quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Movimento Litúrgico e os efeitos do Concílio Vaticano II na Liturgia (Capítulo 3 de 3)

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



4. OS EFEITOS DO CONCÍLIO VATICANO II
NA LITURGIA DA IGREJA CATÓLICA

W  25 de dezembro de 1961 convocação deste Concílio, o XXI Concílio Ecumênico, pelo papa João XXIII

W  11 de outubro de 1962 início em ritmo extraordinário

João XXIII
W  8 de dezembro de 1965 término sob o papado de Paulo VI  

Paulo VI

A Reforma Litúrgica (de 1963 a 1990 )

            A reforma litúrgica, decorrente do movimento litúrgico, foi o resultado mais notório deste Concílio.

            Com a promulgação da constituição ‘Sacrosanctum concilium’, que reproduz e am­plia a ‘Mediator Dei’, exatamente 400 anos após o fim do Concílio de Trento (04.12.1563 – 04.12.1963), testemunhamos um colegiado ocupando-se do tópico liturgia pela primeira vez na caminhada histórica da Igreja perante uma assembléia ecumênica.

            O propósito do Concílio Vaticano II era:

W  ‘Fomentar a vida cristã entre os fiéis’
W  ‘Adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições susceptíveis de mu­dança’
W  ‘Promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo’ e
W  ‘Fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja

            E a finalidade da reforma era avivar a fé, proporcionar a justa medida entre tradição e adequações necessárias na liturgia – sem limitar-se a ritos, cerimônias e textos – e incen­tivar a participação ativa do fiel leigo. Sua importância foi inexorável para distinguirmos a liturgia como a luz primordial do ser cristão e o povo de Deus como o indivíduo da ação litúrgica. Impulsionou, ainda, a centralização da Palavra de Deus na liturgia e o reconheci­mento das Igrejas locais.

            Embora a reforma tenha sido relativamente bem aceita na Igreja de Rito Romano, ela não foi de todo compreendida, expondo atitudes equivocadas e contraditórias.

            Vale destacar que a reforma litúrgica não ocorreu sozinha, apartada de outros gru­pos. Na verdade, a atuação foi de maneira integrada ao movimento bíblico, ao ecumênico, às frentes missionárias, à pesquisa das várias religiões e à averiguação do elo entre a religião e as necessidades humanas antes e após o Concílio. Acima de tudo, a reforma litúrgica esta­beleceu um legado vigoroso :

W  Ampliou a vivência cristã ao incentivar a participação deliberada e ativa do fiel na litur­gia
W  Aumentou o sentido comunitário da vida litúrgica
W  Sancionou o uso da língua vernácula
W  Prestigiou o enriquecimento doutrinal e catequético
W  Incentivou a leitura bíblica
W  Adequou as instituições eclesiais ao contemporâneo
W  Estimulou o ecumenismo pela união dos cristãos
W  Recomendou a participação de todos na missão da Igreja
W  Simplificou e permitiu a transparência na brevidade dos ritos

            Contudo, passados os primeiros anos da promulgação conciliar, era nítido que a litur­gia atravessava momentos difíceis. Da exaltação inicial, ávidos por granjear resultados apressadamente, migrou-se para a desilusão.

            Alguns problemas não estavam previstos com clareza no Concílio. Por exemplo : as atenções estiveram focadas na liturgia em si e não no sacerdote; priorizaram a renovação de livros litúrgicos e não a reciclagem das assembléias celebrantes; assim como o problema da inculturação ou adaptação da liturgia às diversas culturas.

            Diferentes fases permearam estes anos:

Fase do Entusiasmo

            A década de 60, num geral, foi assinalada pela expectativa de aplicação da reforma :
ü  liturgia elaborada na língua pátria (ou vernácula)
ü  maior relevância às Conferências Episcopais
ü  reabilitação da concelebração e da comunhão sob as duas espécies
ü  sintetização do Ofício Divino
ü  impulso às frentes missionárias
ü  ênfase no mistério pascal, isto é, na paixão, morte, ressurreição e ascensão de Cristo
ü  fiel participativo
ü  exaltação do culto

Fase do Desencanto

            Na década de 70, o desapontamento era reflexo de uma renovação de cunho raso e que, talvez, não estivesse preparada para imersões mais profundas. A partir daí, a preocu­pação pastoral recorreu à evangelização ao entender que a liturgia não solucionava todas as questões de base :
ü  surgem novos livros litúrgicos
ü  a consolidação das celebrações
ü  a abertura da Igreja para a dimensão social reflete-se na liturgia
ü  propagação veloz da secularização na sociedade
ü  a deficiente formação litúrgica nos seminários
ü  a insuficiente reciclagem oferecida ao clero e
ü  sacerdotes em conflito 

