*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
‘O Papa Francisco tem sido criticado quase desde o início do seu pontificado. Enquanto os meios de comunicação laicos apreciavam os seus gestos e palavras, alguns conservadores, inclusive bispos e cardeais, começaram a mostrar o seu descontentamento com a sua popularidade e estilo. À medida que ele foi dando entrevistas e denunciando o capitalismo selvagem e dizendo como sonhava com uma Igreja pobre, serva e inclusiva, e a ter alguns gestos de abertura, as ‘farpas’ na praça pública não se fizeram esperar.
As críticas subiram ainda mais de tom com a realização do recente sínodo extraordinário sobre a família, onde foi possível discutir temas considerados incômodos, como o do acolhimento eclesial dos homossexuais e dos divorciados recasados. Um dos críticos foi o bispo conservador norte-americano Thomas J. Tobin, o qual escreveu na página da Internet da sua diocese de Providence que o papa tem apetência para ‘criar confusão’ e de que ‘o conceito de ter um corpo representativo da Igreja a votar aplicações doutrinais e soluções pastorais (o tinha) impressionado por ser bastante protestante’.
Trata-se de um argumento curioso dado que a colegialidade foi praticada na Igreja desde o princípio, como já se vê no ‘Concílio de Jerusalém’ (Actos 15) e os bispos católicos têm sido chamados a votar sobre questões-chave desde o Concílio de Niceia, em 325.
Tobin não é o único prelado ou articulista a tecer comentários subversivos e fazer ameaças veladas sobre um eventual cisma na Igreja Católica. Os mesmos que até há pouco defendiam que a palavra do papa era vinculativa e todos se lhe deviam submeter, agora apelam à rebeldia contra um papa que até nem é liberal. Até há pouco, os teólogos com posições doutrinais mais ousadas estavam proibidos de manifestá-las publicamente e muitos foram silenciados durante os pontificados de João Paulo II e Bento XVI. Agora são alguns membros da hierarquia que apelam à dissidência no seio da Igreja!
Para defenderem a sua ideologia põem em causa a comunhão eclesial. Acham-se os defensores da fé e da verdade e citam a Bíblia para criticar o papa ‘protestante’. Talvez um pouco mais de humildade e a leitura do Evangelho numa atitude de escuta e conversão os ajudasse a evitar caírem no ridículo. Alguns dos escândalos na Igreja derivaram – e derivam – da recusa de transparência e de rigidez descabida. A Igreja perdeu relevância – e fiéis – mas estes ‘príncipes’ continuam a comportar-se como se ela não fosse sempre reformada.
O Papa Francisco, com a simplicidade que o caracteriza, começou a reformar o papado e a cúria romana e tem desafiado toda a comunidade a sair de si para ser verdadeiramente missionária. Mas os apelos feitos não têm tido os frutos desejáveis, a começar pela hierarquia : uma minoria conservadora ruidosa, que Frei Bento Domingues chamou ‘os funcionários da indústria da conserva eclesiástica’, tem-se-lhe oposto; outros têm-no ignorado, por distração, desinteresse ou comodismo.
Seria uma pena que as conferências episcopais, as dioceses, as paróquias, os movimentos e as congregações religiosas não aproveitassem este momento de graça e de simpatia ‘laica’ conquistada pelo Papa Francisco para se renovarem e testemunharem com alegria a sua experiência do Deus da misericórdia e da paz. O apelo de Frei Bento, ‘Não podemos deixar este Papa sozinho e comportarmo-nos apenas como espectadores benévolos e simpatizantes das suas atitudes’, ganha nova força. O compromisso deve começar por nós. Nós somos a Igreja!’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuEkkyEAVVoTMyDNiE
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