*Artigo
de Evaldo D´Assumpção,
médico
e escritor
‘Dia 29 de setembro comemora-se o dia dos três Arcanjos: Miguel,
Gabriel e Rafael. No dia 2 de outubro, o dia dos Anjos da Guarda.
Mas parece-me que quase ninguém se recorda dessas figuras, que
são bíblicas. Lembrei-me da minha infância e juventude, quando éramos educados
nas escolas católicas e ouvíamos tantas referências à presença dos anjos em
nossa vida. Que saudade! Hoje, num mundo cada vez mais laicizado, mais
preocupado com a busca da felicidade através da ciência, da lógica, da
tecnologia, da monetarização, e até da hostilização às religiões e à crença no
mundo espiritual, essa imagem dos anjos vai se desvanecendo, e as pessoas
perdem uma relação extremamente valiosa para o seu dia a dia.
O curioso é que, se a relação dos crentes com as deidades se
fazia, e ainda são feitas, numa condição de distanciamento temeroso, colocando
Deus – seja com o nome que for – num trono infinitamente distante, a figura do
anjo sempre teve a condição de amigo, de companheiro sempre próximo, sempre ao
nosso lado. Vem-me à lembrança, a figura terna do anjo com roupas brancas e
grandes asas abertas, com as mãos estendidas sobre crianças brincando à beira
de precipícios, atravessando pontes frágeis, e ele sempre pronto a protegê-las.
Hoje, diante de situações adversas, logo se questiona onde andam
os anjos. Mas a resposta é que eles estão ali, lado a lado com os que receberam
para a sua guarda. Todavia, como guardar quem não os quer por perto, nem sequer
acreditam que eles existem? A nenhum ser espiritual é permitido violentar a
vontade, o livre arbítrio dos humanos. Esse dom precioso foi dado pelo Criador
a todas as suas criaturas, para preservar a sua liberdade de decisão, a sua
dignidade. Contudo, é preciso ter-se em mente que o livre arbítrio não é algo
irresponsável. Exatamente por ter sido dado em respeito à dignidade da
criatura, ele exige que seu uso seja também de total responsabilidade de quem o
tem. Não é possível utilizar o livre arbítrio, e simultaneamente transferir a
responsabilidade pelos próprios atos e suas consequências a outrem, às vezes, e
absurdamente, até para a própria vítima. Afinal, aqueles que as vitimam, não
acreditando senão na eficácia da sua violência, e na sua impunidade, recusam
qualquer ação inspiradora dos seus anjos, efetivando o seu propósito
destruidor. E daí surge uma das graves consequências de nossas ligações
interpessoais, ou seja, o mal feito por um, propaga-se como ondas sonoras,
atingindo a outros, mesmo que nada tenham a ver com aquelas más ações. Exemplo
evidente é o atropelamento de um transeunte por um motorista embriagado. Nesse
mundo de tantas injustiças, compreende-se o questionamento : se existem anjos, onde
estão os que nos deveriam guardar? Por que não nos livram dos males? A resposta
não é tão simples. Anjos não têm atuação direta, mas agem por ações indiretas
que podem, se não evitar totalmente o mal, pelo menos atenuá-lo de maneira
significativa. Exemplos são vistos a todo momento, contudo para quem não crê,
ou não quer crer, de nada adiantam. Sempre será encontrada uma explicação
racional para tudo. Sempre se dirá que aquilo foi coincidência, foi obra do
acaso. Contudo, para os que têm a mente aberta, será possível enxergar uma ação
extranatural que produziu um resultado benéfico. Mas, como diz o velho ditado,
o pior cego é o que não quer ver.
Mas, afinal o que são os anjos? Ou quem são os anjos?
A palavra anjo vem do grego ‘angelos’
que significa mensageiro, enviado. É portanto uma palavra que designa a função
e não a personalização. A existência e a ação dos anjos são estudadas numa
ciência denominada ‘angelologia’.
Eles aparecem pela primeira vez na Bíblia, no seu primeiro livro, ou seja, no
Gênesis, quando aos Querubins é dada a função de guardar a entrada do Paraíso.
Mas não é só na Bíblia que aparecem referência aos anjos. Em textos anteriores
à Abraão, e fora do judaísmo, existem várias citações bem claras referindo-se a
esses seres espirituais. Na carta de S. Paulo aos Colossenses, ele afirma a
existência dos anjos e faz referência à sua hierarquia : Tronos, Dominações,
Principados e Potestades. Dionísio, em seu tratado ‘De Coelesti hierarchia’, traduzido no século IX e aceito pelo
magistério da Igreja, descreve a hierarquia angélica completa, iniciando pelos
mais elevados até à sua base : Serafins, Querubins, Tronos, Dominações,
Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos. O curioso é que a menor
hierarquia – Anjos – é que dá o nome comum a todos os demais. No Concílio
Lateranense (1215) a existência dos anjos é claramente definida. Diversos
Teólogos, especialmente Tomás de Aquino, repetidamente afirmam a existência
desses seres espirituais. Pio XII, em sua encíclica Humani Generis, de 1950, ressalta a condição dos anjos de criaturas
pessoais. João XXIII o mais progressista dos Papas, referia-se constantemente à
ajuda do seu Anjo da Guarda. Fora da Igreja Católica, Karl Barth (1886-1968), John
Wesley, fundador do Metodismo, e o conhecido pregador Billy Graham referiam-se
com frequência aos anjos e sua realidade.
Muito poderíamos falar sobre os anjos, mas nossa intenção nesse
artigo é apenas despertar a curiosidade dos leitores para uma realidade
espiritual tão importante em nossas vidas, mas que um excessivo racionalismo,
mesmo em membros da hierarquia eclesial, desdenha ou até nega o que o
magistério da Igreja afirma, por achá-los ‘coisas
de crianças’. É bom recordar que o próprio Jesus disse : ‘Quem não se fizer simples como as crianças,
não entrará no reino dos Céus’. Quem não crê, priva-se de maravilhoso
benefício.’
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