Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
d0 Padre Adroaldo Palaoro, Jesuíta
‘Os discípulos saíram e pregaram por toda parte’ (Mc
16,20)
‘Na dinâmica do
Tempo Litúrgico, após uma longa e criativa caminhada com Jesus, a liturgia nos
faz ‘dessa-parecer em Deus’, como o Cristo da Ascensão ‘desapareceu
em Deus’.
Depois da
Ressurreição, Jesus ‘ascendeu’. E fez isso abertamente. Os discípulos, atordoados,
permaneceram olhando para o alto enquanto Jesus partia. Ele deixou claro que
começava uma nova maneira de se fazer presente junto aos seus seguidores. De
fato, Ele insistiu que os estaria acompanhando todos os dias até o fim do
mundo. Portanto, nada de ruptura, mas de uma mudança qualitativa em sua
presença, e assim impulsionar um novo vínculo com Ele.
Mas, em que
sentido Jesus ‘foi levado ao céu’? Jesus não se ‘elevou ao céu’ no sentido estrito, senão
que ‘desceu’ ao mais profundo de
nossa existência, para dentro da nossa história, pois Ele continua ‘nos
ajudando e confirmando sua palavra por meio dos sinais’.
Esta nova
presença é algo tão misterioso que não é possível defini-la, pois
ela não está mais restrita aos limites do espaço e do tempo. Transcende o que se
pode ver e tocar. A realidade pascal é muito mais ampla que aquilo que nossos
sentidos podem abarcar.
Naqueles Onze
apóstolos primeiros, ‘catequizados’
pelas mulheres que fizeram a primeira experiência de encontro com o
Ressuscitado, junto ao sepulcro, nos encontramos refletidos todos os cristãos.
A terra inteira é
campo de Páscoa de Jesus, espaço onde se expressa seu mistério de Vida plena.
Este é o Cristo
pascal da montanha da Galiléia, que continua se fazendo presente no transcurso
dos tempos, no mesmo caminho da história, no processo de missão que dura até o
final do mundo.
Jesus não ‘subiu’ para fugir dos problemas deste
mundo, senão que, destruindo a morte, fortaleceu o vínculo que nos une, para
continuar atuando em nosso favor de um modo diferente. Por isso, quis deixar
claro que a ressurreição não supõe ‘ir
mais além’, para viver comodamente e desfrutar de um merecido descanso
depois de tanto sofrimento. Com sua presença nova mostrou que ressuscitar significa
viver mais, amar mais, compartilhar em plenitude. Uma injeção de ânimo para
vacilantes e temerosos.
Dessa forma, o
ensinamento pascal se traduz como experiência de gratuidade e doação de vida.
Ali onde as pessoas se ajudam a viver gratuitamente uns aos outros, em
solidariedade e entrega radical, podem confessar que Jesus ressuscitou e
continua presente, animando e inspirando a todos.
Assim, quando
perguntem onde estão os sinais de que o Cristo triunfou da
morte, devemos responder : vejam como creem e atuam os cristãos! Suas obras de
amor são reflexo da vida de Jesus, são expressão intensa de sua Páscoa.
Pode-se reconhecer
o Senhor ressuscita nos sinais quase imperceptíveis que revelam que de verdade
Ele não nos abandonou : pessoas que atualizam seus mesmos gestos, que
pronunciam com autenticidade suas palavras, que são como um prolongamento de
seu ser. Talvez por isso animou seus discípulos a guardar e propagar tudo o que
lhes havia ensinado, para que outros reconhecessem Sua presença neles e
acreditassem que o amor e a vida não tem ‘data
de vencimento’.
Portanto, para nós
seguidores(as) de Jesus, a Ascensão é abertura para o
cotidiano, para a realidade do serviço. É preciso partir e
viver o chamado do Mestre ao longo da existência.
A festa da Ascensão nos
revela que vivemos o ‘tempo do Espírito’, tempo de
criatividade, de ousadia, de novidade... O Espírito não proporciona aos
seguidores de Jesus ‘receitas eternas’.
Por isso, não podemos ficar olhando para cima. O Espírito nos dá luz e
inspiração para contemplar a realidade, buscando caminhos sempre novos para
prolongar hoje a mesma missão de Jesus.
