segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

São crianças, não escravos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Bernardino Frutuoso,
Jornalista


‘No dia 8 de Fevereiro, memória litúrgica de santa Josefina Bakhita, a religiosa sudanesa que quando era menina sofreu a trágica experiência de ser vítima do tráfico, celebramos a Jornada Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas. Este ano o tema escolhido – São crianças, não escravos – apresenta-nos a dolorosa e inumana situação que vive uma multidão de menores, vítimas deste abominável flagelo.

Em pleno século XXI, há 45,8 milhões de pessoas no mundo que vivem em situação de escravidão (Global Slavery Index, 2016). Segundo as Nações Unidas, uma de cada três vítimas são crianças. Este complexo fenômeno transnacional tem raízes que se centram na pobreza, na marginalização, nas desigualdades sociais, nos conflitos armados e assume múltiplas formas : exploração laboral e sexual, matrimônios forçados, tráfico de órgãos, práticas criminosas (crianças-soldados, mendicidade, tráfico de drogas, gangues delinquentes). A característica destas novas escravidões é a vítima ser obrigada a realizar uma atividade contra a sua vontade, por meio de ameaças ou outras formas de coação, tendo a sua liberdade de movimentos condicionada.

O tráfico de seres humanos assenta na exploração dos «mais indefesos» aos quais, como referiu o Papa Francisco, «é roubada a dignidade, a integridade física e psíquica, mesmo a vida». Um negócio que, infelizmente, tem procura e dá lucros de milhões de dólares ficando atrás apenas do tráfico de drogas e de armas. É uma realidade globalizada, presente em todos os continentes e em 167 países do planeta. Cinquenta e oito por cento das vítimas concentram-se em cinco países – Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Usbequistão –, mas também estão presentes em países que contam com sistemas jurídicos sofisticados. Há anos, no Reino Unido, teve grande relevo midiático o caso de Victoria Climbié, uma menina trazida pela tia da Costa do Marfim para a Europa sob o pretexto de lhe oferecer uma boa educação. A menor foi vítima de abusos sexuais e torturada sistematicamente durante cinco meses pela tia e o seu companheiro. Acabou por morrer em consequência dos maus tratos. Tinha 8 anos. Um relatório de 2004 denunciava que havia cerca de dez mil menores oriundos do Oeste de África que viviam no Reino Unido. Na Europa, em 2015, foram reportadas mais de 30 mil vítimas de tráfico, entre elas cerca de mil crianças.

O tráfico de seres humanos é, nas palavras do papa, um «crime contra a humanidade». Governos, instituições e todas as pessoas de boa vontade estão chamados a comprometer-se de modo eficaz e coerente na luta contra este flagelo, seja para eliminar as suas causas como para acompanhar soluções dignas para as pessoas que caem nas malhas deste tráfico. E os cristãos – «chamados a responder aos problemas sociais deste tempo» como frisa Francisco – temos de pôr-nos na linha da frente neste compromisso. Estas pessoas, discriminadas e exploradas, são, no hoje da nossa História, «a porta das chagas de Cristo» que é preciso transpor, como expressa o teólogo Tomáš Halík na obra O meu Deus é um Deus ferido (Paulinas, 2015). A fé cristã é paixão por Deus e pela Humanidade : ao tocar nas feridas do mundo, tocamos em Deus. Essa é a mística da revolução do amor que queremos viver.’


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