Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
do Padre António Rego,
jornalista
‘Tive a alegria e a honra de viver e transmitir, pela rádio e
pela televisão, grandes momentos de celebração religiosa. Com os papas
peregrinos que encontraram pelo mundo fora multidões repletas de entusiasmo,
num cenário vivo de alegria e glória. Não pelo espetáculo pontifício, mas pela
forma como souberam juntar a fé, devoção, liturgia, entusiasmo e cultura. Em
África e na Ásia sobretudo, no Norte, Centro ou Sul. Não se tratou de um
simples deslumbramento, mas da forma viva, festiva e interior como os cristãos
celebravam a sua fé, em particular a Eucaristia. E não era apenas a beleza dos
cânticos – polifonias populares improvisadas –, mas da participação pela
palavra, pelo gesto e pelo silêncio. Nem havia transgressão de qualquer rubrica
do rito oficial que, sendo o mesmo, ganhava riqueza na forma como era animado
pelo presidente e seguido por toda a assembleia que lhe emprestava, a um tempo,
um tom festivo sem lhe retirar a interioridade. Era uma exaltação do sagrado e
o mistério da fé que se exprimia em plenitude em comunidade de Igreja fazendo
um só entre o presidente, a assembleia e a composição do texto ou do canto.
Engana-se quem julgue que o rito só ganha dignidade na imitação monacal por
vezes estática e melancólica.
A liturgia é mais que o rigor dos paramentos românicos, a alvura
dos linhos engomados, das simétricas toalhas de altar, dos encerados do
presbitério, ou o brilho das pratas e ouro dos vasos sagrados. Deus merece o
melhor, o mais belo e até o mais rico. Mas não é aí que reside o melhor de uma
comunidade celebrante do mistério eucarístico evocativo da Última Ceia. O mais
rico é a comunidade.
Deixem-me por isso lembrar as celebrações que vivi, testemunhei
e gravei – no coração e na câmara – no Norte, Centro e Sul de África, por
exemplo. A aproximação do templo – por vezes perdido no meio da floresta, tão
majestoso e belo quanto os que estamos habituados a ver – como pequenas cabanas
com a luz imprecisa a entrar por frestas e tetos de colmo, com os sons de
jovens, adultos e crianças no seu máximo de vibração, esplendor de melodia e
delicadeza de harmonia, para não falar dos ritmos que se sentem mais do que se
ouvem e não deixam adormecer nem o corpo nem alma. Contagiam, constroem
comunidade, deixam falar o Espírito, fazem comunhão com o todo, exaltam o
mistério da fé.
Entre nós, por vezes, acentuamos a solenidade no majestoso dos
templos e na decoração rica das alfaias, no rigor dos passos dos clérigos e no
cumprimento milimétrico dos gestos e das rubricas. Por vezes perante o silêncio
indiferente das comunidades que, sendo respeitoso, esconde a alegria da
ressurreição que deveria estar patente e inequívoca em todas as celebrações.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EVEZAElpuZPPUXxnQa
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