Torna-se
necessário descruzar os braços, deixar de olhar passivamente para o céu e, com
os pés plantados no chão, ser ‘presença cristificada’ que
fermenta e transforma a realidade.
O mistério da Ascensão nos
sensibiliza e nos capacita para ir ao encontro do nosso mundo com uma visão
mais contemplativa. O ‘subir’ até Deus passa pelo ‘descer’
até às profundezas da humanidade. Como contemplativos, movidos por
um olhar novo, entramos em comunhão com a realidade tal como
ela é.
Ascensão nos convida
a olhar o mundo como ‘sacramento de Deus’.
Um olhar capaz de descobrir os sinais de esperança que existem
nele; um olhar afetivo, marcado pela ternura, pela compaixão e
por isso gerador de misericórdia; um olhar que compromete
solidariamente.
A Ascensão de
Jesus significa tomar consciência de que Seu tempo se completou e começa o
tempo da nova comunidade dos seus(suas) seguidores(as). Trata-se de um ‘mistério’ que revela uma nova pedagogia
de Jesus, qual seja, saber ‘retirar-se a tempo’. E
retirar-se a tempo para que os discípulos cresçam, para que os discípulos
amadureçam. Porque, enquanto Jesus estava entre eles e com eles, os discípulos
viviam como os pintinhos debaixo das asas da galinha.
Saber retirar-se a
tempo implica uma grande sabedoria. Os pais, nem sempre sabem retirar-se a
tempo; creem que precisam envelhecer sem passar as responsabilidades aos
filhos. Os mestres creem que seus alunos ainda não sabem o que eles sabem. Os
sacerdotes não sabem abrir passagem para os leigos; consideram que ainda não
estão preparados.
Jesus soube
retirar-se a tempo; era consciente de que os seus discípulos não estavam
plenamente maduros e preparados para a missão. O Evangelho reconhece que ‘alguns vacilavam’. E no entanto, Jesus
confiou a eles sua própria missão : ‘ide pelo mundo inteiro e anunciai
o Evangelho a toda criatura’. Não pediu que primeiro se doutorassem,
nem que fizessem uma pós-graduação. Enviou-os assim como estavam, com suas
dúvidas no coração. Também eles aprenderão fazendo; também eles aprenderão
equivocando-se.
Portanto, a Ascensão de
Jesus marca o início de nossa missão, ou seja, um novo modo
de presença no mundo. Viver com os olhos voltados para
o Senhor glorioso não nos dispensa de estar com os dois pés no chão, plantados
na terra da história.
Enfim, a
celebração do mistério da Ascensão nos impulsiona, ao mesmo
tempo, para Deus e para o mundo. Paixão
por Deus e paixão pelo mundo. Podemos assim
estar sempre enraizados firmemente em Deus e, ao mesmo tempo, imersos no
coração do mundo. O cristão é tão familiar com Deus que admira
e se encanta com a variedade e a multiplicidade do mundo, e não teme o mundo
com toda sua complexidade. Ao mesmo tempo, é tão familiar com o mundo que
sente o Espírito de Deus que trabalha em todos os lugares e da maneira mais
inesperada. ‘’Fora do mundo não há salvação’ (E.
Eschillebeeckx).
Muitas vezes
preferimos seguir um Jesus no ‘céu’.
Descobri-lo dentro de si mesmo, nos outros e no mundo é demasiado exigente e
comprometedor. Muito mais cômodo é continuar olhando para o céu... e não
sentir-nos implicados naquilo que está acontecendo ao nosso redor. A Ascensão
de Jesus nos desafia a romper a estreiteza de nossa vida para expandi-la a
horizontes mais inspiradores.
Textos bíblicos : Mc 16,15-20
Na oração : Que
nossa ascensão seja : romper as cadeias de injustiça e morte;
derrubar toda parede e muro; ir pela vida como samaritanos; mostrar os caminhos
de vida plena; oferecer razões de esperança; despertar o instinto criativo; interpretar
os sinais dos tempos; pôr o coração nas estrelas...’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1256678/2018/05/ascensao-ampliar-nossos-atrofiados-horizontes/
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