*Artigo do Padre José Antonio Pagola
‘Pouco a pouco
estamos a aprender a viver sem interioridade. Já não necessitamos de estar em
contato com o melhor que há dentro de nós. Basta-nos viver ocupados.
Contentamo-nos com funcionar sem alma e nos alimentarmos só de bem-estar. Não
queremos expor-nos a procurar a verdade. Vem, Espírito Santo, e liberta-nos do
vazio interior.
Temos aprendido a
viver sem raízes e sem metas. Basta-nos deixarmos programar de fora.
Movemo-nos e agitamo-nos sem cessar, mas não sabemos o que queremos nem para
onde vamos. Estamos cada vez mais bem informados, mas sentimo-nos mais perdidos
que nunca. Vem, Espírito Santo, e liberta-nos da desorientação.
Já só nos
interessam as grandes questões da existência. Não nos preocupa ficarmos sem luz
para enfrentarmos a vida. Fizemo-nos mais céticos, mas também mais frágeis e
inseguros. Queremos ser inteligentes e lúcidos. Mas não encontramos sossego nem
paz. Vem, Espírito Santo, e liberta-nos da obscuridade e da confusão interior.
Queremos viver
mais, viver melhor, viver mais tempo, mas viver o quê? Queremos sentir-nos bem,
sentir-nos melhor, mas sentir o quê? Procuramos desfrutar intensamente da vida,
tirar o máximo sumo, mas não nos contentamos só com passar bem. Fazemos o que
nos apetece. Não há proibições nem terrenos vedados. Por que queremos algo
diferente? Vem, Espírito Santo, e ensina-nos a viver.
Queremos ser
livres e independentes e nos encontramos cada vez mais sós. Necessitamos de
viver e nos encerramos no nosso pequeno mundo, por vezes tão aborrecido.
Necessitamos de nos sentir queridos e não sabemos criar contatos vivos e amistosos.
Ao sexo chamamos «amor», e ao prazer,
«felicidade», mas quem saciará a
nossa sede? Vem, Espírito Santo, e ensina-nos a amar.
Na nossa vida já
não há sítio para Deus. A Sua presença ficou reprimida ou atrofiada dentro
de nós. Cheio de ruídos por dentro já não pode escutar a Sua voz. Focados em
mil desejos e sensações, não chegamos a perceber a sua proximidade. Sabemos
falar com todos menos com Ele. Temos aprendido a viver de costas ao Mistério. Vem,
Espírito Santo, e ensina-nos a acreditar.
Crentes e não
crentes, pouco crentes e maus crentes, assim peregrinamos muitas vezes pela
vida. Na festa cristã do Espírito Santo, a todos nos diz Jesus o que um dia
disse aos Seus discípulos, exalando sobre eles o Seu alento : «Recebei o Espírito Santo». Esse Espírito
que sustém as nossas pobres vidas e alenta a nossa débil fé pode penetrar em
nós e reavivar a nossa existência por caminhos que só Ele conhece.’
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