Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘A indiferença cidadã diante da necessidade de se formular
entendimentos a respeito da política traz prejuízos graves. Por isso mesmo, é
urgente investir, sem partidarismos e polarizações ideológicas, para que todos
possam constituir qualificados juízos políticos – uma tarefa de diferentes
instituições, particularmente as educativas, culturais e igrejas. O
desinteresse das pessoas em participar, de modo qualificado, de debates e
reflexões é um déficit crônico que inviabiliza a contribuição cidadã para edificar
uma sociedade mais justa. Em vez de se buscar formar juízos políticos,
delega-se a definição dos rumos do país a segmentos específicos, muitas vezes
sem credibilidade.
A qualidade de discernimentos para o exercício da cidadania
requer uma formação que ultrapassa o simples acúmulo de conteúdo informativo ou
o conhecimento de números. As informações e estatísticas podem ser
importantes, mas imprescindível é o conjunto de critérios éticos que permita
identificar e combater configurações ideológicas ligadas a interesses distantes
da necessidade do povo. A participação cidadã, a partir da ética, permite
reconhecer também que o juízo político é algo complexo e não pode ser reduzido
a ‘paixões partidárias’, com embates
que se assemelham aos de torcedores de times rivais.
A obtusidade de cidadãos na tarefa de emitir juízos políticos é
um contrassenso diante da ‘oportunidade
de ouro’ que a sociedade tem para dar um passo adiante no amadurecimento da
democracia. É preciso reconhecer essa carência e superá-la para conseguir
promover as mudanças necessárias ao país - o que inclui melhorar o quadro dos
que se submetem ao sufrágio nas urnas. Todos sabem que o cenário atual é
desolador. A falta de credibilidade da classe política faz com que até mesmo as
pessoas íntegras sejam vistas com desconfiança por conviverem com muitas outras
que deveriam representar o povo, mas se deixam seduzir por interesses
mesquinhos.
O tratamento da corrupção, que é endêmica no Brasil, requer
amadurecimento no processo de formação de juízos políticos e o primeiro passo
nesse processo é vencer a indiferença, alimentada pela decepção diante do que
se verifica no mundo da política. Com a efetiva participação do povo, a classe
política será induzida a sair dos leitos de partidarismos. Deixará de ter como
prioridade quase exclusiva a eleição de seus pares. E engana-se quem pensa que
esse partidarismo, que nutre atitudes egoístas, restringe-se aos ambientes da
política institucional. Esse é um mal sofrido por qualquer instituição,
seja de natureza política, religiosa, seja cultural.
Há modos e escolhas ideológicas incapazes de promover avanços,
mas que determinam a formatação de certos juízos. Consequentemente, são
escolhidos caminhos e nomes que emperram processos de transformação. Há uma
forte tendência, em todos os lugares, para se buscar manter tudo do jeito que
está. Prevalece, assim, a ‘vista grossa’
diante de mediocridades - são escolhidos até mesmo nomes e projetos que tornam
distante a possibilidade de se alcançar um bem maior. A opção mais comum é pelo
caminho que garanta ‘vantagens’
individuais ou a pequenos grupos. Eis uma miopia cidadã, patologia que
incide sobre juízos políticos e precisa ser extirpada, principalmente em ano
eleitoral.
Grande é a responsabilidade cidadã nesse processo.
Importante sublinhar ainda o dever da mídia na sua tarefa educativa e
informativa. A participação política cidadã, no diálogo e no exercício do
respeito mútuo, deve ser incentivada. Essa participação torna-se mais rica
quando são socializados juízos políticos, um intercâmbio que qualifica
compreensões e interpretações - da realidade e dos fatos. Cada pessoa esteja
aberta para o diálogo, com a necessária disposição para escutar, ponderar, e,
assim, amadurecer escolhas. Quando há efetiva participação cidadã, os juízos
políticos deixam de ser influenciados por quem não prioriza as urgências do
povo. Agora é a hora oportuna de investir para formar qualificados juízos
políticos.’
Fonte :
Nenhum comentário:
Postar um comentário