarca

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 O mosteiro de Esphigmenou é um dos 20 mosteiros do Monte Athos

O mosteiro de Esphigmenou é um dos 20 mosteiros do Monte Athos

 *Artigo de Bernard Litzler,

Tradução : Ramón Lara

 

‘Os monges do mosteiro ortodoxo grego de Esphigmenou se opõem fortemente às orientações ecumênicas de seu patriarca Bartolomeu I. Os tribunais civis do país ordenaram que deixassem seu lar, evacuado pela força policial em 24 de julho de 2020. Mas os clérigos excomungados resistem.

Agora não há nada realmente pacífico no Mosteiro de Esphigmenou. Considerados ultraortodoxos, seus monges se distinguem de outros por suas posições intransigentes e radicais. Recentemente, um conflito de perspectivas que vinha se gestando por muitos anos aumentou.

Em 8 de julho de 2020, o Tribunal Constitucional grego ordenou que os monges evacuassem o prédio. Em 24 de julho, uma grande operação policial foi realizada, durante a qual a própria edificação e a hospedaria para peregrinos foram evacuados.

Um cisma cada vez mais profundo

O Monte Athos, patrimônio mundial da Unesco, está localizado na Península de Chalkidiki, no nordeste da Grécia. Permanece um fascínio para os ocidentais, pelo menos os homens, em busca de Deus. Atualmente, o acesso é proibido para mulheres. Para os ortodoxos, é um bastião da velha fé cristã. No lugar moram, não só gregos, mas monges romenos, georgianos, búlgaros, sérvios, italianos e até russos.

Porém, um pouco menos de um milênio após a grande cisma de 1054, a ortodoxia mundial está ameaçada de divisão : a divisão entre as Igrejas ortodoxas está se tornando cada vez mais profunda e o tom entre seus patriarcas está cada vez mais carregado de raiva.

Corte de água e eletricidade

O mosteiro ortodoxo é um dos 20 mosteiros em Athos. Seus cerca de 110 monges se refugiaram atrás de suas muralhas e defesas no século 13. Na última disputa, há alguns anos, eles reagiram contra as máquinas usadas pelo governo para derrubar os muros do edifício, jogando neles coquetéis molotovs. Excomungados pelo patriarca ecumênico de Constantinopla, os monges também resistiram heroicamente em 1974, quando o governo grego cortou sua água e eletricidade para acelerar sua saída, mas foi um esforço desperdiçado. Os religiosos resistiram.

O conflito atual continua direcionado contra o patriarca Bartolomeu I de Constantinopla, o 270º sucessor do apóstolo André, cuja residência oficial está em Istambul. Para os monges de Esphigmenou, o líder número um das Igrejas Ortodoxas, o primus inter pares, está muito mais interessado no ecumenismo e no diálogo entre as religiões do que na própria fé ortodoxa. O patriarca teria se afastado da verdadeira fé porque rezou com o papa Francisco, seguindo assim os passos de seus predecessores Atenágoras e Dimitri, que também estavam abertos ao contato com Roma.

Uma vida sitiada

Os religiosos de Esphigmenou foram, portanto, excomungados pelo Patriarcado Ecumênico, que por sua vez também consideram herético. Sob a liderança de seu abade Metódio, os monges se recusaram obstinadamente a deixar seu mosteiro. E ainda recordam que Santo Antônio Petersky, fundador da Kiev Lavra, berço da ortodoxia eslava, foi um monge nesse recinto e foi qualificado como o ‘pai dos monges russos’. Santo Antônio Petersky iniciou o movimento de evangelização nos países eslavos. No entanto, o governo de Athos já concedeu aos monges envolvidos no protesto, passagem segura para outro mosteiro de sua escolha. Mas a iniciativa não teve sucesso.

Em 2011, 14 monges de Esphigmenou foram condenados a seis meses de prisão por se recusarem a cumprir a decisão do tribunal de sair de seu mosteiro. Desde o final de julho deste ano, a luta se intensificou. Os religiosos vivem em estado de sítio permanente. Qualquer coisa que precisarem e que não possam cultivar em seus campos ou produzir em suas oficinas deve ser contrabandeada para o mosteiro em um barco de pesca – a única maneira de chegar ao mosteiro à beira-mar.

Novas mídias sociais e a luta

Os monges, que alguns chamam de ‘o Talibã ortodoxo’, estão travando sua luta principalmente com a ajuda das novas mídias digitais. Eles têm um blog em grego e inglês (esphigmenou.com), com possibilidade de doação através do Paypal, e uma conta no Twitter. Em seu site, os monges lamentam a atitude do governo grego e se declaram perseguidos. Também compilaram recortes de jornais em inglês, bem como uma carta crítica enviada em 2006 ao patriarca ecumênico e assinada na época pelos 20 mosteiros do Monte Athos.

Nesta carta, os religiosos afirmam reconhecer dolorosamente que não concordam com a oração comum do patriarca Bartolomeu e do papa Francisco durante sua visita a Roma. Com efeito, este encontro e outras celebrações litúrgicas comuns dão a impressão de que a Igreja Ortodoxa acolhe os fiéis católicos romanos e reconhece o papa como bispo de Roma. Da mesma forma, a visita de retorno do patriarca ortodoxo ao Vaticano teria sido uma grande fonte de dor em seus corações. E isso especialmente porque a tradição romana não teria mudado nada em seus ensinamentos heréticos.

‘Ortodoxia ou morte’

As raízes do conflito são profundas, e a amargura já dura mil anos. Mas também há conflitos internos dentro da ortodoxia : entre outras coisas, a reforma do calendário, que foi do calendário juliano ao gregoriano (e, portanto, ao papa Romano...) já na década de 1920, e que causou uma grande discórdia. Naquele tempo, os mosteiros de Athos, com exceção daquele que havia adotado o novo calendário, retiraram o nome do patriarca de Constantinopla de todas as suas intercessões litúrgicas.

Na bandeira do mosteiro de Esphigmenou está o lema : ‘Ortodoxia ou morte!’. Os monges parecem prontos para ir até o fim, e assim morrer como mártires pela ortodoxia.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1466213/2020/08/monges-formam-resistencia-contra-patriarca/

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