*Artigo
do Irmão Antônio Nunes,
Missionário Comboniano
‘Quando
concluí o meu curso de Enfermagem, os sonhos e os receios eram muitos. Como
irmão missionário comboniano, fui enviado para o Sudão, e mais concretamente
para a região Sul.
O
Hospital de Mapuordit foi a minha primeira destinação. As enfermarias eram edifícios
feitos com canas e lama seca com telhados de palha. Não havia água ou luz, mas
as pessoas eram atendidas com dedicação pelos auxiliares de enfermagem,
profissionais formados na prática quotidiana. Para atender, cada dia, os cerca
de trezentos doentes só existiam um médico e quatro enfermeiros. A falta de
recursos, humanos e econômicos, era gritante. Era preciso investir na formação
dos agentes sanitários.
Ser criativo
No
país, a mortalidade infantil continua a ser das mais altas de África e as mulheres
que morrem sem a devida assistência durante o parto continua a ser uma
calamidade. Muitas pessoas morrem com doenças que atualmente podem ser
tratadas, mas a falta de pessoal médico e de medicamentos acabam por ser
barreiras demasiado grandes para a população. Cheguei a assistir mulheres que
tinham viajado em trabalho de parto durante horas em cima de uma motorizada por
estradas de terra batida, percorrendo distâncias de cem quilômetros para
poderem encontrar ajuda.
O Ir. Nunes atende uma paciente no hospital de
Mapuordit
Perante
os desafios tive de ser criativo, inventar pequenas máquinas que pudessem fazer
o mesmo que aquelas modernas que usara nos estágios do meu curso. Como Florence
Nightingale [1820-1910, enfermeira, reformadora social e escritora britânica
que ficou famosa por ser pioneira no tratamento a feridos de guerra, durante a
Guerra da Crimeia], senti que tinha de me centrar na pessoa e na sua
dignidade, colocar toda a paixão no serviço que desempenhava e assim poder ‘contaminar’
outros a fazer o mesmo.
Partilhar
aprendizagens
Depois
de vários anos a aprender com as situações que surgiam e em especial com as
pessoas que fui encontrando e da realização de um mestrado na área da
Enfermagem, veio o momento de ensinar. Fui enviado para uma escola de parteiras
e enfermeiros, o CHTI (Catholic Health Trainning Institute). A escola contava
com alunos provenientes de todo o Sudão do Sul e das Montanhas Nubas, homens e
mulheres que constituíam um grupo com grande diversidade de culturas e origens
étnicas.
Ser
missionário e enfermeiro neste contexto foi o de ser um irmão mais velho que
tenta trazer para o rigor da enfermagem a luz de um Deus que quer que todos
sejam felizes e vivam em Paz.
No
último ano que lá estive, foram vinte e quatro os enfermeiros e quinze as
parteiras a terminar o curso de três anos. Estes novos profissionais foram
enviados para as suas comunidades de origem para serem, eles mesmos, fonte de
esperança, cuidado e amor no meio de tantas carências.
Eles
receberam formação acadêmica, mas também humana e cristã. Foram parte da missão
que me foi dada e agora são eles enviados a ajudar os mais pobres e
abandonados.
O
irmão que eu sou tem-se manifestado, para os outros, pelos cuidados de
enfermagem que como um serviço de doação lhes proporciono. Estou convencido de
que a minha maneira de ser enfermeiro tem de manifestar o toque de Deus, tem de
ser um ‘medicamento’ que não necessita de uma prescrição particular, mas
precisa
somente do meu tempo, da minha doação, dedicação e muito amor.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/243/favorecer-a-formacao-integral/
Nenhum comentário:
Postar um comentário