Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Estamos,
talvez, no início do século V antes de Cristo. A história que
encontramos no livro de Job interroga-nos acerca de um dos grandes mistérios da
vida : por que sofre uma pessoa que é justa e que sempre fez o bem?
Essa
pergunta não nos apoquenta só a nós, cristãos. É um mistério da vida que
interroga todos, sejam eles de que religião forem, e mesmo quem não segue
nenhuma crença religiosa.
Este
livro da Bíblia está escrito de maneira bastante complexa, mas não vamos
estudá-lo aqui. Indico só alguns elementos importantes que nos podem ajudar na
nossa reflexão sobre a relação entre a nossa fé cristã e as outras religiões do
mundo.
Em
duas ou três pinceladas, a história de Job apresenta-o como um famoso homem bom
e justo, que fazia em tudo a vontade de Deus, e Deus tinha-o premiado com
saúde, uma família grande e muitas riquezas.
Depois
aparece Deus, que faz uma reunião de todos os seus filhos celestes, entre os
quais um que dá pelo nome de Satanás! E é este último que conta como, passeando
pela terra, deu com este tal Job. E é o mesmo Satanás que desafia Deus : não
admira que Job te seja fiel e viva uma vida santa; mas será que continuará a
servir-te fielmente se vier a encontrar-se na pobreza, na solidão e na dor?
Deus aceita o desafio, e as desgraças começam a cair sobre o grande justo : as
suas riquezas ficam reduzidas a cinza, depois perde os filhos, um atrás do
outro e, para cúmulo, apanha uma doença terrível que lhe cobre o corpo de
chagas. Os amigos, e mesmo a esposa que desde sempre partilhava a sua vida feliz,
tentam convencê-lo de que Deus o abandonou e que é melhor que também ele
abandone Deus. Contra tudo e contra todos, no meio do seu sofrimento imenso,
Job chega quase a insultar a Deus, mas decide finalmente que Deus é o Senhor de
tudo, Deus sabe o que faz, e não toca a um homem julgar o criador que lhe deu a
vida. A seu tempo, Deus recompensa Job pela sua fidelidade total mesmo na
miséria, na solidão de quem perdeu a família, e na doença.
Numa
época em que o povo de Israel enfrentava o desafio de continuar fiel à Aliança
com Deus, mesmo no tempo de tremendas dificuldades no presente e das grandes
incertezas do futuro, a história de Job renovou a fé e a esperança em muita
gente.
Dizem-nos
os estudiosos que o autor deste livro tinha viajado pelo Egito e outros países
do Médio Oriente e por lá tinha escutado esta história do grande justo. De fato,
antes de chegar a Israel, esta história pertencia à religião de um outro povo,
mas Deus fez com que ela se tornasse Sua Palavra também para os membros do seu Povo
Eleito. Deus usou um ‘pedaço de Escritura’ de uma outra tradição
religiosa para ensinar alguma coisa de importante ao povo de Israel. Na Bíblia
encontramos outros textos que também vieram ‘de fora’. Deus é o Deus de
toda a humanidade e pode usar elementos do caminho religioso de um povo para
servir de ensinamento a outro povo.
Também
nós, como Job, o Grande Justo, precisamos de dizer «o homem não pode julgar
a Deus seu Criador» e aceitar com alegria os dons que Deus nos envia, seja
qual for a sua origem.’
Fonte
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