terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Divino nas nossas mãos


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre António Rego,
jornalista

‘Tive a alegria e a honra de viver e transmitir, pela rádio e pela televisão, grandes momentos de celebração religiosa. Com os papas peregrinos que encontraram pelo mundo fora multidões repletas de entusiasmo, num cenário vivo de alegria e glória. Não pelo espetáculo pontifício, mas pela forma como souberam juntar a fé, devoção, liturgia, entusiasmo e cultura. Em África e na Ásia sobretudo, no Norte, Centro ou Sul. Não se tratou de um simples deslumbramento, mas da forma viva, festiva e interior como os cristãos celebravam a sua fé, em particular a Eucaristia. E não era apenas a beleza dos cânticos – polifonias populares improvisadas –, mas da participação pela palavra, pelo gesto e pelo silêncio. Nem havia transgressão de qualquer rubrica do rito oficial que, sendo o mesmo, ganhava riqueza na forma como era animado pelo presidente e seguido por toda a assembleia que lhe emprestava, a um tempo, um tom festivo sem lhe retirar a interioridade. Era uma exaltação do sagrado e o mistério da fé que se exprimia em plenitude em comunidade de Igreja fazendo um só entre o presidente, a assembleia e a composição do texto ou do canto. Engana-se quem julgue que o rito só ganha dignidade na imitação monacal por vezes estática e melancólica.
A liturgia é mais que o rigor dos paramentos românicos, a alvura dos linhos engomados, das simétricas toalhas de altar, dos encerados do presbitério, ou o brilho das pratas e ouro dos vasos sagrados. Deus merece o melhor, o mais belo e até o mais rico. Mas não é aí que reside o melhor de uma comunidade celebrante do mistério eucarístico evocativo da Última Ceia. O mais rico é a comunidade.
Deixem-me por isso lembrar as celebrações que vivi, testemunhei e gravei – no coração e na câmara – no Norte, Centro e Sul de África, por exemplo. A aproximação do templo – por vezes perdido no meio da floresta, tão majestoso e belo quanto os que estamos habituados a ver – como pequenas cabanas com a luz imprecisa a entrar por frestas e tetos de colmo, com os sons de jovens, adultos e crianças no seu máximo de vibração, esplendor de melodia e delicadeza de harmonia, para não falar dos ritmos que se sentem mais do que se ouvem e não deixam adormecer nem o corpo nem alma. Contagiam, constroem comunidade, deixam falar o Espírito, fazem comunhão com o todo, exaltam o mistério da fé.
Entre nós, por vezes, acentuamos a solenidade no majestoso dos templos e na decoração rica das alfaias, no rigor dos passos dos clérigos e no cumprimento milimétrico dos gestos e das rubricas. Por vezes perante o silêncio indiferente das comunidades que, sendo respeitoso, esconde a alegria da ressurreição que deveria estar patente e inequívoca em todas as celebrações.’


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