*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘‘Homens e mulheres em
busca da paz’, eis o horizonte que o Papa Francisco indica em sua mensagem
para a celebração do 51º Dia Mundial da Paz. Um mundo mais pacífico, aspiração
profunda de todos, só pode ser alcançado quando cada ser humano, efetivamente,
com sentimentos e ações, tornar-se coração da paz. Para isso, as muitas
vulnerabilidades sociais não podem ser tratadas com indiferença. É preciso dedicar-se
às várias situações de sofrimentos vividas por um número cada vez maior de
pessoas.
A humanidade padece com a falta de paz. Essa carência cresce com
as injustiças, o avanço do terrorismo e de tantas outras formas de violência.
Esse cenário alimenta o medo, motivando a construção de muros, o fechamento de
portas e de corações. Investe-se no isolamento, encastela-se em busca de
proteção. Porém, a primeira atitude para enfrentar as ameaças é buscar ter um
coração da paz, emoldurando compromissos civis, cidadãos e governamentais com o
sentido de respeito à integridade e aos direitos de cada pessoa. Nessa
perspectiva, é importante reconhecer os cenários preocupantes e agir com
solidariedade. Um exemplo : dos 250 milhões de migrantes mundo afora, 22 milhões
são refugiados.
Cruel realidade provocada pela violência que está aí a
contracenar com tantas outras brutalidades presentes nas regiões metropolitanas
do planeta e também na zona rural. Esses males são fruto da exclusão
social, de descasos de líderes que, muitas vezes, se deixam contaminar pelo
veneno da corrupção. Por isso, na busca pela paz, é imprescindível reconhecer
as fadigas e os sofrimentos enfrentados por tantos grupos humanos, povos e
culturas. Mas não basta enxergar toda essa dor, é preciso abrir o coração
e as portas da própria casa, com espírito de misericórdia, para acolher quem
foge da violência, da fome, dos sofrimentos e de tantos tipos de guerras.
A realidade é cruel para pessoas constrangidas a deixarem a própria terra
e seus lares, em razão de discriminações, perseguições, violências familiares,
pobreza e degradação ambiental.
Sublinha o Papa Francisco que para dissipar o sofrimento desses
irmãos é urgente um empenho mais efetivo de cada cidadão e cidadã. O gesto de
acolher o outro inclui, necessariamente, um compromisso concreto, desdobramento
do sentimento de misericórdia. A cidadania e a vivência da fé exigem de cada
indivíduo, particularmente quem vive em condições mais favoráveis, que seja
agente da paz nos lugares e na vida das pessoas que ainda não usufruem desse
dom de Deus.
Quem encontrou a paz tem o dever de, cotidianamente, promovê-la,
fazê-la chegar a outros ambientes e pessoas. Se não o fizer, corre o risco de
sofrer, cedo ou tarde, as consequências das degradações de todo tipo, a
derrocada das próprias seguranças. A paz é uma herança a ser construída no dia
a dia e precisa ser mantida com investimentos humanitários, educativos e
solidários, todos os dias.
As comunidades de fé, congregadas ao redor de projetos, bairros,
condomínios, precisam investir na promoção da paz, despertando o senso de
solidariedade. Um sentido que se manifesta nas práticas simples e diárias.
Reunidos, esses pequenos gestos podem consolidar uma nova cultura,
alicerçada na satisfação de poder ajudar outras pessoas a terem uma vida mais
digna. O empenho pela promoção da paz, tendo presente a realidade dolorosa de
pobres, migrantes, refugiados, perseguidos e abandonados é um caminho exigente
e interpelante. Todos possam, com olhar de misericórdia, enxergar os rostos
sofridos e as situações humanas de vulnerabilidade para, assim, com compaixão
cidadã, tornarem-se força capaz de dar novo rumo à sociedade.
Reações humanitárias e comprometidas com a justiça são
fundamentais para promover as transformações sociais almejadas por todos. Sem
essas bases, haverá muitas perdas e as próprias eleições que serão realizadas
neste ano terão pouco impacto nos processos de mudança, pois, provavelmente,
muitos eleitos repetirão erros e continuarão presos a interesses pouco nobres.
A sociedade civil precisa reagir, comprometida com a verdade, com o bem e com a
justiça, para conquistar avanços na busca da paz.’
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