*Artigo
de Bernardino Frutuoso,
Jornalista
‘No dia 8 de
Fevereiro, memória litúrgica de santa Josefina Bakhita, a religiosa sudanesa
que quando era menina sofreu a trágica experiência de ser vítima do tráfico,
celebramos a Jornada Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas.
Este ano o tema escolhido – São crianças, não escravos –
apresenta-nos a dolorosa e inumana situação que vive uma multidão de menores,
vítimas deste abominável flagelo.
Em pleno século XXI,
há 45,8 milhões de pessoas no mundo que vivem em situação de escravidão (Global
Slavery Index, 2016). Segundo as Nações Unidas, uma de
cada três vítimas são crianças. Este complexo fenômeno transnacional tem
raízes que se centram na pobreza, na marginalização, nas desigualdades sociais,
nos conflitos armados e assume múltiplas formas : exploração
laboral e sexual, matrimônios forçados, tráfico de órgãos, práticas criminosas
(crianças-soldados, mendicidade, tráfico de drogas, gangues delinquentes). A característica
destas novas escravidões é a vítima ser obrigada a realizar uma atividade
contra a sua vontade, por meio de ameaças ou outras formas de coação, tendo a
sua liberdade de movimentos condicionada.
O tráfico de seres
humanos assenta na exploração dos «mais
indefesos» aos quais, como referiu o Papa Francisco, «é roubada a dignidade, a integridade física e psíquica, mesmo a vida».
Um negócio que, infelizmente, tem procura e dá lucros de milhões de dólares
ficando atrás apenas do tráfico de drogas e de armas. É uma realidade
globalizada, presente em todos os continentes e em 167 países do planeta.
Cinquenta e oito por cento das vítimas concentram-se em cinco países – Índia,
China, Paquistão, Bangladesh, Usbequistão –, mas também estão presentes em
países que contam com sistemas jurídicos sofisticados. Há anos, no Reino Unido,
teve grande relevo midiático o caso de Victoria Climbié, uma menina trazida
pela tia da Costa do Marfim para a Europa sob o pretexto de lhe oferecer uma
boa educação. A menor foi vítima de abusos sexuais e torturada sistematicamente
durante cinco meses pela tia e o seu companheiro. Acabou por morrer em
consequência dos maus tratos. Tinha 8 anos. Um relatório de 2004 denunciava que
havia cerca de dez mil menores oriundos do Oeste de África que viviam no Reino
Unido. Na Europa, em 2015, foram reportadas mais de 30 mil vítimas de tráfico,
entre elas cerca de mil crianças.
O tráfico de seres
humanos é, nas palavras do papa, um «crime
contra a humanidade». Governos, instituições e todas as pessoas de boa
vontade estão chamados a comprometer-se de modo eficaz e coerente na luta
contra este flagelo, seja para eliminar as suas causas como para acompanhar
soluções dignas para as pessoas que caem nas malhas deste tráfico. E os
cristãos – «chamados a responder aos
problemas sociais deste tempo» como frisa Francisco – temos de pôr-nos na
linha da frente neste compromisso. Estas pessoas, discriminadas e exploradas,
são, no hoje da nossa História, «a porta
das chagas de Cristo» que é preciso transpor, como expressa o teólogo Tomáš
Halík na obra O meu Deus é um Deus ferido
(Paulinas, 2015). A fé cristã é paixão por Deus e pela Humanidade : ao tocar
nas feridas do mundo, tocamos em Deus. Essa é a mística da revolução do amor
que queremos viver.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EulyFZkAZAEPaHbiSD
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