Fase da Recuperação

            A reorientação litúrgica, na década de 80, reacendeu pesquisas e proporciou um novo estilo de celebração:
ü  pesquisa sobre a situação da vida litúrgica no Brasil (1983) e ampla avaliação das Dire­trizes Gerais da Ação Pastoral da CNBB (1987)
ü  a reciprocidade celebração-evangelização tornou-se mais dinâmica e conciliatória 

Fase da Pastorial Litúrgica

            Na década de 90, notabiliza-se a pastoral litúrgica e um renovado empenho pela Pala­vra de Deus:
ü  edição de novos Lecionários
ü  reconhecimento e uma certa apreciação da Liturgia das Horas e
ü  a prática do silêncio na oração


A Espiritualidade Litúrgica (de 1990 em diante)
           
      Espiritualidade é ‘a vida do cristão movida pelo Espírito’ e Espiritualidade litúr­gicafaz da liturgia (Eucaristia, Sacramentos e Ofício Divino) o grande referen­cial da vida do cristão’, conforme Dom Estevão Bettencourt, do mosteiro do Rio de Ja­neiro. A espiritualidade litúrgica não elimina ‘as respostas pessoais do cristão à graça de Deus ou às devoções particulares’. Porém, inexiste para muitos fiéis pela falta de uma formação ou catequese adequada. 
Dom Estevão Bettencourt
       Características :

ü  Sentir (pulsar) com a Igreja
o   O lema ‘Sentire cum Ecclesia’, isto é, pensar e viver com a Igreja, divulgado no princípio da restauração litúrgica, conscientiza o fiel de que, para ser Igreja, tem que se alimentar da Palavra de Deus.

ü  A leitura eclesial da Bíblia
o   Para entende-la é preciso interpretá-la sob o impulso do Espírito que a ins­pirou’ (Cons. Dei Verbum nr. 12).

ü  Formação doutrinária
o   Através da Bíblia e da tradição oral, a liturgia e a fé relacionam-se de acordo com a máxima dos antigos: lex orandi lex credendi (‘o conteúdo da oração deve condizer ao conteúdo da fé’)

ü  A Eucaristia e os sacramentos
o   Ser cristão é pertencer a um Corpo cuja Cabeça é Cristo e o tronco é Jesus. O embasamento no Corpo ou no tronco se faz primeiro pelo Batismo, é confirmado pela Crisma e nutrido periodicamente pela Eucaristia.

ü  Sacramentais 
o   São os ritos (bênçãos) ou objetos (rosário, crucifixos, etc...) pelos quais Deus difunde suas graças. Por exemplo : a Liturgia das Horas, ou Ofício Divino, expressa a oração da Igreja para as várias fases do dia e a santifica­ção do tempo.
ü  As devoções ou a piedade particular
o   Piedade objetiva (litúrgica) e piedade subjetiva (particular) não se opõem; mas a Igreja interpela para que o cristão tenha um elo doutrinário entre a liturgia e a oração individual.

ü  Sacerdócio comum dos fiéis
o   Segundo a doutrina da Igreja, todos os batizados participam do sacerdócio de Cristo, sem confundir com o sacerdócio ministerial, que é um sacra­mento da Ordem.

ü  Arte Litúrgica
o   Sendo um dos modos de representar o inefável ou invisível, está vinculada à liturgia, porém, a arte na Igreja ‘é um meio e não um fim e que o artista entenda o porquê e o para quê de cada objeto de arte, no contexto do templo sagrado’. 


5.   CONCLUSÃO

Da liturgia para a vida cotidiana

O Vaticano II sumarizou todas as ânsias do movimento litúrgico, ultrapassando precon­ceitos sem fundamento e o fiel transcendeu da liturgia para a vida, propagando no mundo essa transformação, que é obra do Espírito Santo.

A liturgia é o meio que Deus nos concede para falar com Ele, por isto, ela não se es­gota na celebração, mas existe um antes e um depois que devem ser cuidados pondera­damente : ‘a celebração litúrgica incorpora-nos na igreja de hoje e projeta-nos para o amanhã, num progresso contínuo, porque o Espírito que ressuscitou Jesus Cristo den­tre os mortos está presente na Igreja e acompanha-a através dos séculos’.



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