Papa reza diante de crucifixo milagroso pedindo o fim do coronavírus, em março, no Vaticano
*Artigo
de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de
Imprensa da Santa Sé
‘O
papa Francisco, em uma entrevista concedida ao jornalista inglês Austen
Ivereigh, publicada na quinta-feira
(08), disse refletir sobre qual será o seu papel após essa pandemia.
Mostrando-se preocupado com a atual situação, o pontífice expõe a sua ‘crise’
por estar impedido de ter contato com as pessoas e fala das ‘responsabilidades
que deverá assumir’ quando tudo isso passar. ‘O povo de Deus precisa do
seu pastor próximo a eles, não superprotegendo a si mesmo’, ressaltou.
É
interessante porque o próprio papa tem a consciência que o impacto provocado
pelo Covid-19 se refletirá em vários setores da sociedade e seus efeitos
perdurarão por um longo tempo. Fazendo uma interpretação acurada de suas
palavras, é como se o pontífice intuísse que a pandemia promoverá uma mudança
de época do ponto de vista histórico, como aconteceu com a peste negra que
dizimou um terço da população europeia no século 14. ‘O depois já está
começando a ser revelado como trágico e doloroso, é por isso que nós precisamos
pensar sobre isso já’, disse ele durante a entrevista.
Alguns
medievalistas heterodoxos, contrariando a delimitação do tempo feita pela
historiografia oficial, chegam a defender que essa peste negra marcou o fim da
idade média. Por causa das consequências religiosas, sociais e econômicas que a
doença provocou, tais estudiosos chegam a falar de uma espécie de fase
transitória ou ‘pré-moderna’ inaugurada a partir do fim da doença
bubônica.
A
chanceler alemã, Angela Merkel, chegou a afirmar que ‘o coronavírus é o maior
desafio desde a segunda-guerra mundial’, pensando justamente ao futuro que
nos aguarda. Porém, não trata-se de uma mera previsão apocalíptica, mas da
constatação das ‘sequelas sociais’ identificadas após a presença de uma ‘doença
global’ : algo que a história, como vimos, já comprovou. Francisco pensa em
um ‘pós-coronavírus’ desde já para estruturar o seu ‘hospital de campo’,
que é a Igreja.
Do
ponto de vista histórico, as obras caritativas da Igreja em alguns períodos de
pandemia e miséria assumiram um papel imprescindível durante a fase e
reconstrução da vida nos világios e cidades. É só pensar nos escritos de
Alessandro Manzoni, que em sua famosa obra Promessi Sposi – um
clássico da literatura italiana – cita a assistência aos
pobres conduzida pelo cardeal Federico Borromeo durante a famosa peste de Milão
(1630).
Os pontífices no
período das pandemias mais conhecidas
Mas
e os outros pontífices ao longo da história como se comportaram (ou se
protegeram) diante da manifestação dessas doenças infecciosas ao longo da
história?
Clemente VI – Durante o auge da
pandemia da peste negra (1348), o papa francês Clemente VI estava à frente do
trono de Pedro. Para se proteger, o pontífice refugiou-se em uma das salas do
palácio papal de Avignon (França) – sendo ele o quarto papa a
viver na cidade durante o período conhecido como ‘cativeiro de Avignon’
(1309 e 1377). Apesar da rejeição coletiva aos judeus – acusados,
pelos católicos, de serem os transmissores diretos da doença – esse
pontífice, condenando tais acusações injustas, escreveu a bula Quamvis
perfidiam Iudaeorum, na qual também exortava : ‘admoestai vossos
súditos – povo e clero – para que não persigam, firam ou
matem judeus’.
Papa Bento XV – Este papa ficou conhecido pela sua atuação durante a
primeira guerra mundial, mas sua história acabou sendo sepultada pelas grandes
potências bélicas por causa de seu posicionamento contrário ao conflito,
classificado por ele como ‘um massacre inútil’. Durante a gripe
espanhola (1918-1920), considerada uma das pandemias mais devastadoras de todos
os tempos, esse papa, de origem italiana, reestruturou a Accademia dei
Nuovi Licei, a atual Academia Pontifícia das Ciências para contribuir
com o enfrentamento da crise.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1436141/2020/04/os-papas-e-as-pandemias/
Nenhum comentário:
Postar um comentário