*Artigo
de Evaldo D´Assumpção,
médico
e escritor
‘Hoje fala-se
muito em autoimagem e autoestima, contudo nem todas as pessoas tem uma noção
mais aprofundada do significado dessas duas palavras, tampouco o quanto são
importantes para a nossa qualidade de vida.
Imagem é a
impressão que se tem de uma pessoa. Se for de si própria, é o que se chama de
autoimagem, se for de outra, é a denominada heteroimagem. Quase sempre as duas
são falsas ou incompletas, pois consequências que são das expectativas
fantasiosas e dos pré-julgamentos que se costumam fazer e ou cobrar dos outros.
Elas vão sendo implantadas e reforçadas ao longo da vida, pelos elogios ou
pelas críticas que se ouve. Quando elogios, se moderados e sinceros, contribuem
para o crescimento de quem os recebe; se hipócritas ou exagerados, estimulam-se
neles a vaidade e a prepotência. Sendo críticas e excessivas, e direcionadas
especialmente para crianças e adolescentes – quase sempre pelos pais e mestres
– elas os tornam complexados, revoltados, inseguros e infelizes.
A autoimagem é
voraz e se alimenta principalmente da nossa autoestima. Exemplo disso é o
laboradicto, aquela pessoa que se diz ‘viciada’
em trabalho. Aquela que não gosta de férias, nem pretende se aposentar.
Sacrifica sua família, sua saúde, seu bem-estar e sua paz interior, tudo para
saciar uma autoimagem de eficiente, produtiva e trabalhadora, criada e ampliada
sempre e mais, pela bajulação dos chefes e companheiros de trabalho, que se
aproveitam disso para extrair dela mais resultados. Até que um esgotamento
psíquico, um derrame, um infarto fulminante, a leve ou a inutilize para sempre.
Já a autoestima é o legítimo gostar de si
próprio. Nada tem a ver com egoísmo, pois o egoísta, o egocêntrico, é alguém
que se detesta, e tanto, que está sempre querendo e tomando tudo para si. E faz
isso na tentativa – quase sempre frustrada – de conquistar-se a si próprio.
Contudo, quanto mais coisas e vantagens toma para si, mais prejudica aos
outros, e interiormente se sente mais frustrado e infeliz, pois de alguma forma
sabe que está causando danos a alguém. Pode-se dizer que ele vive num
permanente círculo vicioso, tentando amar-se, mas aumentando, cada vez mais,
sua auto rejeição, o abismo que o separa de si mesmo.
Gostar
genuinamente de si próprio é respeitar-se, é aceitar seus próprios limites, é
permitir-se ter momentos de lazer e de descanso.
Fazer do trabalho
uma parte importante de sua vida, mas nunca a essencial. Ele o tem como meio e
nunca como fim, pois seu objetivo maior é ser feliz. Como consequência do
gostar de si próprio, gostar também dos outros. Não os inveja, mas os respeita
e os aceita exatamente como são. Procura cumprir adequadamente as suas
obrigações, mantendo sempre a sua palavra e seus compromissos, pois os assume
conscientemente, sem prometer além de suas possibilidades. Está sempre pronto a
ajudar a quem precisa, tanto quanto aceita a ajuda dos outros, quando dela
necessita. Não se sente humilhado por isso, mas se identifica como parte de um
todo, que é a humanidade : uns pelos outros e nunca ‘uns devorando os outros’. Quem tem autoestima é feliz e irradia
felicidade em torno de si. Sua paz interior é evidente, gerando sempre a paz
entre os que o cercam e contribuindo permanentemente para que todos se sintam
bem em sua companhia.
Uma das vantagens
da autoestima é possuir alto grau de resiliência, que é a capacidade para
superar traumas e estresses. Na física, resiliência é definida como a
propriedade de certos materiais para restabelecer a sua forma original, depois
de submetidos a uma deformação. Bom exemplo disso é a mola de aço. Submetida a
forte pressão, ela se achata e perde sua forma de origem. Cessando a pressão,
ela imediatamente retoma ao que era. Na natureza também encontramos vários
exemplos de resiliência. Um dos melhores exemplos é o pé de bambu, que açoitado
pelo vento curva-se, mas não se quebra. Cessando a ventania, ele volta a sua
posição original.
Outras árvores,
imponentes e firmes, servem como bom exemplo da total falta de resiliência :
quando sopra o vento forte elas se partem ao meio, pois em consequência de sua
rigidez, não conseguem vergar. E morrem.
Da mesma maneira,
uma pessoa com boa resiliência, ao sofrer uma perda significativa, se vê
esmagada, mas não se abate. Com o tempo vai se recompondo até readquirir o equilíbrio
anterior. Quanto maior a resiliência, mais rápida, melhor e completa será a sua
recomposição. Já as pessoas rígidas, sem autoestima, presas em sua autoimagem
de ‘durões’, de inflexíveis, diante
de um revés se abatem e dificilmente se recuperam.
A resiliência é
uma das principais consequências da autoestima. Consequentemente, trabalhar
para se ter uma melhor autoestima é o caminho mais curto para a paz interior, a
felicidade pessoal, uma melhor qualidade de vida.’
Fonte :
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