* Artigo de Dom Alberto
Taveira Corrêa,
arcebispo de Belém do Pará, reflete sobre o
Reino de Deus e
a necessidade reavivar o desejo de anunciar
novamente Jesus Cristo
“Acima dele
havia um letreiro: ‘Este é o Rei dos Judeus’. Um dos malfeitores crucificados o
insultava, dizendo: ‘Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!’ Mas o
outro o repreendeu: ‘Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para
nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez
nada de mal’. E acrescentou: ‘Jesus, lembra-te de mim, quando começares a
reinar’. Ele lhe respondeu: ‘Em verdade te digo: hoje estarás comigo no
Paraíso’” (Lc 23, 38-43). A situação dos três condenados é a mais crítica que
se possa pensar e, no entanto, alguém é capaz de dar um verdadeiro salto, o
salto da fé, que supera as circunstâncias mais dolorosas e abre o horizonte do
Reino de Deus, “Reino eterno e universal: Reino da verdade e da vida, Reino da
santidade e da graça, Reino da justiça, do amor e da paz”. Da dura realidade da
Cruz brotaram as fontes da Evangelização.
Jesus Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, revelou-se apaixonado pelo Reino de Deus.
Anunciou o Reino com toda força, indicou seus sinais na natureza e na vida das
pessoas, proclamou-o presente e ao mesmo tem por vir, alertou para o fato de
que este Reino se encontra perto de nós! Seus discípulos percorrerão o mundo
inteiro, para chegar aos confins da terra, descobrindo as sementes do Reino de
Deus plantadas pelo Espírito Santo, mostrando-as presentes, proclamando a Boa
Nova da Salvação e realizando o próprio Reino na Igreja, testemunha e presença
do domínio de Deus.
Só que Deus não
domina com os critérios e modalidades correntes. Falar de Reino de Deus exige
pensar em semente, luz, fermento, grão de trigo que morre para dar a vida...
Até o fim dos tempos, quando o Senhor vier em sua glória, este Reino, qual
trigo no meio do joio, será provocado pela presença do mal, ainda que os
discípulos de Jesus saibam, com a certeza da fé, que a vitória será do bem e da
verdade. Ele, Jesus Cristo, é Senhor da história, princípio e fim, alfa e ômega
da aventura humana! Nele está a vida verdadeira e o sentido de toda a procura
do bem e da verdade!
Se parece muito
bonito e confortador afirmar tais verdades, bem sabemos que elas pertencem ao
âmbito da fé. Sem a fé, a realidade será compreendida de forma diversa, tanto
que aparecem dois modos de encarar a vida, ambos fadados a bloquear o sentido
da própria existência. De um lado, perder de vista a eternidade para que fomos
criados por Deus, justamente por não enxergar a maravilhosa realidade de
criaturas em que nos encontramos. As pessoas que vivem assim só acreditam em si
mesmas e naquilo que vêem com os olhos da carne. É a pretensão de autonomia
absoluta, na qual somos apenas obra do acaso ou dos processos físico-químicos
da natureza, pelo que “comamos e bebamos, pois amanhã morreremos” (Cf. 1 Cor
15, 32). É ainda possível enxergar a existência como uma fatídica destinação de
sofrimento, com a qual o pessimismo se instala e corrói as pessoas. De Deus se
tem apenas medo, pois é visto como um vigia implacável, juiz severo, pronto a
condenar os atos humanos. A fé se reduz a crença, os mitos se instalam e o medo
ocupa o coração e cresce o risco do fanatismo. É o outro lado de uma medalha
com a qual se pretende pagar o preço da passagem pela vida. Sabemos que nenhuma
das duas visões é a autêntica fé cristã.
A fé cristã, do
homem e da mulher que se encantam pelo Reino “de” Deus, escancara novas e inusitadas
oportunidades. Jesus Cristo é o centro da fé cristã. O cristão crê em Deus
através de Jesus Cristo, que nos revelou a face de Deus e é Deus com o Pai e o
Espírito Santo. Ele é o cumprimento das Escrituras, aquele em quem acreditamos,
aquele “que em nós começa e completa a obra da Fé” (Hb 12,2). Jesus Cristo,
consagrado pelo Pai no Espírito Santo, é o verdadeiro realizador da
evangelização, com a qual a Igreja se apresenta diante do mundo.
Sua missão continua
no espaço e no tempo (Cf. Homilia de Bento XVI, na abertura do Ano da Fé, 11 de
outubro de 2012). É um movimento que parte do Pai e, com a força do Espírito,
conduz a levar a Boa Nova aos pobres. A Igreja é o instrumento desta obra de Cristo,
unida a Ele como o corpo à cabeça. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”
(Jo 20,21). E soprando sobre os discípulos, disse: “Recebei o Espírito Santo”
(Jo 20,22). O próprio Cristo quis transmitir à Igreja a missão, e o fez e
continua a fazê-lo até o fim dos tempos, infundindo o Espírito Santo nos
discípulos, dando-lhes a força para “proclamar a libertação aos cativos e aos
cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um
ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).
Nossa vida cristã é
resposta a este imenso amor de Deus. É fundamental reavivar o desejo ardente de
anunciar novamente Jesus Cristo. Nos últimos tempos aconteceu o avanço de uma
"desertificação" espiritual. Já se podia perceber, a partir de
algumas páginas trágicas da história, o pouco o valor dado à vida num mundo sem
Deus, mas agora, infelizmente, vemos que o vazio que se espalhou. Mas é
precisamente a partir da experiência deste deserto, deste vazio, que podemos
redescobrir a alegria de crer e a sua importância vital. No deserto é possível
redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida. Há sinais da sede de
Deus, de um sentido para a vida, ainda que muitas vezes expressos de modo
confuso ou negativo. E no deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de
fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida,
mantendo assim viva a esperança. A fé vivida abre o coração à graça de Deus,
que liberta do pessimismo (Cf. Bento XVI, Porta Fidei).
Na conclusão do Ano
da Fé, nasce uma nova perspectiva de missão. Acolhamos neste final de semana o
impulso evangelizador da Exortação Apostólica “Evangelium Gaudium”, com a qual
o Papa Francisco impulsiona a tarefa da Evangelização. O Reino de Deus é de
novo anunciado e com novo ardor, novos métodos e novas expressões. Deus seja
louvado porque não podemos parar!
Fonte :
* Artigo na íntegra
de http://www.zenit.org/pt/articles/o-reino-e-a-fe
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