Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de
Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘A
questão hermenêutica do Ocidente não pode ser vista sem a sua preocupação com o
texto bíblico por parte do povo judeu. A história judaica é contada a partir da
sua relação com Javé e não deve ser desassociada dessa característica.
Diante
dos diversos eventos históricos que aconteceram ao povo, tais como o primeiro
Êxodo, quando o povo de Israel deixa o Egito, a presença da monarquia que se
inicia com Saul e segue até o exílio na Babilônia, passando pelo período
pós-exílio e os períodos de dominação egípcio, grego e romano, surge então uma
necessidade espiritual por parte do povo de interpretar sua história, bem como
seu livro sagrado, a Torá, que a fornece a ‘plena verdade necessária à vida
do homem’.
Nesse
sentido, é importante considerar que essa hermenêutica não tem um caráter
filosófico, mas sim espiritual. Assim, dentro da hermenêutica judaica, como bem
nos mostra Jearond, é possível identificar quatro métodos de interpretação : a
literária, que de maneira mais simples consistia na interpretação do
deuteronômio, partindo do pressuposto de que a interpretação do texto era o que
estava escrito, a midrashica, que posteriormente desenvolvida, tinha o intuito
de extrair do texto algo que a mais do que sua simples imediatez, a pésher,
usado nas comunidade de Quram, cujo objetivo estava em descobrir os mistérios
divinos, sendo uma atualização do método midráshico e alegórico, que tinha como
intento uma leitura mais simbólica do texto da Torá.
O
Cristianismo, que nasce dentro desse contexto de interpretação, desenvolveu a
interpretação tipológica, ou seja, os textos judaicos eram lidos a partir do
evento Cristo. Com a luta contra os gnósticos, duas escolas de interpretação
surgem no meio cristão. De um lado, a escola de Alexandria que, ancorada na fé
da Igreja, tinha o intuito de uma interpretação arraigada no método alegórico,
sendo Orígenes um dos grandes expoentes dessa escola.
Do
outro lado, a escola de Antioquia, mais fundada na tradição judaica, dava
ênfase ao campo gramatical e textual das Escrituras, tendo sido um de seus
teólogos Teodoro de Mapsuéstia denunciador do perigo da hermenêutica de
Orígenes de negar a realidade da história bíblica. Ainda que as duas escolas
trabalhem com paradigmas bem diferentes, ‘esses dois paradigmas não foram
jamais observados de forma estritamente separados dentro da Igreja primitiva’.
Dentre
os diversos teólogos que se aventuraram no campo de uma hermenêutica do texto
bíblico, ora defendendo uma escola, ora defendendo outra, foi Agostinho o
grande responsável por sintetizar as linhas de pensamento de Alexandria com a
de Antioquia. Sua proposta foi fazer uma análise detalhada do texto para melhor
compreender seu sentido espiritual. Como a coisa é diferente daquilo que ela se
refere, as Escrituras devem ser vistas como produção humana que faz referência
a Deus.
Seguindo
Agostinho, as Escrituras poderiam, então, serem trabalhadas de forma análoga às
formas de trabalho com textos não cristãos e ser interpretada usando os mesmos
métodos utilizados para análises textuais. Uma vez que sua perspectiva para a
interpretação do texto bíblico deve ser o amor e não o texto por si mesmo,
pode-se dizer que a leitura hermenêutica de Agostinho se centra na prática.
Esse
simples percurso mostra as diversas teias necessárias para se compreender a
questão hermenêutica no cristianismo. Investir nisso é, ainda hoje, uma tarefa
teológica de suma importância.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1577087/2022/05/um-pequeno-percurso-hermeneutico-no-ocidente/
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