Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Visando ao conhecimento e ao
aprofundamento da Palavra de Deus, o tempo litúrgico foi formado em anos : ‘A’,
‘B’ e ‘C’. No ano ‘A’ é lido o Evangelho de Mateus; no ano ‘B’, o de Marcos; no
ano ‘C’, o de Lucas. O Evangelho de João é lido nas solenidades maiores.
O Evangelho de Marcos
é o mais sucinto. Ele trata do discipulado e busca responder à pergunta ‘Quem é
Jesus?’. Anuncia a chegada do Reino de Deus.
Em Marcos 1,14-20,
depois do início do Evangelho com João Batista, a vinda do Espírito sobre Jesus
no rio Jordão e as tentações no deserto, Marcos conta, em síntese, o início da
atividade pública de Jesus. Ele percorreu a região da Galileia pregando a
Boa-Nova, que o Reino de Deus começara e a necessária conversão para aceitá-lo
na fé e comprometer-se com ele.
Nas aldeias da
Galileia estavam as pessoas mais pobres e deserdadas, privadas do seu direito
de usufruir da terra que lhes fora dada por Deus. Aí, como em nenhum outro
lugar, Jesus encontrou o Israel mais doente, oprimido e maltratado pelos
poderosos. Nas cidades, por outro lado, viviam os detentores do poder com seus
vários colaboradores : governantes, grandes proprietários de terras, cobradores
de impostos. Não eram eles os representantes do povo de Deus, mas seus
opressores, os causadores da miséria e da fome dessas famílias. O Reino de Deus
deve começar onde o povo é mais humilhado. Esses pobres, famintos e aflitos
eram as ‘ovelhas perdidas’ que melhor representavam todos os oprimidos de
Israel. Jesus era muito claro ao afirmar que o Reino de Deus só podia ser
anunciado pelo contato direto e próximo com as pessoas mais necessitadas de
alívio e de libertação; nelas a semente do Reino encontra ‘terra boa’.
Jesus foi de cidade
em cidade e de aldeia em aldeia proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de
Deus. A causa a que Jesus dedicou daí em diante seu tempo, suas forças e toda
sua vida é o que Ele chamava de o ‘Reino de Deus’. Foi, sem dúvida, o centro da
sua pregação, o que animava toda a sua atividade. Tudo o que Ele disse e fez
está ao serviço do Reino de Deus, que é a chave para compreender o sentido que
Jesus deu à sua vida e para entender o projeto que Ele quis ver realizado na
Galileia, no povo de Israel e, em última análise, em todos os povos. Na
Galileia, Jesus não ensinou uma doutrina religiosa para que seus ouvintes a
aprendessem bem, mas anunciou um acontecimento para que essas pessoas o
recebessem com alegria e fé. O povo encontrou um profeta apaixonado por uma
vida mais digna para todos, que procurava com todas as suas forças que Deus
fosse amado e que o seu Reino de vida, de justiça, de paz e de misericórdia se
difundisse com alegria.
Após a morte de João,
Jesus começou a falar uma nova linguagem : o ‘Reino de Deus está próximo’. Não
devemos esperar mais, temos de acolhê-lo e, em breve, ele espalhará a sua força
salvadora. Essa Boa-Nova deve ser anunciada a todos. O povo deve converter-se,
contudo, a conversão não consistirá em preparar-se para um julgamento, mas em ‘entrar
no Reino de Deus’ e aceitar o seu perdão salvador. A ideia de julgamento não
desaparece em Jesus, mas sua visão muda completamente : Deus vem para todos
como salvador, não como juiz. Deus não obriga ninguém, Ele convida. Seu convite
pode ser aceito ou rejeitado.
Cada um decide seu
destino. Alguns ouvem o convite, aceitam o Reino de Deus, acolhem-no e
deixam-se transformar; outros não ouvem a Boa-Nova, rejeitam o Reino, não
entram na dinâmica de Deus e fecham-se à salvação.
A conversão e a fé
devem realizar-se no seguimento de Jesus. A vocação dos primeiros discípulos é
um exemplo concreto de conversão e de fé e também um ato que mostra o
seguimento de Jesus. No tempo de Jesus eram os discípulos que escolhiam o
mestre. No caso, porém, é Jesus que chama os pescadores para o seguirem. Além
disso, Jesus não os chama para aprender uma doutrina, mas para uni-los à sua
pessoa e à sua missão. A iniciativa de Jesus, que chama e cria a decisão de
segui-lo, recorda a iniciativa e a autoridade com que o Deus de Israel chamou
os seus profetas para desempenharem uma missão especial a favor do povo (cf.
1Rs 19,19-21; 2Rs 2,12-15), missão que nesse caso é a de serem ‘pescadores de
homens’, isto é, de reunirem os membros dispersos do povo de Deus. Esse
primeiro chamado divino, exemplo de conversão e de fé, pretende ser ao mesmo
tempo o modelo de toda vocação cristã.
Três traços
fundamentais caracterizam essa vocação : a) é uma resposta a um chamado
anterior; b) não pode haver dúvida a esse respeito; c) a resposta da pessoa
implica desprendimento e renúncia, traduzindo-se, sobretudo, num ‘seguimento’.
Discípulo, portanto, não é aquele que abandona algo; é aquele que, respondendo
decididamente a um chamamento, encontrou alguém e o segue.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/o-evangelho-de-marcos.html
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