quarta-feira, 20 de maio de 2020

Favorecer a formação integral

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Irmão Antônio Nunes,
Missionário Comboniano


‘Quando concluí o meu curso de Enfermagem, os sonhos e os receios eram muitos. Como irmão missionário comboniano, fui enviado para o Sudão, e mais concretamente para a região Sul.

O Hospital de Mapuordit foi a minha primeira destinação. As enfermarias eram edifícios feitos com canas e lama seca com telhados de palha. Não havia água ou luz, mas as pessoas eram atendidas com dedicação pelos auxiliares de enfermagem, profissionais formados na prática quotidiana. Para atender, cada dia, os cerca de trezentos doentes só existiam um médico e quatro enfermeiros. A falta de recursos, humanos e econômicos, era gritante. Era preciso investir na formação dos agentes sanitários.

Ser criativo

No país, a mortalidade infantil continua a ser das mais altas de África e as mulheres que morrem sem a devida assistência durante o parto continua a ser uma calamidade. Muitas pessoas morrem com doenças que atualmente podem ser tratadas, mas a falta de pessoal médico e de medicamentos acabam por ser barreiras demasiado grandes para a população. Cheguei a assistir mulheres que tinham viajado em trabalho de parto durante horas em cima de uma motorizada por estradas de terra batida, percorrendo distâncias de cem quilômetros para poderem encontrar ajuda.  

 Irmao Nunes
O Ir. Nunes atende uma paciente no hospital de Mapuordit

Perante os desafios tive de ser criativo, inventar pequenas máquinas que pudessem fazer o mesmo que aquelas modernas que usara nos estágios do meu curso. Como Florence Nightingale [1820-1910, enfermeira, reformadora social e escritora britânica que ficou famosa por ser pioneira no tratamento a feridos de guerra, durante a Guerra da Crimeia], senti que tinha de me centrar na pessoa e na sua dignidade, colocar toda a paixão no serviço que desempenhava e assim poder ‘contaminar’ outros a fazer o mesmo.

Partilhar aprendizagens

Depois de vários anos a aprender com as situações que surgiam e em especial com as pessoas que fui encontrando e da realização de um mestrado na área da Enfermagem, veio o momento de ensinar. Fui enviado para uma escola de parteiras e enfermeiros, o CHTI (Catholic Health Trainning Institute). A escola contava com alunos provenientes de todo o Sudão do Sul e das Montanhas Nubas, homens e mulheres que constituíam um grupo com grande diversidade de culturas e origens étnicas.

Ser missionário e enfermeiro neste contexto foi o de ser um irmão mais velho que tenta trazer para o rigor da enfermagem a luz de um Deus que quer que todos sejam felizes e vivam em Paz.

No último ano que lá estive, foram vinte e quatro os enfermeiros e quinze as parteiras a terminar o curso de três anos. Estes novos profissionais foram enviados para as suas comunidades de origem para serem, eles mesmos, fonte de esperança, cuidado e amor no meio de tantas carências.

Eles receberam formação acadêmica, mas também humana e cristã. Foram parte da missão que me foi dada e agora são eles enviados a ajudar os mais pobres e abandonados.

O irmão que eu sou tem-se manifestado, para os outros, pelos cuidados de enfermagem que como um serviço de doação lhes proporciono. Estou convencido de que a minha maneira de ser enfermeiro tem de manifestar o toque de Deus, tem de ser um ‘medicamento’ que não necessita de uma prescrição particular, mas precisa somente do meu tempo, da minha doação, dedicação e muito amor.’


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