*Artigo
de Fabrício Veliq,
protestante,
é mestre e doutorando em
teologia
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando
em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado
em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
‘Que hoje se viva dentro de uma sociedade individualista e que
se preocupa extremamente consigo mesma é um dado que, provavelmente, a maioria
das pessoas irá concordar. Essa forma de viver é observável em diversas esferas
do cotidiano, desde as relações familiares, passando pelas relações de trabalho
até chegar às relações dentro das igrejas que se frequentam todos os domingos.
Uma das características dessa sociedade individualista é a falta
de atenção para com aqueles que estão mais próximos e, disso, a comunidade
cristã, obviamente, também não está isenta. Muitas vezes, essa comunidade, nas
diversas preocupações, algumas até mesmo legítimas, a respeito dos congressos a
se realizar, dos encontros de jovens a se organizar, das atividades
administrativas a se fazer e dos cultos a se preparar, se esquece do principal
que é a atenção que deve ser dada àqueles que estão organizando essas coisas,
bem como àqueles que são o alvo de todos esses esforços.
Nesse sentido, a ânsia de se ter tudo perfeito acaba desviando o
olhar para aquilo que é mais importante, ou seja, o relacionamento pessoal e de
amor que deve se fazer presente no meio da comunidade.
Os teólogos e teólogas, muitas vezes, também seguem essa mesma
dinâmica. Em seus discursos a respeito do se importar com os outros, do olhar
para o necessitado, assumindo sua causa e lutando em seu favor, diversas vezes
se esquecem de que esse necessitado está mais perto do que se imagina, estando,
não raras às vezes, dentro da própria casa, sendo um filho ou filha que sente a
ausência dos pais porque esses nunca estão presentes, pois estão organizando
coisas em suas igrejas, ou uma mãe e um pai que precisam de cuidados especiais
devido à idade, ou ainda um irmão ou irmã que está em crise devido a diversos
fatores, dentre tantos outros exemplos que se poderiam citar.
Nesse sentido, é
importante que os representantes desse discurso teológico de auxílio aos
necessitados estejam atentos ao lugar onde eles se encontram no dia a dia da
comunidade. Isso, claramente, não quer dizer olhar somente para suas próprias
relações pessoais e familiares, esquecendo-se dos demais, mas, justamente, ter
a atenção de que, muitas vezes, o necessitado do qual tanto se fala está
clamando ao seu lado.
Um dos riscos dos cristãos é trabalhar com sujeitos etéreos, que
só existem no campo do imaginário, sem se envolver com os problemas reais da
comunidade em que se estão inseridos. Quando isso acontece, é comum que as
respostas dadas aos problemas das pessoas e da sociedade sejam rápidas e
fáceis, uma vez que sujeitos ideais têm também soluções ideais. Contudo, uma
teologia assim não responde às questões da sociedade. Somente se entrando na
realidade, atento a ela em suas diversas nuanças é que é possível propor
respostas para questões concretas, que afligem realmente os envolvidos nelas.
Diante disso, é urgente que se desenvolva uma teologia que se
mostre atenta e se envolva com os problemas da comunidade, sejam os de perto,
sejam os de longe, ouvindo os necessitados e agindo concretamente para os
auxiliarem em suas questões, trazendo com isso, a boa nova de que Deus está
atento à humanidade e se importa com ela.’
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