*Artigo
de Crux/ Catholic News Service
‘Os jovens
italianos lideram uma missa dominical bem animada na Igreja Católica São Pio X,
em Caltanisetta, cidade siciliana do sul, com a ajuda de um migrante africano
que segue o ritmo brincalhão de um tambor.
Integrar os
migrantes em uma vida normal é um dos objetivos do Projeto Migrante/Sicília,
projeto da União Internacional dos Superiores Gerais. As freiras de diferentes
congregações em todo o mundo atenderam o apelo urgente do Papa Francisco em
2015 para ajudar os migrantes a fugir dos conflitos e da pobreza.
‘Chamamo-nos de migrantes entre migrantes’,
disse a irmã Janet Cashman, membro das Irmãs da Caridade de Leavenworth, no
Kansas. Ela serviu como assistente de saúde nos EUA, no Peru e no Sudão do Sul
antes de assumir esse último chamado com o Projeto Migrante/Sicília.
Religiosas estão
dando ajuda prática e apoio emocional a dezenas de migrantes que chegam às
margens da Sicília. A Organização Internacional das Migrações das Nações Unidas
disse que, desde o dia 3 de julho, mais de 85 mil migrantes – dos mais de 100
mil que atravessavam o Mediterrâneo – desembarcaram na Itália este ano.
‘Quando você olha para o mar, você vê sua
beleza, mas o que eu sei é que muitas pessoas estão perdidas lá’, disse a
Irmã do Sagrado Coração, Maria Gaczol, ao Serviço Católico de Notícias (CNS). A
ONU estima que mais de 2.200 pessoas morreram no mar nos primeiros seis meses
deste ano. ‘É também um cemitério, um
deserto’.
Antes dos
africanos chegarem à Líbia na travessia para a Europa, muitos devem atravessar
o deserto do Saara.
‘Não é um ou dois, mas quase todos falam
sobre o inferno que passaram para vir aqui’, conta ao CNS a irmã congolesa
Vicky Victoria, das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora da África, sobre a
perigosa jornada. ‘A maioria deles são
traficados, tendo recebido promessas de um bom trabalho na Líbia ou ainda
melhor na Europa’.
Mas o primeiro
grande desafio é atravessar o Saara vivos. Muitos imigrantes disseram a
Victoria que os motoristas que os levam na travessia do Níger só tiram proveito
da situação. Muitas vezes dizem aos migrantes que sua caminhonete quebrou no
meio do deserto.
Eles dizem : ‘Eu vou repará-lo e vou voltar para levá-los’.
‘Mas eles nunca voltam’, disse ela.
Se os imigrantes
abandonados tiverem sorte, algum motorista de caminhão amável retornará para
recolhê-los depois de deixar seus passageiros. Contudo, muitas vezes, os
migrantes são ‘deixados para andar sem
comida nem água’. ‘Eles simplesmente
cavam na areia com as mãos e colocam os corpos mortos abaixo’, disse
Victoria.
‘Muitos contam que o que mostra o caminho
quando estão perdidos são os ossos, os esqueletos daqueles que morreram ao
longo da travessia no deserto’, disse ela.
A tragédia
continua : para as mulheres, alcançar a Líbia pode significar ser colocada à
força na prostituição, enquanto outras são vendidas como escravas, alguns para
trabalhar em fazendas sem nenhum tipo de experiência.
‘Algumas pessoas são muito qualificadas, como médicos, economistas,
enfermeiras, professores. Eles são espancados como bestas. Suas costas são
apenas cicatrizes’, disse Victoria. ‘Assim é a
escravidão hoje, e ninguém fala sobre isso’.
Outros são
sequestrados e forçados a telefonar para suas famílias, com seus captores
exigindo resgate pelas suas vidas.
Tudo isso, antes
de fazer a viagem mortal no Mediterrâneo, muitas vezes em navios não aptos para
a navegação. Uma viagem que pode custar até 5.700 dólares.
‘Muitos já viram seus colegas afundarem em
diferentes barcos. Alguns deles estão dentro do barco. Outros ficam sentados na
beirada do barco e são engolidos pelo mar’, disse Victoria. ‘Alguns chegam, totalmente fora de si por
causa do trauma que viveram’.
A Irmã indiana
Veera Bara disse ao CNS : ‘Além de orar
com eles, integramos cada um em nossas orações. Suas histórias de vida também
resultam difíceis para nós quando as escutamos’.
Um migrante me
telefonou dizendo : ‘Irmã, eu não consigo
dormir mesmo que me dê um remédio forte. Todos os dias vejo minha família que
foi morta vindo a mim como um trauma’, disse ela.
As religiosas
oferecem apoio emocional, ensinam italiano e traduzem para os migrantes os
processos legais com funcionários italianos e em hospitais. Elas também
fornecem refeições e roupas quentes para aqueles que precisam, bem como
conduzem aulas de catecismo e mantêm os grupos infantis.
Um dos migrantes
ajudados pelas religiosas, Godfrey Wadelwasee, de 35 anos, compartilhou sua
própria história da travessia.
‘O barco estava superlotado, com algumas
pessoas desmaiando dentro. Muitas ondas fortes batiam. Eu via calças e bonés
daqueles que morreram na superfície das águas. Nosso barco começou a afundar.
Nós oramos. Logo, os socorristas vieram e nos apanharam’, disse o
nigeriano.
‘Eu acreditava em Deus, sabia que não
morreria. Quando chegamos à Sicília, eles escreveram nossos nomes. Eu
encontrei-me em Caltanisetta’, disse Wadelwasee, que está alojado em um
acampamento de centenas. Ele, como outros migrantes, espera obter papéis para a
residência e o trabalho. Mas as freiras disseram que talvez apenas 10% dos
migrantes serão aceitos. Itália ameaçou fechar suas portas, já que só este ano
entraram no país 83 mil migrantes, e a Itália está recebendo pouca ajuda de
outros países europeus. Mais de 2.000 migrantes já morreram este ano tentando
atravessar o Mediterrâneo. ‘É uma
tragédia e o mundo deve agir, se tivermos ainda um pouco de humanidade’,
disse Victoria. ‘Pelo contrário, as leis
foram apertadas e até mesmo os menores que deveriam ser protegidos, não estão
sendo mais amparados’.
Enquanto isso, o
migrante paquistanês Gishon Payan, de 23 anos, diz que não tem escolha senão
tentar trabalhar na Europa para apoiar sua mãe viúva e oito irmãos. Ele tomou um
empréstimo de mais de 10.000 dólares para fazer a viagem de dois meses de
ônibus e caminhada para a Itália e, se ele não pagar o dinheiro, a vida de sua
família está em perigo. ‘A vida está
cheia de tensão. Sinto a pressão para obter meus papéis e reembolsar o
empréstimo’, disse Payan ao CNS. ‘Não
consigo dormir nem comer’.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1170829/2017/07/religiosas-socorrem-migrantes-em-sua-tragedia/
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