* Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
arcebispo de Belém do Pará, reflete sobre o dia do Senhor
‘Eis que o
Dia há de chegar, como forno aceso a queimar. Os atrevidos, os que praticam
injustiças, o Dia que há de vir, como palha, vai incendiar – diz o Senhor dos
exércitos –, sem deixar-lhes sobrar nem raízes nem ramos. Mas para vós que
tendes o meu temor, o sol da justiça há de nascer, trazendo o alívio em suas
asas” (Ml 3, 19-20). O céu e a terra de hoje estão sendo reservados para o
fogo, guardados para o dia do juízo e da perdição dos ímpios. “Ora, uma coisa
não podeis desconhecer, caríssimos: para o Senhor, um dia é como mil anos, e
mil anos como um dia. O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns
interpretam a demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois
não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a
converter-se. O dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus acabarão
com um estrondo espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se
dissolverão, e a terra será consumida com todas as obras que nela se
encontrarem. Se é deste modo que tudo vai desintegrar-se, qual não deve ser o
vosso empenho numa vida santa e piedosa, enquanto esperais e apressais a vinda
do Dia de Deus, quando os céus em chama vão se derreter, e os elementos,
consumidos pelo fogo, se fundirão? O que esperamos, de acordo com a sua
promessa, são novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça” (2 Pd
3, 8-13).
Palavras assustadoras? Faz parte de
nossa fé cristã a certeza de que o Senhor virá em sua glória no final dos
tempos. Deus será tudo em todos (1 Cor 15, 28)! Palavras consoladoras, que nos
estimulam na caminhada, fazendo toda a nossa parte para esperar e apressar a
vinda do dia de Deus. Esperá-lo nos faz clamar cada dia com a Igreja
"Vinde, Senhor Jesus"! Esperá-lo nos conduz à mesa Eucarística, pois
todas as vezes que se celebra a Santa Missa o Único e Eterno Sacrifício de
Cristo se faz presente e sua plenitude vem até nós. O Céu vem até nós! A
Eucaristia de cada dia resume a história da humanidade e nos faz presente o seu
sentido de encontro com Deus e uns com os outros. Levar em conta o dia do
Senhor é aproveitar todas as oportunidades para viver as realidades da
eternidade, amando a Deus e ao próximo, com intensidade. Não vivemos no medo,
mas na confiança e na certeza dos últimos tempos, inaugurados com a morte e
ressurreição de Cristo. Não há, pois tempo a perder. Quem nasce hoje seja
conduzido a viver olhando para o alto e para frente, sem rastejar na poeira do
pecado. Ao invés de ficar preocupado com o fim do mundo, trazer depressa para
cá as realidades da eternidade, pois sabemos que só o amor de caridade
ultrapassará os umbrais da eternidade! O que pode assustar torna-se convite a
viver bem! Nenhum receio de repetir: "Vinde, Senhor Jesus"!
O fogo queima e purifica. A esta altura do ano, quando a Igreja nos fala
das últimas e definitivas realidades, é hora de rever a nossa vida e fazer a
faxina nos recantos mais íntimos de nossa casa interior. Há muita velharia a
ser queimada! Há sentimentos de ódio, inveja ou ciúme a serem absolutamente
descartados, jogados fora, mesmo. A proposta da Igreja é uma corajosa revisão
de vida, sem medo de encarar os recônditos de nosso coração, onde se aninham
maldades que nos corroem por dentro. Os soberbos e os ímpios a serem queimados
estão dentro de nós. Não é o caso de buscar eventuais pessoas que praticam o
mal para condená-las, mas condenar a impiedade que está em nosso íntimo,
deixando florescer o que é bom! Primeira decisão: corajosa revisão de vida e
fogueira interior na qual se queime o que não presta!
O sol da justiça brilhe para nós! Toda palavra que sai da boca de Deus,
todas as experiências de sua graça que age em nós e em torno a nós, toda a
força do Evangelho proclamado, o testemunho das pessoas que nos edificam!
Deixar-se iluminar pelo sol da justiça é ato de inteligência, pura sabedoria! A
salvação de Deus quer entrar pelas frestas abertas nas janelas de nossas almas,
como o sol da manhã que irrompe glorioso! Quando fazemos um balanço de nossa
vida e dos contatos que temos com as pessoas, não é difícil perceber que a luz
é maior do que as trevas. Estamos diante de uma luta desigual, na qual o amor
de Deus e sua salvação valem mais do que a iniquidade! Na vida cristã, não cabe
o pessimismo derrotista, que vê maldade e más intenções em cada gesto e cada
olhar, mas a capacidade de ver e valorizar o bem. Nasce daí uma nova disposição
para espalhar este bem. Brilhe o sol da justiça no cumprimento alegre às
pessoas que encontramos ou na valorização dos pequenos gestos de quem nos
cerca. Ilumine os ambientes a luz que se acende quando espalhamos boas notícias
e falamos bem dos outros, o que serve para esconjurar os defeitos e vícios
eventualmente existentes!
“Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as
vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5,16).
Comentando esta palavra do Evangelho, Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos
Focolares, assim se expressava: "A luz se manifesta nas boas obras. Ela
brilha através das boas obras praticadas pelos cristãos. Você me dirá: mas não
são apenas os cristãos os que praticam boas obras. Muita gente colabora com o
progresso, constrói casas, promove a justiça. Tem razão. Inclusive o cristão
certamente faz, e deve fazer tudo isso, mas não é unicamente esta a sua função
específica. Ele deve realizar boas obras com um espírito novo, aquele espírito
que faz com que não seja mais ele a viver, mas Cristo nele. Com efeito, o
evangelista Mateus não se refere apenas a atos de caridade isolados, como
visitar os presos, vestir os nus ou cumprir todas as outras obras de
misericórdia, atualizadas de acordo com as exigências de hoje, mas refere-se à
adesão total do cristão à vontade de Deus, de modo a fazer de toda a sua vida
uma boa obra. Se o cristão age assim, ele é transparente e os elogios que
receber por suas ações não serão atribuídos a ele, mas a Cristo nele; assim
Deus se fará presente no mundo por meio dele. A tarefa do cristão, portanto, é
deixar transparecer essa luz que habita nele, é ser o sinal da presença de Deus
entre os homens" (Chiara Lubich, Palavra de Vida de Agosto de 1979).’
Fonte :
* Artigo na íntegra
de http://www.zenit.org/pt/articles/o-fogo-e-o-sol
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