quarta-feira, 19 de julho de 2017

China : Exército de terracota de Xian

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
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‘Em 1974, um grupo de agricultores começou a escavar um poço à procura de água em Xian, no distrito de Lintong, da província de Shaanxi, a 1200 quilômetros de Pequim, na China. Depararam, então, com uma imensidão de esculturas de terracota que formavam um exército em coluna nas proximidades do mausoléu do primeiro imperador da China, Qin Shi Huang.

As escavações que se seguiram, e que ainda decorrem, desenterraram, até ao presente, 8.099 guerreiros, 670 cavalos, 130 carruagens e armas. As figuras formam filas em três trincheiras. Os soldados variam em altura de acordo com as suas funções, de 1,72 a 2 metros, sendo os generais os mais altos. Todos são retratados em poses naturais e portam armas correspondentes, como lanças, arcos ou espadas de bronze. As armas são reais. Acredita-se que tenham sido feitas antes de 228 a. C. e usadas na guerra. As carruagens são recriadas com grande precisão.

Outras esculturas de terracota não militares foram encontradas noutras valas e representam funcionários, acrobatas e músicos.


Às ordens do imperador

O imperador Qin Shi Huang (260 a. C.-210 a. C.) foi o unificador dos reinos chineses e iniciador da primeira dinastia imperial da China, no ano 221 antes de Cristo. Caracterizou-se por um reinado despótico e sobreviveu a três tentativas de homicídio.

No seu governo, mandou publicar um código penal severo, ordenou obras grandiosas, como o reforço de uma parte da Grande Muralha, a abertura de novas estradas, a construção de palácios e a criação de sistemas de irrigação, e unificou pesos, medidas e moedas (foi ele que mandou cunhar a famosa moedinha chinesa com um buraco no centro).

No ano 246 antes de Cristo, logo depois de chegar ao trono, com apenas 13 anos, Qin chamou artesãos de todos os reinos para construir o seu mausoléu e recriar os seus exércitos em figuras de terracota em tamanho real. Esta arte funerária era expressão na sua crença de que o protegeriam no seu túmulo quando falecesse e o defenderiam dos seus inimigos no Além. Pensa-se que trabalharam nesta obra setecentos mil operários e artesãos.

O mausoléu constava de uma pirâmide de terra com 47 metros de altura e 2180 metros quadrados de área. Este complexo serviu também como palácio e corte imperial. Estava dividido em vários ambientes, salas e estruturas de apoio, e cercado por uma muralha com diversos portões. Toda a obra ficou pronta antes da morte do imperador, em 210 a. C. No decorrer das cerimônias fúnebres, as figuras do exército de terracota foram enterradas nas proximidades do mausoléu, ocupando um imenso retângulo de 62 metros de largura por 230 de comprimento. Estão viradas para leste, de onde se presumia que surgissem os ataques.

Segundo o historiador Sima Qian (145 a. C.-86 a. C.), na obra Registos do Historiador, o imperador Qin foi enterrado em 210 a. C. com grandes tesouros e objectos artísticos, bem como com uma réplica do mundo, em que pedras preciosas representavam os astros, pérolas simbolizavam os planetas e lagos de mercúrio figuravam os mares.

Xian permanecerá, por mais de mil anos, como capital do império unificado e será a sede de onze dinastias chinesas. A cidade adquirirá importância estratégica por estar situada numa importante encruzilhada da Rota da Seda, entre o Sul da Ásia e a Europa e a África, que muitas caravanas percorrerão a partir do ano 200 a. C., e receberá gente de todas as direções.

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Os guerreiros de terracota

Os soldados de terracota permaneceram enterrados cerca de 2.200 anos. As escavações estão em curso, quarenta anos após a sua descoberta. É um trabalho delicado, devido à fragilidade natural do material e à sua difícil preservação. A terracota é argila cozida em fornos com temperatura relativamente baixa, em torno dos 900 ºC.

Os artesãos que esculpiram o exército de guerreiros de terracota de Xian, depois de cozer cada figura, cobriam-na com uma camada de resina, para aumentar a durabilidade. E coloriam-nas com tinta à base de minerais e fixadores, tais como sangue animal ou clara de ovo, para dar realismo às figuras, às suas roupas e equipamentos.

A disposição das três trincheiras revela intencionalidade. A trincheira maior, com mais de 6.000 figuras de soldados, cavalos e carruagens, representa a armada principal do imperador Qin. A segunda trincheira continha cerca de 1.400 soldados da cavalaria e infantaria, também com cavalos e carros de guerra, que retratavam a guarda militar. Na terceira figurava a unidade de comando, com oficiais de alto nível, oficiais intermediários e um carro de guerra puxado por quatro cavalos, ao todo 68 figuras.

Foi ainda encontrada uma quarta trincheira vazia.

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A arte que produziu este exército

As figuras de terracota não foram esculpidas como uma peça só, mas em partes, que foram unidas depois da cozedura. Eram, depois, colocadas no seu respectivo lugar, em formação militar, de acordo com a sua patente e posto.

O conjunto dos pormenores da obra revelam não só a qualidade dos artesãos, mas, sobretudo, o poder do imperador, que tinha autoridade para ordenar a construção de uma empreitada tão monumental. Cada soldado não só varia em peso, vestuário e armas, de acordo com a patente, mas o pormenor vai até ao penteado e à expressão facial individualizada : alguns sorriem, outros estão sisudos. Uns têm barba, outros bigode. Os cavalos parecem estar vivos e as suas bocas abertas sugerem relinchos.


Patrimônio da Humanidade

Os guerreiros de Xian são hoje um sítio arqueológico patrimônio mundial da Unesco desde 1987. São um ícone do passado distante da China. O seu primeiro imperador, Qin Shi Huang, mandou edificar um túmulo que entrou para a História, pois é tão importante quanto as Pirâmides de Gizé, no Egito, ou o Taj Mahal, na Índia.

Portugal acolhe pela segunda vez 150 réplicas em tamanho real das mais de oito mil figuras do exército de terracota de Xian (China). Depois de passarem pelo Porto, em 2015, estão em exposição na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até setembro próximo.

Os guerreiros que podem ser vistos foram criados a partir dos originais, encontrados no mausoléu do primeiro imperador da China, que mandou formar aquele exército para o protegerem na tumba e dos inimigos do Além. Mais informações podem ser obtidas na página da exposição : www.guerreirosdexian.com.’

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