domingo, 7 de janeiro de 2018

Em busca da paz

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Quem encontrou a paz tem o dever de, cotidianamente, promovê-la, fazê-la chegar a outros ambientes e pessoas.
 *Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG


‘‘Homens e mulheres em busca da paz’, eis o horizonte que o Papa Francisco indica em sua mensagem para a celebração do 51º Dia Mundial da Paz. Um mundo mais pacífico, aspiração profunda de todos, só pode ser alcançado quando cada ser humano, efetivamente, com sentimentos e ações, tornar-se coração da paz. Para isso, as muitas vulnerabilidades sociais não podem ser tratadas com indiferença. É preciso dedicar-se às várias situações de sofrimentos vividas por um número cada vez maior de pessoas.
A humanidade padece com a falta de paz. Essa carência cresce com as injustiças, o avanço do terrorismo e de tantas outras formas de violência. Esse cenário alimenta o medo, motivando a construção de muros, o fechamento de portas e de corações.  Investe-se no isolamento, encastela-se em busca de proteção. Porém, a primeira atitude para enfrentar as ameaças é buscar ter um coração da paz, emoldurando compromissos civis, cidadãos e governamentais com o sentido de respeito à integridade e aos direitos de cada pessoa.  Nessa perspectiva, é importante reconhecer os cenários preocupantes e agir com solidariedade. Um exemplo : dos 250 milhões de migrantes mundo afora, 22 milhões são refugiados.  
Cruel realidade provocada pela violência que está aí a contracenar com tantas outras brutalidades presentes nas regiões metropolitanas do planeta e também na zona rural.  Esses males são fruto da exclusão social, de descasos de líderes que, muitas vezes, se deixam contaminar pelo veneno da corrupção. Por isso, na busca pela paz, é imprescindível reconhecer as fadigas e os sofrimentos enfrentados por tantos grupos humanos, povos e culturas.  Mas não basta enxergar toda essa dor, é preciso abrir o coração e as portas da própria casa, com espírito de misericórdia, para acolher quem foge da violência, da fome, dos sofrimentos e de tantos tipos de guerras.  A realidade é cruel para pessoas constrangidas a deixarem a própria terra e seus lares, em razão de discriminações, perseguições, violências familiares, pobreza e degradação ambiental.
Sublinha o Papa Francisco que para dissipar o sofrimento desses irmãos é urgente um empenho mais efetivo de cada cidadão e cidadã. O gesto de acolher o outro inclui, necessariamente, um compromisso concreto, desdobramento do sentimento de misericórdia. A cidadania e a vivência da fé exigem de cada indivíduo, particularmente quem vive em condições mais favoráveis, que seja agente da paz nos lugares e na vida das pessoas que ainda não usufruem desse dom de Deus.
Quem encontrou a paz tem o dever de, cotidianamente, promovê-la, fazê-la chegar a outros ambientes e pessoas. Se não o fizer, corre o risco de sofrer, cedo ou tarde, as consequências das degradações de todo tipo, a derrocada das próprias seguranças. A paz é uma herança a ser construída no dia a dia e precisa ser mantida com investimentos humanitários, educativos e solidários, todos os dias. 
As comunidades de fé, congregadas ao redor de projetos, bairros, condomínios, precisam investir na promoção da paz, despertando o senso de solidariedade. Um sentido que se manifesta nas práticas simples e diárias.  Reunidos, esses pequenos gestos podem consolidar uma nova cultura, alicerçada na satisfação de poder ajudar outras pessoas a terem uma vida mais digna. O empenho pela promoção da paz, tendo presente a realidade dolorosa de pobres, migrantes, refugiados, perseguidos e abandonados é um caminho exigente e interpelante. Todos possam, com olhar de misericórdia, enxergar os rostos sofridos e as situações humanas de vulnerabilidade para, assim, com compaixão cidadã, tornarem-se força capaz de dar novo rumo à sociedade.
Reações humanitárias e comprometidas com a justiça são fundamentais para promover as transformações sociais almejadas por todos. Sem essas bases, haverá muitas perdas e as próprias eleições que serão realizadas neste ano terão pouco impacto nos processos de mudança, pois, provavelmente, muitos eleitos repetirão erros e continuarão presos a interesses pouco nobres. A sociedade civil precisa reagir, comprometida com a verdade, com o bem e com a justiça, para conquistar avanços na busca da paz.’

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