Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Fragmento de 'Moisés com os Dez Mandamentos'
*Artigo
de José Antonio de Sousa Neto,
professor
‘Os Dez Mandamentos são eternos posto que são divinos. Mas a
eternidade traz em seu bojo uma dimensão que com frequência nos escapa : o da amplitude.
Claro, se é divino não poderia ser de outra forma, mas a amplitude é uma coisa
que ao homem só vem aos poucos nas epifanias do espírito e da alma. Na nossa
limitada realidade percebida é como uma música clássica cujos detalhes,
dimensões e abrangência só se percebem com o tempo. Só aí se pode ir aos poucos
compreendendo a maravilhosa conexão entre eles; compreendendo que todos eles
são ‘Um’ só : um transcendente hino de louvor à Vida cuja
magnitude e implicações ainda nos escapa.
Mas se todos os mandamentos
são ao mesmo tempo apenas ‘Um’ por que este ‘Um’ veio na forma de
dez? Por que não 7 que é um número ‘cabalístico’, ou apenas, por
exemplo, oito ou seis? Antes de tentar imaginar um possível porquê, há de se
reconhecer primeiro que ele foi enviado, através dos israelitas, a uma
população planetária de coração duro, embrutecida pela ignorância que escraviza
a alma e o espírito. E, justamente por isso, veio como um instrumento
libertador e sobretudo revolucionário para uma época que, embora muitos não
compreendam ou por livre arbítrio escolham não compreender, se estende até os
dias de hoje. Bom, mas tendo sido enviados de Fonte Perfeita sou capaz de
imaginar que se tivéssemos sido criados (incluído evidentemente a ‘engenharia’
do próprio processo evolutivo) com quatro ou três dedos em cada mão teríamos
respectivamente oito ou seis mandamentos que de toda forma também seriam ‘Um’
só hino de louvor à Vida.
Porque nos escapa a
compreensão da vida em toda a sua plenitude. tendemos a ver apenas o sentido
literal dos mandamentos mesmo que estejam corretos também por uma perspectiva
mais restrita. Por exemplo, ‘Não matarás’, ‘Não roubarás’ e ‘Não
levantarás falso testemunho’. Mas tudo que não seja um ‘Louvor à Vida’,
à sua criação e acima de tudo ao seu Criador que é a própria Vida só pode ser
uma antítese a ela e uma forma inequívoca de destruição. E isso vai muito, mas
muito além do material. Através de mentiras, calúnias e palavras que humilham,
tantas e tantas vidas têm suas esperanças e dignidades ‘roubadas’.
Através de palavras e ações tantos caminhos e oportunidades são ‘mortos’.
Pensemos no ‘Não cometerás adultério’. Aqui sempre me lembro de uma das
lindas passagens do Talmude hebraico principalmente em uma semana onde se
comemora em boa parte do mundo a benção bendita da maternidade e da vida que se
faz presente através de suas mensageiras :
Cuida-te quando
fazes chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A mulher foi feita
da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser
superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo do braço, para ser protegida
e do lado do coração para ser amada.
Mas este mandamento vai muito
além da mulher. Aqui os princípios são os da fidelidade e lealdade
compreendidos de forma ampla como pilares, mais uma vez, da própria ‘Vida’.
E, mais uma vez, é evidente que a antítese destes princípios inexoravelmente
conduz a destruições que são, portanto, antíteses da Vida ela mesma.
E se tomarmos o primeiro
mandamento ‘Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas’ estamos
falando mais uma vez da própria ‘Vida’ e de tudo que dissemos
anteriormente. Nesta breve reflexão não há espaço para irmos de um a dez,
embora o primeiro, o próprio ‘Um’, para quem tiver o privilégio de
compreender, já englobe todos eles. Talvez se tivéssemos sido criados com um só
dedo o mandamento único para nós como um povo abrutalhado e de coração duro
poderia ser ‘Podeis tudo menos destruir qualquer coisa da vida na matéria,
no espírito e na alma’. Mas como a Providência não erra a literalidade foi
necessária e termos dez dedos também.
Peço ainda à Providencia que,
sempre e particularmente nestes momentos de desafios e turbulência, tenha
misericórdia de todos nós. Através de situações rotineiras, mas também
através das instituições e da ‘grande mídia’ quando desvirtuadas em seus
papeis fundamentais, acompanhamos diariamente um constrangedor rastro de
destruições em cadeia. Em situações de grandes desafios, mesmo no mundo
material, propósitos e almas se tornam transparentes. Se é assim aqui, imaginem
do outro lado da vida. As coisas certamente chegam lá muito mais rápido que com
5G e com muito, mas muito mais pixels em um contexto de altíssima resolução.
Temos todos de tomar cuidado e de ter sabedoria para não acumularmos ‘carmas’.
Nem individuais, nem coletivos! Oportunidades infinitas para fazer exatamente o
contrário estão o tempo todo escancaradas diante de nossas faces.’
Fonte :
*Artigo na íntegra
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