Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Giada Aquilino,
jornalista
‘‘Nasceram sem ser amadas nem desejados’, mas na cidade
onde nasceu Jesus há mais de 2 mil anos encontraram o ‘calor’ e a ‘ternura’
que necessitam. São as crianças da Creche da Sagrada Família de Belém,
o instituto das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, que há mais de um
século recebe menores abandonados e em situação de pobreza e dificuldades.
Entrevistamos Irmã Maria Mastinu, religiosa italiana que cuida da creche há 18
anos, depois de passar 30 anos na floresta equatorial do Congo, ex-Zaire.
A acolhida das
crianças
Com outras três coirmãs, duas
libanesas e um tcheca, irmã Maria se dedica a 48 crianças que moram na
estrutura, porque a escola materna da Creche, no momento, está fechada por
causa da emergência coronavírus e as outras 65 crianças que frequentavam estão
em casa. Vivem sem ‘ajuda externa’, segundo a ‘providência’, em
tempos normais as irmãs administram um Guest House que ajuda o sustento. E com
uma certeza : ‘nós estamos com as portas sempre abertas, dia e noite, para
qualquer menor que necessite ser acolhido’.
A pandemia e a pobreza
Irmã Maria fala sobre a
extrema pobreza que se enfrenta em Belém, cidade que ‘vive e depende
exclusivamente do turismo’. As consequências da Covid-19, que atualmente no
território Palestino conta oficialmente com 375 casos e 4 vítimas, podem ser
traduzidas em ‘pobreza que dá tristeza’, diz a religiosa : ‘as
pessoas foram despedidas, porque fecharam os hotéis’. Mesmo assim a alegria
desta irmã de quase 80 anos está nos desenhos das crianças, que segundo ela,
felizmente são bem coloridos, o que indica ‘uma perspectiva aberta’
longe da ‘gravidade do momento’.
Entrevista com Irmã Maria :
Ir. Maria Mastinu : Há muito medo e preocupação pela virulência desta doença,
porque aqui a situação é bem diferente de outros lugares, não estamos
preparados e faltam estruturas adequadas para enfrentar a pandemia. Por isso,
logo no início de março, as autoridades anunciaram o toque de recolher e
decretaram o fechamento das estradas de comunicação para evitar a entrada e
saída das pessoas. Fecharam escolas e universidades, mas também o mercado e os
hotéis. Portanto as pessoas estão isoladas, sem poder sair de casa.
Porém, no meio de tanta
pobreza há um aspecto positivo que comove : há muitas iniciativas de
solidariedade e compartilhamento entre as famílias, entre as Igrejas, latinas e
ortodoxas. Todos sentiram-se chamados para enfrentar esta pandemia, em
conjunto, ajudando-se reciprocamente, com a distribuição de alimentos, remédios
ou máscara e luvas para os que foram atingidos pelo vírus e ficaram isolados.
Felizmente não tivemos muitos casos na cidade.
Atualmente como
vivem as crianças da Creche?
Ir. Maria : As nossas crianças, naturalmente deram-se conta da mudança
porque antes vinham a crianças externas para escola e agora não. Perceberam que
há algo diferente, mas são crianças com no máximo 5 anos. Mas, apesar de tudo
tentamos viver uma vida normal, o Senhor nos protege.
São crianças que
que vieram de situações difíceis…
Ir. Maria : Na maioria são crianças abandonadas. Aqui uma jovem grávida
antes do casamento corre o risco de ser assassinada. Muitas delas, às
escondidas, dirigem-se a um instituto nesta região, criado com o propósito
específico de proteger estas jovens em dificuldade. São ajudadas por uma
psicóloga e por um médico ginecologista do hospital da Sagrada Família, que é
uma estrutura das Filhas da Caridade administrado há muitos anos pela Ordem de
Malta. Aqui na Creche temos crianças com casos particulares que nos são
confiadas pela polícia ou pelo serviço social palestino : crianças de rua, com
situações familiares difíceis. Nossas portas estão abertas dia e noite, para
qualquer criança que necessite ser acolhida.
Entre as
atividades que vocês organizaram, as crianças fazem desenhos particulares?
Ir. Maria : Sim, é claro. Um aspecto positivo é dado pelas cores
destes desenhos são cores claras, coloridas que indicam uma perspectiva aberta.
Quando uma criança está em crise, percebemos que faz desenhos escuros e
tristes. As nossas crianças são especiais : nasceram sem serem amadas ou
desejadas. Quando pegamos um recém-nascido no colo, logo apega-se a nós porque
precisa sentir o calor e a ternura de uma mãe que nunca poderá conhecer. São
crianças muito frustradas e exprimem sua condição por meio da agressividade nos
comportamentos. E quando estão em crise, pode acontecer que façam desenhos
escuros e tristes. Neste caso chamamos a psicóloga para ver o que acontece com
a criança.
Qual é a sua
esperança para Belém neste momento de coronavírus?
Ir. Maria Mastinu : Espero que volte à situação normal o mais cedo possível, porque
muitas famílias estão em péssimas condições financeiras, e que logo se abra uma
nova era de esperança.’
Fonte :
*Artigo na íntegra
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