Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘A sociedade clama por renovação. É preciso encontrar respostas
novas capazes de libertar as instituições políticas, culturais, empresariais,
educacionais e também as religiosas dos engessamentos e dos funcionamentos que
são pesados, custam muito e apresentam resultados insatisfatórios.
Esse é um fenômeno de ordem mundial e se explica pelas
proporções das crises de todo tipo que se abatem sobre o conjunto da
humanidade, criando cenários que comprovam ineficiências e incompetências. São
preocupantes a indiferença e a falta de intuição para encontrar o caminho que
pode fazer alcançar as metas das inovações e das respostas eficazes.
Na sociedade brasileira, verifica-se a falta de credibilidade
nas instituições de referência, o que pode ser explicado por fatores diversos
como a caducidade do parlamento, na esfera federal, e das instâncias de
representatividade popular nos contextos estaduais e municipais. O
funcionamento é viciado e pautado por formas que impedem o desabrochar do novo.
Essa realidade, que se pode atribuir ao ideológico não praticado, por exemplo
no contexto pluripartidário, apresenta diversos aspectos. Um deles é a ineficácia
e a ausência de assertividade na fomentação do diálogo para articular a
pluralidade, dificultando o aproveitamento das diferenças amalgamadas que
poderiam ser instrumentos na construção de novas respostas. Ao contrário, o
ideológico praticado no âmbito partidário serve apenas para a defesa de
interesses, manipulações e incompetente tratamento dos processos. Constatam-se
insensibilidades e morosidades nos procedimentos para atender às necessidades
do povo.
Há uma manemolência nos processos operacionais de governos, das
diferentes esferas, também no atendimento das demandas de infraestrutura.
Realidade reconhecida pelo Judiciário ao fazer o ‘mea culpa’ sobre a velocidade e a qualidade das respostas
institucionais. A sociedade brasileira vai ficando para trás. Vai ficando para
trás em razão de governanças, exercícios e representatividades que não
conseguem intuir o novo e encontrar o rumo das novas respostas. Esse mal se
derrama sobre o conjunto da sociedade, atingindo também as esferas privadas, religiosas
e particulares. O preço pago pela sociedade é muito alto. Vê-se uma crescente
degradação social, particularmente atestada pelo recrudescimento da violência,
já em muitos lugares, produzindo passivos que não serão superados senão a
longuíssimo prazo.
A saída é a possibilidade do surgimento de novos líderes: não é
uma questão etária e meramente cronológica. A exigência, em vista do
atendimento de demandas urgentes, é a aposta no surgimento e desabrochar de
novos líderes novos no lugar das lideranças comprometidas pelos vícios. Nenhuma
instituição, seja ela qual for, dará conta de muita coisa sem líderes
audaciosos, generosos, capazes de intuitir novos caminhos. Líderes prudentes e
respeitosos, propositivos e inovadores, além de cônscios da importância das
raízes e tradições. Ao se contemplar horizontes eleitorais, para além do
mecanismo de apertar botões, é hora de refletir, apostar e apoiar o surgimento
de novos líderes.
Novos líderes novos são os que podem, talvez por não estarem
ocupando cargos há muito tempo, dar conta de gerir processos de forma adequada.
Atribuição que inclui preparação científica e acadêmica, não dispensa
experiências, mas exige sobretudo equilíbrio emocional e psicológico para
formatar decisões próprias, agir com ética e responsabilidade, sem baixar a
guarda, sem medo e lamentações.
É hora de a sociedade brasileira repensar e redefinir processos.
Há um novo que precisa ser encontrado, mas não se pode fazer isso com
instrumentos obsoletos e com as costumeiras dinâmicas. É hora de encontrar
novos líderes, novos em isenção de vícios nos funcionamentos institucionais,
novos pela audácia de ousar nas inovações, novos pela leitura competente da
realidade, novos pelo gosto de governar para servir ao povo, transformando o
quadro social, político e cultural. Assim, as instituições poderão ser
instrumentos da construção de uma nova sociedade, de uma cultura de maior
alcance em razão de suas raízes profundas e qualificadas, por vezes
desconhecida ou pouco valorizada.
É a hora dos novos líderes novos.’
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