Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
frade carmelita
‘Desde
a publicação do artigo ‘Le suore e la sindrome del burnout’ no
fascículo mensal do jornal L’Osservatore Romano chamado Donne
Chiesa Mondo (David, 2020), muito se tem comentado sobre as condições
de trabalho das irmãs religiosas consagradas dentro dos contextos eclesiais.
Entre diversos fatores elencados, a publicação indicou a crescente preocupação
com os altos índices da síndrome de burnout. Tendo em vista as reflexões
apresentadas, a União Internacional dos Superiores Gerais (UISG) instituiu uma
comissão trienal para o ‘cuidado pessoal’. O objetivo é animar a ‘construção
de comunidades resilientes’.
Mesmo
que a síndrome de burnout não seja um assunto novo dentro do ambiente eclesial,
é preciso reconhecer que as pesquisas científicas sobre o assunto são
insuficientes – para não dizer inexistente – entre as irmãs religiosas
consagradas, principalmente no Brasil. As razões para tal ‘esquecimento’
podem ser muitas, mas principalmente porque há relutância em falar em estresse
e desgaste psicológico entre aquelas que consagram as suas vidas ao trabalho
com o próximo. De fato, o compromisso com os ideais da consagração religiosa
pode ser tanto que as religiosas não se rendem conta do risco da exaustão
causada pelo excesso de trabalho.
Tendo
como base as preocupações e conclusões elencadas pelo contexto eclesial e pela
pesquisa científica, desenvolvemos uma pesquisa empírica entre as religiosas
consagradas brasileiras (Sanagiotto et al., 2022). Basicamente, as duas
perguntas que orientaram a pesquisa foram : quais são as características da
síndrome de burnout entre as religiosas consagradas brasileiras? Qual o papel
da vida comunitária nos processos (no desenvolvimento) da síndrome de burnout?
Na
nossa pesquisa identificamos que a síndrome de burnout entre as religiosas
consagradas brasileiras se define por médios níveis de exaurimento
emotivo que, basicamente se caracteriza pela sensação de estar em contínua
tensão e emotivamente ‘vazio’ no relacionamento com os outros e com o
próprio trabalho; por altos índices de despersonalização, que se
caracteriza pela atitude negativa no relacionamento com as pessoas
destinatárias do serviço prestado; enfim, mesmo diante do exaurimento emotivo e
da despersonalização, as religiosas consagradas se descrevem com altos índices
de realização pessoal.
Mas,
podemos nos perguntar : quem são as irmãs religiosas consagradas em que o
burnout se manifesta com maior frequência e intensidade? Se consideramos as
religiosas consagradas que responderam à pesquisa, são as mais jovens (até 40
anos, quanto mais jovem, mais propensa ao burnout) e com menos tempo de votos
perpétuos. Esse perfil, muito mais que um dado cronológico, nos coloca dentro
de um período específico da formação permanente : os primeiros anos de votos
perpétuos, a chamada transição da formação inicial à formação permanente
(Sanagiotto & Pacciolla, 2022).
Bom,
e qual é o papel da vida de comunidade? Os dados da pesquisa nos indicaram que,
quanto maior for o nível da satisfação com a vida em comunidade, maior serão os
recursos disponíveis para lidar com a síndrome de burnout, especialmente o
exaurimento emotivo e a despersonalização; além disso, uma boa qualidade de vida
em comunidade possibilita o aumento nos níveis de realização pessoal.
Para
a vida religiosa consagrada, a vida comunitária é um elemento essencial, faz
parte do DNA viver e conviver em comunhão. Nos diversos trabalhos apostólicos
onde as religiosas consagradas estão inseridas, muitas vezes se lida com vidas
muito fragilizadas e que absorvem as energias e se não encontramos um espaço
saudável para reabastecer nossas forças humanas cedo ou tarde as consequências
virão. Investir em relações saudáveis gera vida intra e extra comunidade.
E tudo isso nos é confirmado pelas pesquisas empíricas.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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