*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘As dinâmicas que configuram a interioridade de cada pessoa,
fundamentais para a vivência transformadora da fé, dependem de dois âmbitos
muito especiais : a família e a escola, determinantes para a formação humana.
Por isso mesmo, uma sociedade que busca novas configurações e funcionamentos
institucionais deve investir fortemente na família e na escola.
Esse investimento deve considerar uma definição de escola que
não se restrinja ao ensino formal, o que significa contemplar as escolas
formais e as muitas outras ‘escolas da
vida’, lugares onde as pessoas também desenvolvem modos de ser e de agir. É
preciso ainda conceituar família de um modo mais amplo. Obviamente preservar a
família dentro do sentido incontestável do matrimônio, mas também considerar
grupos sociais que se formam a partir de propósitos comuns – desde os que
torcem apaixonadamente por um time de futebol aos que se reúnem em torno de
projetos sociais e culturais, por exemplo.
A família e a escola, pensadas no seu sentido genuíno e
essencial, mas também de forma mais abrangente, merecem atenção especial.
Somente assim podem ser alicerçadas as urgentes mudanças na sociedade
brasileira, fazendo surgir uma nova cultura, de vida e da paz. Essa cultura pressupõe o irrestrito respeito
ao bem comum e à justiça. Por isso mesmo, depende de transformações no interior
de cada pessoa que refletirão em suas escolhas. E nessas mudanças, é preciso
que o amor seja vetor de desenvolvimento. Cultivam-se, assim, sentimentos
humanitários e espirituais, que comprometem consciências e corações com o
respeito ao outro, que é irmão.
Por tudo isso, reconhecendo a importância de transformações nos
funcionamentos governamentais e de diferentes segmentos da sociedade, é
fundamental reconhecer esta urgência : dedicar atenção especial à família e à
escola. Vale, então, considerar analiticamente o que está acontecendo no contexto
atual da sociedade contemporânea - atos de violência como o de um jovem que
atirou contra colegas em uma escola, ou o desatino de atear fogo em si e nos
outros, suicidamente. E ainda o domínio ilegal de territórios e seus habitantes
motivado por propósitos que dizimam vidas. Tão destrutivamente forte quanto
esses males todos são as práticas de corrupção, em pequena e larga escala.
A vitória sobre o que ameaça a vida só será possível se as
famílias e as escolas forem cuidadas, urgentemente, de um modo melhor. Pois nas
famílias e nas escolas é que podem ser barradas as delinquências que geram
graves danos à cultura e a diferentes áreas, prejudicando a humanidade
inclusive no desenvolvimento econômico. O caminho, assim, é investir para que
se aprenda, na família e na escola, o exercício da solidariedade e da bondade.
A família e a escola despertam sentimentos que permitem a
compreensão humanística sobre o que é viver. Edificam, com envergadura, o
caráter de cada pessoa, que fica livre, inclusive, de graves quadros
patológicos, a exemplo da perda do apreço pela própria vida, do hábito de se
guardar e alimentar rancores, ressentimentos, ciúmes e disputas. Sem o adequado
investimento na família e na escola, a sociedade permanecerá a conviver com o
medo e a desconfiança, e ainda com o egoísmo que se manifesta na defesa
mesquinha dos próprios interesses, sempre em prejuízo do bem de comum.
Há muito que modificar, quando se consideram os hábitos e
práticas aprendidos e cultivados na família e na escola. É preciso coragem,
humildade, disponibilidade para ouvir, seriedade e dedicação, na tarefa de
compreender melhor e reconfigurar as práticas cotidianas. Diferentes
complexidades surgem como desafios para o mundo atual, a exemplo do uso das
novas tecnologias, que em algumas situações compromete laços familiares, a
harmonia entre as pessoas. Não menos desafiador é o contexto urbano, tão ferido
com a falta de civilidade e respeito.
Essas realidades e tantas outras que precisam ser mudadas requerem
dinâmicas com força para conduzir a sociedade no caminho do bem e da verdade, e
os passos para trilhar esse trajeto são aprendidos na família e na escola.’
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