sábado, 19 de maio de 2018

Consagrados pelo Espírito, que abre corações e fronteiras


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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Ano B – Domingo 20.5.2018

Atos  2,1-11
Salmo  103
Gálatas  5,16-25
João  15,26-27; 16,12-25


Reflexões

‘O Pentecostes cristão celebra o dom do Espírito, «que é Senhor e dá a vida». Inicialmente, a festa hebraica de Pentecostes – sete semanas, ou seja 50 dias depois da Páscoa – era a festa da ceifa do trigo (cf. Ex 23,16; 34,22). Mais tarde, associou-se a ela a recordação da celebração da Lei no Sinai. De festa agrícola, o Pentecostes passou progressivamente a uma festa histórica : um memorial das grandes alianças de Deus com o seu povo (veja-se Noé, Abraão, Moisés e os profetas Jeremias 31,31-34 e Ezequiel 36,24-27…). É de sublinhar a nova perspectiva acerca da Lei e o modo de entender e viver a aliança. A Lei era um dom do qual Israel se sentia orgulhoso, mas era uma etapa transitória, insuficiente.

Era necessário avançar num caminho de interiorização da Lei, caminho que atinge o seu cume no dom do Espírito Santo, que nos é dado, como nova fonte normativa, como verdadeiro e definitivo princípio de vida nova. À volta da Lei, Israel constituiu-se como povo. Na nova família de Deus, a coesão não vem já de um mandamento exterior, por muito importante que seja, mas vem do interior, do coração, em força do amor que o Espírito nos concede «porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações por meio do Espírito Santo» (Rm 5,5). Graças a Ele «somos filhos de Deus» e imploramos : «Abbá, Pai!». Somos o povo da nova aliança, chamados a viver uma vida nova, em força do Espírito que faz de nós família de Deus, com a dignidade de filhos e herdeiros (Rm 8,15-17).

A uma tal dignidade deve corresponder um estilo de vida coerente. Paulo (II leitura) descreve com palavras concretas dois estilos de vida diferentes e opostos, consoante a escolha de cada um: as obras da carne (v. 19-21) ou os frutos do Espírito (v. 22). Para os que são de Cristo Jesus e vivem do Espírito, o programa é só um : «caminhamos segundo o Espírito» (v. 25).

O Espírito faz caminhar as pessoas e os grupos humanos e cristãos, renovando-os e transformando-os a partir de dentro. O Espírito abre os corações, cura-os, reconcilia-os, fá-los ultrapassar fronteiras, conduz à comunhão. É Espírito de unidade (de fé e de amor) na pluralidade de carismas e de culturas, como se vê no acontecimento do Pentecostes (I leitura), no qual se conjugam bem a unidade e a pluralidade, ambos dons do mesmo Espírito. A grande efusão do Espírito consagra os discípulos para serem missionários do Evangelho em todos os lugares da terra. Povos diferentes entendem uma única linguagem comum a todos (v. 9-11). São Paulo atribui ao Espírito a capacidade de tornar a Igreja una e multíplice na pluralidade de carismas, ministérios e modos de agir (cf. 1Cor 12,4-6). A Igreja tem sempre diante de si o desafio de ser católica e missionária; de passar de Babel a Pentecostes. Cf. Bento XVI.

O Espírito Santo é certamente o fruto mais extraordinário da Páscoa na morte e ressurreição de Jesus : Ele sopra-o sobre os seus discípulos (Jo 20,22-23). É o Espírito do perdão dos pecados e o Espírito da missão universal. Melhor, é o protagonista da missão (cf. RM cap. III; EN 75s), confiada por Jesus aos apóstolos e aos seus sucessores. O Espírito está sempre em ação: na obra missionária simples e escondida de cada dia, como também nos momentos mais solenes, a fim de «renovar o acontecimento do Pentecostes nas Igrejas particulares», em ordem a um empenho mais firme na nova evangelização e na missão ad gentes.

Para essa missão o Espírito é-nos dado como guia «para a verdade completa» e como Consolador (Evangelho). Estreitamente ligada à ação criativa e purificadora do Espírito, está também a Sua capacidade de sanar e curar. Trata-se de um poder real e eficaz, à volta do qual existe uma sensibilidade particular no mundo missionário, ainda que nem sempre seja fácil de discernir bem. A ação sanadora atinge por vezes também o corpo, mas muito mais frequentemente toca o espírito humano, sanando as feridas interiores e infundindo o bálsamo da reconciliação e da paz.’


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