Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Papa Francisco caminha na praça de São Pedro durante a Urbi et Orbi extraordinária, no último dia 27
*Artigo
de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de
Imprensa da Santa Sé
‘Pela
primeira vez na história, desde o surgimento da televisão, as redes de
comunicação são o único meio que os fiéis têm para acompanhar uma missa em
várias partes do planeta. A pandemia interferiu até na maneira como nos
reportamos ao sagrado. Basta dar o ‘play’ para entrar em contato com o
divino. A comodidade de um clique que se une ao incômodo de não poder ter o
acesso material aos sacramentos.
Porém,
caros amigos, não é o fim do mundo. A eucaristia, como sabemos, transcende o
próprio ato de comungar. Quando Jesus instituiu a eucaristia, o fez num
contexto de sacrifício, de acordo com a tradição católica. E é hora de nos
perguntarmos se, enquanto seguidores do mestre, estamos dispostos realmente ao
sacrifício. Não existe mais essa distinção entre ‘merecedores’ e ‘indignos’
de receber a hóstia consagrada. ‘Todos estamos no mesmo barco’, como diz
o papa : unidos pela mesma comunhão espiritual.
Em
uma cidade como Roma, com 900 igrejas, onde você pode encontrar esse tipo de
celebração de hora em hora, sente-se o impacto dessa mudança. Como vimos, até o
‘papa do povo’ precisou se adaptar à essa nova realidade. Quem diria que
a imagem de um sumo-pontífice solitário na praça de São Pedro pudesse provocar
um impacto midiático tão grande quanto o próprio conclave que o elegeu. Aqui na
Itália, por exemplo, não foram poucos os ateus que testemunharam, com lágrimas,
a força desse gesto.
O
papa torna-se, pelas circunstâncias, prisioneiro do Vaticano. No entanto, à
diferença de Pio IX, que chorava a perda do seu estado pontifício, Francisco
chora pela ausência dos seus fiéis, sobretudo aqueles que mais sofrem neste
momento. O que a crise provocada pelo Covid-19 traz à nossa fé? É essa a
pergunta que deve nos mover nesses tempos tão sombrios e incertos. Qual a
resposta que o cristianismo tem dado nesse momento de crise?
Cada
qual, refugiado em sua domus ecclesiae, como os primeiros cristãos,
acompanha pelas redes sociais muitos padres que tiveram que ceder ao mundo da
tecnologia para poder chegar a seu rebanho. A verdade é que é um período no
qual todos fazem algum tipo de sacrifício para manter a chama da fé viva. E é
bonito ver que os rostos desconhecidos das missas dominicais têm nome e
sobrenome em nossas ‘transmissões de fé’ on-line. Talvez, depois dessa
tempestade, o nosso abraço da paz, que se tornou algo tão trivial aos domingos,
passe a ter um outro significado. O cristianismo não é só a religião do
encontro, mas também do reencontro.
Sendo
assim, é hora de construirmos espaços de reencontro, nos recordando, em nossas
orações, das pessoas que jamais se deram ao luxo de participar de uma missa
dominical por viverem em regiões isoladas da Amazônia. Sem contar as tantas
outras que sequer têm acesso à internet, o que as impossibilita de participar
de uma celebração ainda que virtualmente. É momento propício para reforçarmos
que o nosso cristianismo não é feito de preceitos, mas sobretudo de vida. E de
nada adianta chorarmos a falta da eucaristia se não nos fazemos eucaristia na
vida dos outros através das nossas orações e das nossas ações.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1434345/2020/04/em-tempos-de-covid-19-como-vai-nosso-cristianismo/
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