*Artigo
da Revista Além-Mar
‘José
Ambrosoli nasceu a 25 de Julho de 1923 no Norte da Itália. Fez o curso de
Medicina durante os anos conturbados da Segunda Guerra Mundial. Em 1951,
sentido o chamamento à vocação missionária, entra no Instituto dos Missionários
Combonianos.
Foi
ordenado em Dezembro de 1955 e partiu para África um mês e meio depois. Foi
enviado para Gulu, no Norte do Uganda, entre o povo Acholi. Em 1961, foi
transferido para a missão de Kalongo. Ali fundou o hospital que serviu como
médico-cirurgião por mais de trinta anos.
Médico da caridade
«Deus
é amor, há um próximo que sofre e eu sou o seu servo», dizia Ambrosoli.
Tinha a reputação de ser um cirurgião competente e as pessoas chamavam-lhe «grande
médico». Com o seu trabalho desenvolve o centro de saúde de Kalongo e consegue
que seja declarado hospital. A estrutura é grande e funcional : 350 camas e 30
pavilhões. Também dá novo vigor à escola de obstetras e enfermeiras, que se
tinha iniciado em 1955 e continua a ser uma das mais importantes do Uganda.
Em
1984, os médicos tinham-lhe detectado uma insuficiência renal significativa e
aconselharam-no a não voltar a África ou, no máximo, a dedicar-se apenas a
tarefas administrativas e a abster-se de fazer um trabalho que ocasionasse um
grande desgaste físico, nomeadamente de realizar operações.
No
entanto, como missionário, tinha claro que fora para África para dar a vida
pelos mais necessitados. «Durante alguns meses», afirma José Carlos
Rodrigues, que viveu com Ambrosoli nessa época, «testemunhei como ele tentou
reduzir a sua atividade diária. Mas quando a guerra começou, em Janeiro de
1986, no hospital da missão tivemos uma grande afluência diária de doentes. Ele
podia passar vinte horas na sala de operações a realizar cirurgias sem
interrupção. O ambiente social era muito tenso. Os soldados do Norte,
enfurecidos pela derrota, procuravam pessoas do Sul para vingar-se. O hospital
estava cheio de ugandeses do Sul que tinham procurado refúgio. Mais de uma vez,
Ambrosoli teve de confrontar soldados armados no portão do hospital que queriam
entrar à procura de “inimigos escondidos”. As suas boas artes diplomáticas e o
prestígio que tinha junto da população impediram uma chacina.»
Em
Janeiro de 1986, o novo regime de Yoweri Kaguta Museveni (que ainda permanece
na presidência) instalou-se em Campala. Após alguns meses de relativa calma, os
soldados acholis reorganizaram-se e lançaram um movimento guerrilheiro com
ataques surpresa a estradas e destacamentos militares. Acusados de colaborar
com as forças rebeldes, os missionários passaram vários meses em prisão
domiciliária em Kalongo. Em Janeiro de 1987, o exército, incapaz de resistir à
situação de assédio constante por parte dos guerrilheiros, forçou todo o
pessoal de Kalongo a abandonar a missão.
Depois
de percorrer 120 quilómetros numa comitiva vigiada pelos militares, os
missionários chegaram à cidade de Lira. Desde então, a única preocupação de
Ambrosoli era encontrar um novo lugar para a escola de parteiras, também para
que as alunas não perdessem o ano letivo. Depois de um mês de esforços e
dificuldades intermináveis, a escola estabeleceu-se na missão de Angal, na
região ugandesa do Nilo Ocidental. Quando regressou a Lira, no início de Março
de 1987, para organizar a transferência das alunas e das religiosas
responsáveis pela escola, adoeceu com insuficiência renal aguda.
Vida doada por amor
Naqueles
dias, as irmãs combonianas realizaram as terapias que ele mesmo indicava, mas a
situação não melhorava. Não existia no lugar outro médico e o plano era levá-lo
até Gulu e depois transferi-lo para Itália. Suplicava : «Não! Não devíeis
fazer isso, será demasiado tarde, porque tenho as horas contadas. Sabíeis que
sempre desejei ficar com a minha gente, porque é que agora me mandais embora?»
Contudo, depois agradeceu e disse : «Seja feita a vontade de Deus.»
Colaborou em tudo para se preparar e partir. «O padre José – escreve o
seu companheiro P.e Marchetti –, dá-se conta do declínio da
vista e da insensibilidade nas pernas, inteiramente consciente de que chegou o
momento supremo. Repete com vigor e depois segue como pode as orações. Depois
fixa os olhos na parede, em direção ao alto, como se visse alguém. As
respirações distanciam-se e sem qualquer contorção ou estertor, apaga-se,
enquanto o batimento do coração abranda gradualmente, até cessar.» Coube ao
P.e Marchetti colher as suas últimas palavras no dia 27 de
Março de 1987 : «Senhor, faça-se a tua vontade – depois como um suspiro –
mesmo que fosse uma centena de vezes.»
José
Ambrosoli impressionou pela sua mansidão, paciência e bom humor. Incarnou as
mãos de Jesus que curam e sempre Lhe atribuiu explicitamente os seus sucessos.
O Papa Francisco aprovou o milagre que abre caminho à sua beatificação. A
celebração realizar-se-á na cidade de Kalongo no próximo dia 22 de Novembro.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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