*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘É grave o
processo de sucateamento das instituições. Isso porque os funcionamentos
institucionais, frequentemente, são obsoletos e não conseguem promover o bem da
coletividade. Essa realidade traz
resultados nefastos para cada instituição – sejam elas governamentais,
educacionais, religiosas ou familiares, além de prejuízos para toda a
sociedade. Os investimentos para se adequar processos são insuficientes e,
consequentemente, os resultados são pífios na prestação de serviços. Um mal
terrível que envolve variadas instituições, inclusive as que têm seu
balizamento maior na experiência da fé.
A sociedade pede
mais consistência por parte das organizações, que precisam cumprir bem sua
tarefa : assumir a responsabilidade de cooperar para a transformação de uma
sociedade carente de novos impulsos e inovações. É preciso deixar de insistir
em práticas de tempos que já se foram. Muitas ações que são próprias do passado
já não têm força para interagir com as demandas do mundo contemporâneo.
Consequentemente, não conseguem interferir positivamente na realidade. Mas
ainda assim, permanecem os gastos - com recursos financeiros e também humanos -
direcionados a esses funcionamentos inadequados. As pessoas ficam submersas na
mediocridade de escolhas e de encaminhamentos. Conviver com a pequenez naquilo
que se faz, por não se engajar nos processos de mudanças, torna-se normal. Isso
trava criatividades e amordaça muitos na condição de não conseguir contribuir.
Cria-se facilmente o vício de se fazer das configurações institucionais, nos
seus funcionamentos, simplesmente um amparo para quem se satisfaz com a oportunidade
de ter um ‘lugar ao sol’. Ora, esse
fenômeno é a contramão das dinâmicas modernas e inevitáveis das inovações.
Inovar é uma
exigência e deveria ser a meta, mas os agentes da inovação – as pessoas que
integram as instituições – se satisfazem com a conquista de uma zona de
conforto que mata gestos de altruísmo, impedindo o ser humano de ser participe
na criação e recriação. Compreende-se, assim, porque a ocupação de cargos não é
garantia para uma atuação proativa e com força de transformação. O marasmo no
interior das instituições envolve como uma nuvem a preciosidade de cada pessoa.
O resultado nefasto é o cumprimento de mandatos ou tempo de serviço com
opacidade.
Percebe-se que a
dimensão pessoal sucateia a instituição. Mas, também a dimensão institucional
pode prejudicar as pessoas, enjaulando-as, inclusive as que têm grande
potencial. Sem conseguir mostrar a própria capacidade, elas permanecem na linha
mediana de atuação. Por isso, cada
pessoa precisa assumir o compromisso de lançar um olhar sobre a instituição na
qual se insere, buscando saídas para a terrível fragilização das organizações.
Essa fragilização é fundamentada na incompetência que afeta modos de agir e nos
desvios ético-morais que, inclusive, levam agentes a usufruírem, de modo desonesto,
de recursos institucionais, conduzindo velozmente as organizações, na qual
trabalham, rumo a precipícios.
O fato mais comum
é, consciente ou inconscientemente, tender a escolhas que levem a colocar
responsabilidades e intervenções nas mãos de quem não as operará adequadamente.
Certamente, trata-se de mecanismo de defesa que perpetua a mediocridade que,
infelizmente, incomoda menos. O que incomoda mais é o desafio de desinstalar-se
da ‘zona de conforto’ para responder
às exigências e às demandas do dia a dia, às necessidades de qualificação
permanente do tecido institucional. Esse tecido, quando fortalecido, pode
alavancar mudanças que levem às soluções adequadas para o tempo atual. Assim, em gesto de humildade e batendo
penitencialmente no peito, cada pessoa precisa cultivar uma consciência cidadã
e não apenas ocupar postos que representem, somente, oportunidade de promoção
pessoal. Todos devem assumir a
responsabilidade para ajudar a encontrar novas respostas, com trabalho
produtivo. Esse é um indispensável caminho no combate à mediocridade, no
enfrentamento das demagogias e na coragem de avaliar, sinceramente, o que se
está fazendo, para encontrar os caminhos da inovação e recuperar as
instituições.’
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