‘Em 1974, um grupo
de agricultores começou a escavar um poço à procura de água em Xian, no
distrito de Lintong, da província de Shaanxi, a 1200 quilômetros de Pequim, na
China. Depararam, então, com uma imensidão de esculturas de terracota que
formavam um exército em coluna nas proximidades do mausoléu do primeiro
imperador da China, Qin Shi Huang.
As escavações que
se seguiram, e que ainda decorrem, desenterraram, até ao presente, 8.099
guerreiros, 670 cavalos, 130 carruagens e armas. As figuras formam filas em
três trincheiras. Os soldados variam em altura de acordo com as suas funções,
de 1,72 a 2 metros, sendo os generais os mais altos. Todos são retratados em
poses naturais e portam armas correspondentes, como lanças, arcos ou espadas de
bronze. As armas são reais. Acredita-se que tenham sido feitas antes de 228 a.
C. e usadas na guerra. As carruagens são recriadas com grande precisão.
Outras esculturas
de terracota não militares foram encontradas noutras valas e representam
funcionários, acrobatas e músicos.
Às ordens do imperador
O imperador Qin
Shi Huang (260 a. C.-210 a. C.) foi o unificador dos reinos chineses e
iniciador da primeira dinastia imperial da China, no ano 221 antes de Cristo.
Caracterizou-se por um reinado despótico e sobreviveu a três tentativas de
homicídio.
No seu governo,
mandou publicar um código penal severo, ordenou obras grandiosas, como o
reforço de uma parte da Grande Muralha, a abertura de novas estradas, a
construção de palácios e a criação de sistemas de irrigação, e unificou pesos,
medidas e moedas (foi ele que mandou cunhar a famosa moedinha chinesa com um
buraco no centro).
No ano 246 antes
de Cristo, logo depois de chegar ao trono, com apenas 13 anos, Qin chamou
artesãos de todos os reinos para construir o seu mausoléu e recriar os seus
exércitos em figuras de terracota em tamanho real. Esta arte funerária era
expressão na sua crença de que o protegeriam no seu túmulo quando falecesse e o
defenderiam dos seus inimigos no Além. Pensa-se que trabalharam nesta obra
setecentos mil operários e artesãos.
O mausoléu
constava de uma pirâmide de terra com 47 metros de altura e 2180 metros
quadrados de área. Este complexo serviu também como palácio e corte imperial.
Estava dividido em vários ambientes, salas e estruturas de apoio, e cercado por
uma muralha com diversos portões. Toda a obra ficou pronta antes da morte do
imperador, em 210 a. C. No decorrer das cerimônias fúnebres, as figuras do
exército de terracota foram enterradas nas proximidades do mausoléu, ocupando
um imenso retângulo de 62 metros de largura por 230 de comprimento. Estão
viradas para leste, de onde se presumia que surgissem os ataques.
Segundo o
historiador Sima Qian (145 a. C.-86 a. C.), na obra Registos do Historiador, o
imperador Qin foi enterrado em 210 a. C. com grandes tesouros e objectos
artísticos, bem como com uma réplica do mundo, em que pedras preciosas
representavam os astros, pérolas simbolizavam os planetas e lagos de mercúrio
figuravam os mares.
Xian permanecerá,
por mais de mil anos, como capital do império unificado e será a sede de onze
dinastias chinesas. A cidade adquirirá importância estratégica por estar
situada numa importante encruzilhada da Rota da Seda, entre o Sul da Ásia e a
Europa e a África, que muitas caravanas percorrerão a partir do ano 200 a. C.,
e receberá gente de todas as direções.
Os guerreiros de
terracota
Os soldados de
terracota permaneceram enterrados cerca de 2.200 anos. As escavações estão em
curso, quarenta anos após a sua descoberta. É um trabalho delicado, devido à fragilidade
natural do material e à sua difícil preservação. A terracota é argila cozida em
fornos com temperatura relativamente baixa, em torno dos 900 ºC.
Os artesãos que
esculpiram o exército de guerreiros de terracota de Xian, depois de cozer cada
figura, cobriam-na com uma camada de resina, para aumentar a durabilidade. E
coloriam-nas com tinta à base de minerais e fixadores, tais como sangue animal
ou clara de ovo, para dar realismo às figuras, às suas roupas e equipamentos.
A disposição das
três trincheiras revela intencionalidade. A trincheira maior, com mais de 6.000
figuras de soldados, cavalos e carruagens, representa a armada principal do
imperador Qin. A segunda trincheira continha cerca de 1.400 soldados da
cavalaria e infantaria, também com cavalos e carros de guerra, que retratavam a
guarda militar. Na terceira figurava a unidade de comando, com oficiais de alto
nível, oficiais intermediários e um carro de guerra puxado por quatro cavalos,
ao todo 68 figuras.
Foi ainda
encontrada uma quarta trincheira vazia.
A arte que produziu
este exército
As figuras de
terracota não foram esculpidas como uma peça só, mas em partes, que foram
unidas depois da cozedura. Eram, depois, colocadas no seu respectivo lugar, em
formação militar, de acordo com a sua patente e posto.
O conjunto dos
pormenores da obra revelam não só a qualidade dos artesãos, mas, sobretudo, o
poder do imperador, que tinha autoridade para ordenar a construção de uma
empreitada tão monumental. Cada soldado não só varia em peso, vestuário e
armas, de acordo com a patente, mas o pormenor vai até ao penteado e à
expressão facial individualizada : alguns sorriem, outros estão sisudos. Uns
têm barba, outros bigode. Os cavalos parecem estar vivos e as suas bocas
abertas sugerem relinchos.
Patrimônio da
Humanidade
Os guerreiros de
Xian são hoje um sítio arqueológico patrimônio mundial da Unesco desde 1987.
São um ícone do passado distante da China. O seu primeiro imperador, Qin Shi
Huang, mandou edificar um túmulo que entrou para a História, pois é tão
importante quanto as Pirâmides de Gizé, no Egito, ou o Taj Mahal, na Índia.
Portugal acolhe
pela segunda vez 150 réplicas em tamanho real das mais de oito mil figuras do
exército de terracota de Xian (China). Depois de passarem pelo Porto, em 2015,
estão em exposição na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até setembro próximo.
Os guerreiros que
podem ser vistos foram criados a partir dos originais, encontrados no mausoléu
do primeiro imperador da China, que mandou formar aquele exército para o
protegerem na tumba e dos inimigos do Além. Mais informações podem ser obtidas
na página da exposição : www.guerreirosdexian.com.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuAAukkVkFHPllOpSc
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