sábado, 14 de setembro de 2013

O escândalo do Crucificado

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)

 
 Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.
 
 
No dia 14 de setembro, a Igreja celebra na liturgia a festa da Exaltação da Santa Cruz. Eco dessa festa ressoa na solene celebração litúrgica da Sexta-feira Santa, por ocasião da celebração do Tríduo pascal, ou seja, dos três dias que se celebram de maneira mais intensa os mistérios que rondam a principal celebração litúrgica da Igreja, que é a Solenidade da Páscoa do Senhor. Na celebração da Sexta-feira Santa os fiéis são convidados a adorar a Santa Cruz, o objeto de suplício de Jesus Cristo, mas sinal eficaz de seu sacrifício salvífico em nosso favor. Após a assembléia aclamar solenemente por três vezes aquele é o sinal de nossa salvação, cada fiel é convidado a venerá-lo pessoalmente beijando-o.

A festa do mês de setembro retoma de maneira especial o sentido da cruz do Senhor. A morte de Jesus na cruz é um mistério importante da nossa fé. Desde muito cedo, os cristãos foram reconhecidos por portarem esse sinal sobre si e assim também identificaram os lugares sagrados, nos quais celebravam seu culto comunitário, desde o momento que o cristianismo deixou de ser oficialmente perseguido pelo Império Romano.

Ao escrever à comunidade dos Coríntios, São Paulo diz: “Aprouve a Deus, pela loucura da pregação, salvar aqueles que crêem. Os judeus pedem sinais, os gregos andam em busca da sabedoria, nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, que, para os judeus, é escândalo, para os gregos, sabedoria, mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, poder de Deus e sabedoria de Deus.” (ICor 1,21.23s). O mistério da visita de Deus à humanidade e da concretização do seu amor por nós está “escondido” no mistério da cruz. O mundo não pôde receber a pregação de um Deus crucificado. Isso atenta contra toda sensatez humana e mesmo depõe contra nós. Para a doutrina da filosofia, Deus só é concebido como um Deus perfeitíssimo, afastado do mundo e de toda preocupação humana. Deus é isolado em sua perfeição. Deus sequer pode ser entendido como criador, porque isso significaria que ele se ocuparia com algo que era inferior a sua perfeição sublime, seria algo indigno de Deus. De fato, filosoficamente falando, não podemos afirmar outra coisa de Deus. Porém os fatos não atestam isso, os fatos da Revelação. Aprouve a Deus manifestar seu grande amor por nós, suas criaturas, as quais Ele preferiu chamar de filhos e de amigos. Deus, que é amor, comunicou o seu amor criando suas criaturas, a fim de que cada qual, segundo o seu grau de perfeição, pudesse participa de algo da perfeição de Deus. E à sua criação ele presta assistência para que possa sempre manifestar a seu modo a glória de Deus.

Assim, desde o Antigo Testamento da Bíblia, encontramos o Deus criador que é também o Deus providente; a partir do Novo Testamente, encontramos o Deus salvador que convida o homem a participar de modo muito particular dessa glória. Estando o ser humano em situação indigna, Deus não se manteve afastado em sua perfeição sublime, mas se achegou a nós e assumiu a figura humilhante do crucificado. Com efeito, nunca mais os cristãos poderiam desdenhar de sinal tão premente do amor de Deus: a cruz.

         Quando fazemos sobre nossos corpos o sinal da cruz, atestamos para o mundo que nosso Deus é o Deus salvador, e invocamos sobre nós a sua bênção. Atestamos que no mundo há injustiças, imoralidades, desamor; que o homem inescrupulosamente se presta a tão torpes atitudes. Mas, o testemunho de Jesus, de sacrifício e auto-oblação, é mais forte do que a morte e a injustiça, pois é o sinal eficaz de que Deus não nos abandonou e que nos quer eternamente junto de si.


 

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