domingo, 3 de novembro de 2019

Quando puderes, cala-te!

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Marta Arrais,
cronista


‘O barulho está na moda. Estão na moda os arraiais, as festas e todos os convívios que impliquem ruído em excesso. Refugiamo-nos em ambientes onde o volume pode ser ampliado para o máximo. De preferência, ampliado a ponto de não conseguirmos ouvir os que estão conosco. O barulho faz-nos esquecer do que nos preocupa e do que nos consome os dias. Faz-nos ouvir uma voz que não é a nossa e que não mora dentro de nós. Assim é fácil. O som distrai-nos. Abstrai-nos e deixa-nos ilusoriamente felizes. Durante o tempo em que não nos ouvimos, não precisamos de pensar, de lidar com assuntos mais ou menos difíceis.

O silêncio não está na moda o suficiente. Se estamos calados, haverá sempre quem pergunte se nos dói alguma coisa ou se há alguma nuvem a toldar-nos o pensamento. Se não dizemos nada, é porque amuámos. Porque estamos tristes. Porque estamos zangados. Porque estamos num dia não. O que não podemos é estar calados por estar.

Acaba por ser estranha e curiosa a forma como aceitamos o ruído que nos deixa surdos e rejeitamos e estranhamos o silêncio.

Carros. Buzinas. Música alta. Guitarras. Mensagens que caem no telefone. Notificações. Gente que fala do lado de lá da televisão sem dizer nada. Motores. Travagens. Obras. Máquinas. Bebés que choram na rua. Crianças que fazem birras demasiado audíveis. Portas que fecham. E que se abrem.

Falta-nos sossegar. Encontrar forma de querer tanto fazer silêncio como quem quer ir a um concerto, a um espetáculo ou a um arraial.

Falta-nos fazer marcha atrás. Dizer aos outros que estamos calados porque o barulho nos faz ficar velhos mais depressa e nos deixa mais apressados do que devia.

Falta-nos sentar num sofá, numa cadeira ou num banco como quem poisa. Como quem chegou onde devia ter chegado. O descanso também é um lugar e nunca lá está ninguém.

Falta-nos falar menos. Dizer menos sobre o que não sabemos.

Falta-nos olhar como quem diz coisas.

Falta-nos reparar como quem ama as coisas que vê e que, de alguma forma, também são suas.

Se o descanso é um lugar e nunca está lá ninguém, que tal irmos juntos e fazes-me companhia?’


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