Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘Uma das características comuns
presentes nos momentos de crise é a sensação de que ela nunca passará. Cada dia
é demorado demais, uma semana nos dá a impressão de um mês e perdemos essa
noção de quanto tempo realmente já se passou desde que determinada crise
começou.
Nesse cenário, é comum que várias
pessoas sucumbam ao desespero e à desesperança por não vislumbrarem nenhuma
saída possível naquele momento em que desejariam já tê-la em mãos. Embora ambas
as palavras, etimologicamente, queiram dizer a mesma coisa, em nossa linguagem
ordinária se tende a colocar o desespero como sendo algo mais urgente, enquanto
a desesperança seria uma atitude mais passiva. No entanto, essas duas palavras
derivam do latim : de, ‘sem’; sperare/esper, ‘esperança’,
de maneira que o desespero é característica de todo aquele que perdeu a
esperança em algo.
Ao mesmo tempo, a experiência também
nos mostra que uma das características do desespero é buscar soluções rápidas
e, não dificilmente, buscar atalhos para resolução das questões que nos
afligem. Assim, não é difícil observamos que são diversas as pessoas que buscam
soluções milagrosas para as crises e, muitas vezes, na ânsia de encontrá-las
rapidamente, tomam decisões sem muita reflexão e acabam encontrando mais
problemas do que soluções.
Que tais circunstâncias sejam pratos
cheios para charlatões da fé nos parece claro. Uma vez identificada, à pessoa
vulnerável e que está disposta a dar tudo o que tem para sair de determinada
crise, basta oferecer uma solução espiritual e que conta com o auxílio divino
mediante o pagamento de alguma ‘oferta de amor’, ‘ato de fé’, ou
qualquer outro nome que remeta à uma relação com alguma divindade, e pronto.
Consegue-se uma nova fonte de exploração e, quiçá, um prosélito.
Por outro lado, os momentos de crises
também podem se tornar oportunidades de grandes reflexões e autoconhecimento
para aqueles e aquelas que conseguem, apesar de tudo, fazer isso. Olhar para
dentro, procurar as motivações, perguntar-se honestamente sobre o porquê de
determinadas posturas e comportamentos são questões comuns dos momentos de
crise que, bem direcionados, podem resultar numa melhora considerável na
qualidade de vida, e até mesmo, possibilitar vislumbrar e planejar a vida após
o período de crise. Nesse sentido, a ajuda psicológica, oferecida por
profissionais, pode cooperar muito.
Ao contrário do que muitos podem
pensar, crises existenciais não são sinais de falta de fé, ou de afastamento de
Deus e, muito menos, de fraqueza espiritual ou psicológica. Muito pelo
contrário, nos textos bíblicos há inúmeros exemplos de profetas, reis, juízes
que entraram em crises (Elias, Jeremias, Jonas, Davi, Ezequias, Gideão, somente
para citar alguns). Como mostram as escrituras, nenhum deles foi condenado por
isso. Antes, Deus se colocou ao lado dessas pessoas, instando para que fossem
fortes, resistissem, recobrassem a esperança, uma vez que a crise não é para
sempre e, uma hora, ela haveria de passar.
Nesse sentido, os apocalipses bíblicos
(Daniel e João) trazem essa mensagem de esperança de que a perseguição, a dor e
o sofrimento não são sem fim e, mesmo que passemos por elas, na perspectiva
cristã, Deus não se mostra distante, mas caminha conosco nos fortalecendo e nos
motivando a continuarmos firmes.
Sofrer com as crises é algo humano e
não há nada de errado com isso. Na perspectiva cristã, cremos que o momento que
passamos não é para sempre e que Deus não está acima de todos, como clamam os
negacionistas que se dizem cristãos, mas entre nós, na caminhada. Esse é o motivo de nossa esperança.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1506583/2021/03/crises-entre-o-desespero-e-esperanca/
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